“E o Senhor
restaurou a sorte de Jó... e deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra.”
Jó 42:10 (NAA)
A contabilidade é
conhecida como uma ciência exata. Um mais um é dois, e não tem jeito mesmo.
Todo crédito corresponde a um débito, e assim se fecha a conta com precisão. Os
números não mentem, e tudo precisa estar devidamente registrado para que se
diga: a conta está certa. No entanto, no Reino de Deus, ainda que
lidemos com realidades eternas e mistérios profundos, o princípio da justiça e
da perfeição permanece absoluto. A diferença é que, na contabilidade divina, há
espaço para a graça, e isso muda tudo.
A matemática de
Deus é fascinante. Um mais um continua sendo dois — como no casamento, quando o
Senhor afirma que os dois se tornam uma só carne. Duas vidas que se unem e, aos
olhos de Deus, passam a ser uma unidade sagrada. A Trindade é outro exemplo sublime:
três Pessoas divinas, e ainda assim, um único Deus. São mistérios que escapam
ao entendimento humano, mas não ao controle perfeito do Criador.
O caso de Jó é
talvez um dos exemplos mais profundos da contabilidade celestial. Após perder
tudo — bens, saúde e filhos —, Deus promete restituir-lhe em dobro. E cumpre.
Jó recebe o dobro de ovelhas, camelos, bois e jumentas. Sua saúde é restaurada,
sua reputação também. Mas quando lemos que ele teve novamente sete filhos e
três filhas, surge a pergunta: “Mas não deveria ser o dobro? Por que não
quatorze filhos e seis filhas?”
É aí que entra a
matemática do céu. Os filhos que Jó havia perdido não foram apagados da
existência — apenas partiram antes. Ainda pertenciam a ele, vivos diante de
Deus. Quando Jó recebeu mais dez filhos, ele passou a ter, no total, vinte: dez
ao seu lado, dez na eternidade. Deus não erra nas contas. O que Ele promete,
Ele cumpre — ainda que nem tudo seja imediatamente visível aos nossos olhos.
Charles Spurgeon,
refletindo sobre esse trecho, disse que os filhos de Jó não estavam perdidos,
mas haviam sido confiados às mãos de Deus. Jó, portanto, não ficou com apenas
dez filhos no final, mas com vinte — metade com ele na terra, metade já no céu.
Matthew Henry seguiu a mesma linha de pensamento ao escrever que os primeiros
filhos não foram ressuscitados, mas, como crentes, estavam vivos com Deus, e
por isso a restituição era completa. John Gill também comenta que os filhos não
foram duplicados no número presente, mas no total, sim — considerando que os
anteriores não deixaram de existir. E John Piper, mesmo sem se deter
diretamente nesse trecho, afirma que Deus pode restaurar o que foi perdido de
maneiras que só a eternidade revelará. Nem toda promessa é plenamente percebida
nesta vida, mas nenhuma ficará por cumprir.
Essas reflexões nos
ajudam a entender algo essencial: o plano de Deus não se limita ao tempo.
Ele trabalha com a eternidade. Nós enxergamos perdas; Deus vê separações
temporárias. Nós contamos apenas o que conseguimos tocar; Deus conta também o
que permanece com Ele. Por isso, a restituição de Jó é não apenas material, mas
espiritual, completa, eterna. E isso nos ensina a confiar, mesmo quando não
entendemos os caminhos pelos quais Ele nos conduz.
O mais belo na
contabilidade divina é que ela não é regida apenas pela exatidão, mas pela
misericórdia. Em Cristo, a dívida que era nossa foi paga com perfeição. Nenhuma
falha nossa escapou ao olhar de Deus — e ainda assim, Ele nos ofereceu perdão,
reconciliação e herança. A graça de Deus soma onde não há mérito, subtrai o que
nos condenava, multiplica o que recebemos, e reparte conosco bênçãos eternas.
As coisas de Deus
realmente parecem loucura para os que não creem. Mas para os que andam pela fé,
cada detalhe da vida mostra que Deus não falha nos cálculos. Ele não apenas
fecha a conta com precisão — Ele a fecha com amor. E quando parece que algo não
foi restituído, é porque estamos usando a calculadora errada. Só os olhos da
eternidade conseguem ver a conta completa.
“A contabilidade de Deus nunca erra: o
que parece ausência, na eternidade é soma; o que parece perda, no céu é apenas
uma espera.”
Que Deus, nosso
Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.
Pr. Décio Fonseca
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