QUANDO O SENHOR SE RETIRA

“Mas ele não sabia que o Senhor já se havia retirado dele.” Juízes 16:20 (NAA)

É uma honra indescritível sermos morada do Espírito Santo. O Criador do universo decidiu habitar dentro de nós — gente comum, cheia de limitações, mas lavada pelo sangue de Jesus. Isso é pura graça: favor que não merecemos. No entanto, junto com esse privilégio vem uma advertência séria. O Espírito que habita em nós pode ser entristecido, ignorado e, se insistirmos no pecado, silenciado.

A história de Sansão nos mostra isso de forma impressionante. Desde o ventre, ele havia sido separado por Deus. Era cheio do Espírito e possuía uma força incomum. Mas, em vez de usar esse dom para cumprir o propósito divino, ele escolheu viver do seu jeito, seguindo seus impulsos. Brincou com o pecado, menosprezou os avisos, confiou demais em si mesmo. Quando foi atacado, disse: “Sairei como antes e me livrarei.” Mas o Senhor já havia se retirado — e ele nem percebeu. Sua força se foi, e ele se tornou igual a qualquer outro homem. A ausência de Deus transforma gigantes em prisioneiros, e promessas em ruínas.

Essa história nos leva a uma pergunta séria: o que acontece quando Deus se retira? A Bíblia e a vida nos mostram a resposta. A aparência até pode continuar a mesma — cultos, pregações, atividades — mas algo vital se perde: a presença. Sem ela, tudo vira ritual vazio. Foi assim nos dias de Ezequiel, quando a glória do Senhor se afastou do templo, e ninguém notou. Continuaram adorando, mas Deus já não estava mais lá.

Sem a presença do Espírito, perdemos a sensibilidade. O que antes nos tocava, já não comove. Pecados que geravam lágrimas agora são vistos com naturalidade. O arrependimento cede lugar à indiferença. A consciência se adormece. A verdade se torna relativa, e o coração se esfria. Onde antes havia temor, agora há apenas agitação. Onde havia unção, agora há performance. Discursos bonitos ocupam o lugar da Palavra viva. A emoção substitui a conversão. As pessoas se comovem, mas não mudam. Cantam, aplaudem, elogiam, mas continuam presas aos mesmos pecados.

E há ainda um sintoma mais profundo: a perda da fome por Deus. Reuniões que antes eram esperadas com alegria agora parecem um peso. Jovens desmotivados, irmãos e irmãs ausentes, cultos esvaziados de fervor. Quando o Espírito se retira, o povo perde o apetite espiritual. Não há mais sede de oração, nem desejo pela Palavra. Fica tudo mecânico, repetitivo, cansado. É como uma fonte que secou, mas ninguém quer admitir.

E o mais assustador: às vezes, a ausência de Deus é tão sutil que ninguém percebe. Como aconteceu com Sansão. Ele achava que tudo estava normal. Mas o Espírito já havia partido. Isso pode acontecer com uma igreja. Com uma família. Com uma vida. Quando o brilho da presença de Deus é trocado por holofotes, e o altar é substituído pelo palco, é sinal de que algo se perdeu no caminho.

Mas ainda há esperança. O Deus que se retira por causa do pecado volta quando encontra arrependimento. Sansão, mesmo cego e humilhado, fez uma última oração: “Senhor, lembra-te de mim!” E Deus o ouviu. Porque onde há quebrantamento, a graça encontra espaço para agir. Onde há sinceridade, a presença volta.

Hoje, mais do que nunca, precisamos clamar como Davi: “Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito.” (Salmo 51:11). Precisamos valorizar a presença de Deus mais do que qualquer talento, estratégia ou estrutura. Porque, quando Ele está presente, até os desertos florescem. Até os fracos se levantam. Até os mortos revivem.

Que nossa oração diária seja: “Senhor, não nos deixes seguir sem a Tua presença.” Porque sem ela, tudo é vaidade. Mas com ela, tudo encontra sentido. Que o Senhor nunca se retire de nós — e que jamais nos acostumemos a viver sem a doce presença do Espírito.

 “Quando o Espírito se vai, até os fortes se perdem. Mas onde Ele habita, até os fracos se tornam instrumentos da glória de Deus.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

01/ago/25


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