ACESSIBILIDADE – O REINO DE DEUS É PARA TODOS

“Não amaldiçoe o surdo, nem ponha pedra de tropeço diante do cego, mas tema o seu Deus. Eu sou o Senhor.” (Levítico 19:14, NVI).

É louvável o que temos vivenciado em muitas de nossas igrejas no que diz respeito à inclusão e à acessibilidade. Iniciativas como a atuação das equipes de Libras, que garantem a participação das pessoas surdas nos cultos; a formação de classes voltadas para os idosos, respeitando seu ritmo e suas necessidades; e o atendimento diferenciado e sensível às crianças e adultos com autismo, revelam um avanço importante na compreensão de que o Reino de Deus é para todos.

Contudo, mais do que ações pontuais ou programas específicos, a acessibilidade precisa ser compreendida como um compromisso contínuo da igreja com a dignidade, o pertencimento e a valorização de cada pessoa, independentemente de suas limitações físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais. Não se trata apenas de acomodar, mas de acolher com intenção, equidade e amor.

A verdadeira acessibilidade começa no coração — e se manifesta na estrutura, na linguagem, na liturgia e na cultura comunitária. É a partir desse entendimento que somos convidados a refletir: será que nossas igrejas estão, de fato, acessíveis a todos? Será que nossas estruturas visíveis e invisíveis promovem ou impedem a participação plena?

A Bíblia, desde seus primeiros livros, já evidencia o cuidado de Deus com os que são facilmente excluídos. Em Levítico 19:14, encontramos um mandamento direto e profundo: “Não amaldiçoe o surdo, nem ponha pedra de tropeço diante do cego, mas tema o seu Deus. Eu sou o Senhor.”

Esse texto vai além do sentido literal — ele denuncia qualquer forma de negligência, desprezo ou indiferença que impeça alguém de viver com dignidade. Em um mundo que frequentemente transforma a diferença em obstáculo, Deus nos chama a sermos removedores de barreiras, tanto físicas quanto simbólicas, estruturais ou culturais.

Essa ênfase se repete ao longo das Escrituras. O profeta Isaías, por exemplo, anuncia um tempo de restauração plena: “Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se destaparão. Então os coxos saltarão como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria.”
(Isaías 35:5-6, NVI). Essa profecia aponta para o Reino de Deus que vem com cura, transformação e inclusão. Embora seja escatológica, ela nos inspira no presente a buscar uma sociedade — e uma igreja — mais justa, acessível e acolhedora.

Jesus também confronta os padrões de exclusão social ao dizer: “Mas, quando der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos.” (Lucas 14:13-14, NVI). Aqui, Ele inverte a lógica social, exaltando os que nada têm a oferecer em troca. A inclusão, portanto, não é um adereço do Evangelho, mas parte intrínseca da sua natureza.

O apóstolo Paulo reforça esse princípio de unidade e igualdade ao afirmar: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.”
(Gálatas 3:28, NVI). Essa declaração não apenas nivela todas as pessoas em Cristo, mas nos desafia a eliminar qualquer barreira que segregue. Isso, certamente, inclui pessoas com deficiência ou necessidades específicas.

Da mesma forma, Jesus ensina que toda ação de cuidado ao próximo reflete nossa relação com Ele: “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.”
(Mateus 25:40, NVI). Ou seja, o modo como tratamos os mais vulneráveis — inclusive os que vivem com limitações — revela o quanto compreendemos e vivemos o Evangelho.

E em Tiago 2:1-4, mesmo o contexto sendo a distinção entre ricos e pobres, o princípio da não discriminação é claro: “Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas [...]”. Esse princípio se estende a todas as formas de exclusão, reforçando que a igreja deve ser lugar de igualdade e acesso para todos.

Cabe a nós, como comunidade de fé, não apenas levantar questionamentos, mas assumir um compromisso real com a superação das barreiras que ainda persistem — muitas vezes de forma sutil, enraizadas na cultura ou na rotina da igreja. Com sabedoria, humildade e a orientação do Espírito Santo, somos levados a refletir sobre o quanto nossas igrejas têm sido, de fato, acessíveis.

Será que nossa acessibilidade se limita à estrutura física, ou também se estende ao acolhimento, à escuta sensível e à verdadeira inclusão na vida da comunidade? É fácil adaptar uma rampa, mas talvez mais difícil abrir espaço no coração e na cultura para valorizar quem é diferente.

Precisamos também avaliar se temos dado voz e oportunidade para que pessoas com deficiência participem ativamente com seus dons e ministérios. O corpo de Cristo é composto por muitos membros, e cada um deles é indispensável — não por piedade, mas por vocação e propósito divino.

Outra barreira que exige discernimento é a simbólica: gestos, palavras, práticas ou tradições que, mesmo sem má intenção, podem excluir. Às vezes, o que impede o pertencimento não é visível, mas silenciosamente doloroso.

Diante disso, somos desafiados a buscar com sinceridade aquilo que podemos melhorar, adaptar ou transformar — não por modismo, mas para que nossas igrejas reflitam, de maneira concreta, o caráter inclusivo, compassivo e justo do Reino de Deus.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

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