UM LEGADO QUE
PERMANECE
“Eu o escolhi para que ordene aos seus filhos e aos
seus descendentes que guardem o caminho do Senhor, fazendo o que é justo e
direito.” Gênesis 18:19 (NVI)
Num mundo onde tudo muda tão rápido e os valores parecem se
perder entre uma geração e outra, transmitir fé, princípios e experiências com
Deus é mais do que simplesmente contar histórias. É plantar raízes profundas
que ajudarão nossos filhos e netos a permanecerem firmes quando os ventos da
vida soprarem forte. Não se trata de querer que eles repitam nossos passos, mas
de prepará-los para irem além de nós — com mais fé, mais sabedoria e mais
sensibilidade à voz do Senhor.
Na Bíblia, temos dois exemplos que mostram como o legado de
uma geração pode influenciar a próxima de maneira totalmente oposta. O primeiro
é o rei Ezequias. O segundo, Abraão. Ambos tiveram experiências reais com Deus.
Ambos viram a mão do Senhor agir em suas vidas. Mas deixaram heranças
espirituais muito diferentes.
Ezequias foi um rei que presenciou milagres e desfrutou da
fidelidade de Deus em momentos difíceis. No entanto, falhou quando se tratava
de preparar a próxima geração. Ele cuidou bem do seu tempo, mas negligenciou o
que viria depois. Quando o profeta Isaías anunciou que, após sua morte, haveria
destruição e exílio, sua resposta foi surpreendente: “Haverá paz e
segurança enquanto eu viver” (2 Reis 20:19). Em outras palavras, ele se
conformou com o bem-estar de sua própria geração e ignorou completamente o
futuro de seu povo.
A consequência dessa indiferença foi devastadora. Seu filho
Manassés assumiu o trono e se tornou um dos reis mais perversos da história de
Judá. Introduziu a idolatria, promoveu práticas abomináveis e conduziu o povo
ao afastamento de Deus. Um pai que viveu milagres não conseguiu transmitir
sequer a base da fé ao filho. E isso nos ensina que não basta ter uma vida com
Deus — é preciso intencionalmente deixar um legado que continue depois de nós.
Quando Deus disse a Ezequias: “Põe em ordem a tua casa”
(Isaías 38:1), não estava falando de móveis ou da administração do palácio. A
ordem era espiritual. Era uma convocação à responsabilidade familiar. Um
chamado para alinhar valores, reafirmar princípios e preparar a próxima
geração. Mas Ezequias preferiu o conforto imediato à responsabilidade futura.
Já Abraão escolheu um caminho diferente. Em Gênesis 18, Deus
declara: “Eu o escolhi para que ordene aos seus filhos e aos seus
descendentes que guardem o caminho do Senhor.” Abraão não viveu apenas
para usufruir das bênçãos de Deus. Ele entendeu que sua aliança com o Senhor
precisava alcançar seus filhos e os filhos de seus filhos. Ele transmitiu fé,
cultivou obediência e apontou o caminho da promessa mesmo sem ver o cumprimento
completo dela.
Esse compromisso foi tão verdadeiro que atravessou gerações.
No Novo Testamento, o autor de Hebreus afirma que Abraão e seus descendentes
viveram pela fé e reconheceram que eram apenas peregrinos na terra (Hebreus
11:13). O legado que ele deixou ainda inspira milhões. A herança que transmitiu
não foi uma terra ou uma riqueza, mas uma maneira de andar com Deus que
resistiu ao tempo.
Você e eu somos frutos desse legado deixado por Abraão. A
promessa feita a ele atravessou gerações, culturas e continentes, alcançando
até nós. Somos parte dessa história de fé porque ele escolheu obedecer, mesmo
sem ver todas as promessas cumpridas. Como está escrito: “Assim também
Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça. Portanto, saibam
que os que são da fé, esses são filhos de Abraão.” Gálatas 3:6-7 (NVI).
A fé que hoje nos sustenta começou a ser vivida lá atrás, na
tenda de um homem que ouviu a voz de Deus e respondeu com obediência. Ele não
pensou apenas em si, mas nas futuras gerações. E por causa disso, hoje temos
acesso à mesma graça, ao mesmo Deus e à mesma esperança.
Mônica, mãe de Agostinho de Hipona, orou por ele por muitos
anos antes de sua conversão. A influência da oração perseverante de Mônica foi
tão significativa que o próprio Agostinho reconheceu que sua salvação se devia,
em grande parte, às lágrimas e orações constantes de sua mãe.
Tudo isso nos desafia a pensar no que estamos deixando. O
que os nossos filhos verão em nós? Que marcas vão carregar por causa do nosso
testemunho? Estamos apenas desfrutando da paz do nosso tempo ou semeando fé
para os que virão depois? O nosso maior legado não é o que construímos com as
mãos, mas o que ensinamos com o coração.
“Viver para Deus é
bom. Ensinar os filhos a fazerem o mesmo é eterno. Só o que é transmitido em fé
permanece quando o tempo passa e o mundo muda.”
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
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