“Quando o
Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.” Salmo
126:1 (NAA)
Este salmo é uma
canção de peregrinos — entoada por aqueles que subiam a Jerusalém nas grandes
festas religiosas. Enquanto caminhavam em direção à cidade santa, seus lábios
se enchiam de cânticos que expressavam alegria, esperança, gratidão e fé. O
Salmo 126, em especial, celebra o retorno do povo após um tempo de exílio e, ao
mesmo tempo, clama por novas intervenções divinas. Mas quando olhamos para esse
texto com olhos espirituais, percebemos que ele fala de algo ainda mais
profundo: o retorno do coração humano à presença do Pai.
Muito mais do que
um retorno geográfico, trata-se de uma restauração espiritual. Jerusalém era o
lugar da adoração, o símbolo da comunhão com Deus. Assim, este salmo aponta
profeticamente para a obra redentora de Cristo, que nos tirou do cativeiro do
pecado e abriu novamente o caminho para a presença de Deus. É sobre isso que
este salmo canta — e é disso que nosso coração também precisa cantar: a alegria
de estar de volta ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído — o colo do Pai.
Jerusalém, afinal,
era o lugar da adoração, onde a glória de Deus habitava. No princípio, o ser
humano foi criado para viver em comunhão com o Senhor, mas o pecado rompeu essa
ligação. O que antes era plenitude se transformou em separação. Porém, por meio
do sacrifício de Cristo, o caminho de volta foi aberto. Fomos reconciliados com
o Pai. Por isso o salmista exclama: “Ficamos como quem sonha.” É
a linguagem de quem experimenta algo tão grandioso que parece irreal — o
retorno à presença do Deus vivo.
Essa restauração
produz uma alegria profunda, espontânea, incontida. O versículo 2 nos diz que “então
a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo”. Quando o
Senhor nos resgata, quando sentimos o peso da culpa sendo removido, quando a
graça nos alcança, o riso e o louvor brotam naturalmente. Essa alegria não se
limita ao íntimo — ela se expressa, se espalha, se torna visível. As pessoas ao
nosso redor percebem, e até mesmo os que estão distantes reconhecem: “Grandes
coisas fez o Senhor por eles.” A ação de Deus na vida do Seu povo é tão
marcante que se torna um testemunho público. A restauração que começa no
coração acaba sendo vista no rosto, nas atitudes, na história.
E no versículo 3, o
salmista reafirma: “Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós, por
isso estamos alegres.” Dentre todas essas grandes obras, a maior de
todas é a nossa salvação. Hebreus 2:3 a chama de “tão grande salvação”
— e ela realmente é. Foi por meio do sacrifício de Jesus no Calvário que o
preço da nossa liberdade foi pago, a porta da reconciliação foi aberta e a
promessa da vida eterna foi concedida. Não há bênção maior do que essa. Essa é
a fonte da nossa alegria, o motivo do nosso louvor, a razão do nosso sorriso.
Tudo o que temos — perdão, paz, esperança, novo nascimento — flui da cruz e do
amor incondicional de Deus por nós.
O pecado e a morte,
que antes nos mantinham cativos, não têm mais domínio sobre nós. Em Cristo,
fomos libertos. Essa liberdade nos conduz à renovação da alma, ao florescimento
da vida e ao cumprimento do propósito de Deus.
O versículo 4
compara essa restauração à chuva que enche novamente os leitos secos dos rios
no deserto. Onde havia sequidão, agora há água viva. Não somos mais terras
áridas. Como Jesus disse à mulher samaritana, “aquele que beber da água
que eu lhe der, do seu interior fluirão rios de água viva.” É isso que
o Espírito Santo opera em nós: vida onde antes havia morte, plenitude onde
antes havia vazio.
Por fim, o salmo
encerra com uma linda imagem da perseverança e da recompensa. A jornada da fé
nem sempre é fácil. Muitas vezes obedecemos mesmo sem entender, sem ver
resultado imediato, semeando com lágrimas, enfrentando lutas, dores e
renúncias. Mas continuamos firmes, confiando na promessa. E o Deus que vê o
secreto honra nossa fé. O tempo da colheita chega — e com ele, a alegria.
Voltamos com os braços cheios de feixes, com o coração transbordando de
gratidão, cantando e celebrando o cumprimento da Palavra. A semeadura foi feita
com esforço, mas a colheita veio com júbilo. E isso nos lembra que tudo o que
fazemos em obediência a Deus não é em vão. "Portanto, meus amados
irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo
que, no Senhor, o trabalho de vocês não é vão." 1 Coríntios 15:58
(NAA)
A restauração
que Deus opera é tão profunda que nos faz sonhar, rir e cantar — porque Ele não
apenas nos tira do cativeiro, mas nos conduz de volta à Sua presença, onde há
colheita, alegria e vida abundante.
Pr. Décio Fonseca
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