O CAMINHO CERTO
“Ensine seus filhos no caminho certo, e, mesmo quando
envelhecerem, não se desviarão dele.” Provérbios, 22:6 NVT
Ah, o famoso “Faça o que eu digo, não o que eu faço.”
É uma expressão intrigante, não é mesmo? Ela parece contraditória à primeira
vista, mas tem raízes profundas na sabedoria popular. Lembro-me de uma velha
conhecida que costumava repetir esse jargão para suas filhas. Era como um
atalho para transmitir lições importantes sem necessariamente seguir à risca o
próprio conselho.
O texto de provérbios diverge dessa chamada “sabedoria
popular”, apresentando, no mínimo, duas orientações relevantes para os
pais: a existência de um caminho correto e a importância de ensinar aos filhos,
não apenas sobre esse caminho, mas no caminho.
O primeiro passo é identificar o caminho correto. A Bíblia
oferece orientações valiosas sobre o caminho que devemos escolher. Ela nos ensina que existem dois tipos de
caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. O caminho da vida é aquele
que leva à justiça, à equidade e à comunhão com Deus. Por outro lado, o caminho
da morte é trilhado pelos pecadores e ímpios, levando ao sofrimento e à
separação de Deus. Portanto, é crucial escolher sabiamente e seguir os
preceitos divinos para alcançarmos a vida eterna. "Há caminhos que a pessoa
considera corretos, mas que acabam levando à estrada da morte." Provérbios
14:12 NVT
O salmista expressa de forma tão bela a busca pelo caminho
perfeito, revelando aquele que nos leva à presença de Deus e à plenitude da
vida. O versículo de Salmos 18:30 é uma verdade inspiradora: “O caminho de
Deus é perfeito; as promessas do Senhor sempre se cumprem; ele é escudo para
todos que nele se refugiam.” Quando seguimos o caminho de Deus, encontramos
não apenas perfeição, mas também proteção, orientação e paz. É como se Ele nos
guiasse passo a passo, mesmo quando enfrentamos desafios ou incertezas. A
confiança nesse caminho nos sustenta e nos fortalece. Na Bíblia, encontramos
exemplos de homens e mulheres que buscaram seguir os caminhos do Senhor.
Abraão, Moisés, Rute, Davi e muitos outros encontraram significado e propósito
ao caminhar com Deus, assim como foi também com Enoque. A passagem em Gênesis
5:24 nos diz que “Enoque andou com Deus e já não era, porque Deus o tomou
para si.”
O segundo passo está na transmissão da herança. O texto de
Deuteronômio 6:7 enfatiza que os pais devem ensinar os mandamentos e estatutos
do Senhor aos seus filhos de maneira constante e em diferentes momentos da vida
cotidiana. É um chamado para que a fé e os princípios sejam parte integrante do
dia a dia da família. “Repita-as com
frequência a seus filhos. Converse a respeito delas quando estiver em casa e
quando estiver caminhando, quando se deitar e quando se levantar.”
Ensinar a criança “no caminho” difere
significativamente de ensinar a criança “o caminho”. A expressão “no
caminho”, em hebraico (עַל), sugere em um de seus muitos significados o de estar
“ao lado de” ou “junto com”. Quando instruímos uma criança “no
caminho”, estamos, de fato, caminhando ao lado dela. É um convite para sermos
guias ativos e presentes em sua jornada. Ensinar “no caminho” envolve não
apenas palavras, mas também ações. Nossos filhos aprendem muito observando como
vivemos, como tratamos os outros e como enfrentamos desafios. Essa expressão
hebraica (עַל) sugere que estamos junto com a criança, compartilhando
experiências, valores e princípios, sobretudo os espirituais. É um compromisso
de estar ao lado dela, não apenas como instrutores, mas como companheiros.
Por outro lado, ensinar a criança “o caminho” implica
transmitir conhecimento específico, direcionando-a para princípios e verdades. Aqui,
o foco está na instrução objetiva. Estamos comunicando o que é certo, o que é
verdadeiro e o que é importante. O verso que mencionou (Provérbios 22:6) exorta
os pais a ensinarem seus filhos. No entanto, ele também destaca a importância
do testemunho. Que possamos ser modelos autênticos, compartilhando tanto
instrução quanto testemunho, para que nossas crianças cresçam com sabedoria e
integridade.
Jesus, como nosso maior exemplo, não apenas falava sobre o
que era certo; Ele vivia isso. Assim como Jesus, alguns servos do passado
tinham em suas vidas testemunhos vivos daquilo em que acreditavam e ensinavam.
Muitas vezes, são esses exemplos que moldam e transformam as pessoas ao nosso
redor.
Para reforçar esse entendimento, Deuteronômio 11:19 nos
orienta da seguinte forma: “Ensinai-as a vossos filhos, falando delas
assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e
levantando-vos.”(ARA). Esse ensino se aplica tanto ao curso da vida quanto
ao caráter moral.
Concluímos, portanto, que, de acordo com princípios
bíblicos, o famoso ditado “Faça o que eu digo, não o que eu faço” perde totalmente
sua validade pedagógica.
Devemos ser conscientes de nossas próprias ações e escolhas,
pois ser modelos positivos para aqueles que nos cercam, em especial nossos
filhos, é essencial. Nosso comportamento e testemunho falam mais alto do que
qualquer discurso, superando até mesmo as palavras. Ações concretas e
demonstrações práticas têm um impacto profundo em nossas vidas e nas vidas dos
outros. É como se a verdade ganhasse vida quando a vivemos. Mesmo com todas as
nossas imperfeições como pais, a responsabilidade de transmitir valores e fé
aos nossos filhos é algo que atravessa gerações; é algo que não pode ser
terceirizado. Trata-se do cuidado com a herança que o Senhor nos concedeu.
Afinal como disse o salmista: os nossos filhos são um presente que recebemos do
Senhor, é uma recompensa que Ele dá. (Salmos 127:3)
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
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