CONECTADOS, MAS SOZINHOS: O DESAFIO DA COMUNHÃO VERDADEIRA NA ERA DIGITAL

"E consideremos uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia" Hebreus 10:24-25 (NVI).

Lembro-me bem da década de 70, quando ainda namorava aquela que hoje é minha esposa. Durante seis longos meses, ficamos separados porque fui designado para um curso na cidade de Salvador. Naquela época, não havia mensagens instantâneas, chamadas de vídeo ou redes sociais para encurtar a distância. O que nos restava eram as cartas escritas à mão, que, felizmente, não demoravam tanto para chegar, pois eu utilizava o malote do banco onde trabalhava. Ainda assim, a comunicação não era imediata, e a espera por uma resposta gerava expectativa e saudade. Os telefonemas aconteciam tarde da noite, quando a tarifa era reduzida, e precisavam ser breves para não pesarem no orçamento. Cada troca de palavras tinha um significado especial, pois sabíamos o valor de uma comunicação genuína.

A tecnologia nos dá a impressão de que tudo está ao nosso alcance. Hoje, podemos conversar com familiares em qualquer parte do mundo como se estivéssemos ao lado deles. No entanto, essa proximidade digital muitas vezes não passa de uma ilusão. Falta a profundidade dos encontros reais, o calor humano que nenhuma tela pode reproduzir. Nada substitui o toque, o olhar direto ou o simples gesto de sentir o cheiro de quem amamos. Essas experiências sensoriais são essenciais para fortalecer os laços e tornar as conexões verdadeiramente significativas.

Esse cenário reflete uma transformação profetizada há séculos. A multiplicação do conhecimento e o avanço tecnológico foram previstos na Bíblia, e vemos isso claramente em nossos dias. Em Daniel 12:4, está escrito: "Mas você, Daniel, feche com um selo as palavras do livro até o tempo do fim. Muitos irão por todo lado em busca de maior conhecimento."

Vivemos tempos em que o conhecimento se multiplica rapidamente, a tecnologia avança sem precedentes, e as distâncias parecem desaparecer. No entanto, a sabedoria bíblica nos lembra que a verdadeira conexão não pode ser apenas virtual, mas deve ser vivida com profundidade e propósito.

Mas, deixando de lado o saudosismo e reconhecendo com gratidão as ferramentas que a ciência nos proporcionou para nos conectar com mais rapidez, vamos refletir sobre um aspecto ainda mais profundo e essencial: a conexão verdadeira. Aquela que transcende interações superficiais e efêmeras, algo cada vez mais raro em uma era marcada pela instantaneidade. Vivemos um tempo em que, apesar de estarmos constantemente conectados digitalmente, paradoxalmente, nunca nos sentimos tão solitários.

Como é precioso cultivar relacionamentos sólidos, fundamentados no amor, na lealdade e no cuidado mútuo. A Bíblia nos ensina sobre a importância da comunhão verdadeira. Em Provérbios 18:24, encontramos um ensinamento profundo: "Quem tem muitos amigos pode chegar à ruína, mas existe amigo mais apegado que um irmão."

Esse versículo nos lembra que a quantidade de amizades não garante a profundidade dos relacionamentos. No mundo digital, podemos ter centenas de conexões virtuais, mas isso não significa que temos laços genuínos e significativos. O verdadeiro amigo, aquele que permanece ao nosso lado nos momentos bons e ruins, é um tesouro raro e inestimável. Você tem um amigo assim?

Outro grande exemplo de conexão verdadeira é a comunhão dos primeiros cristãos, descrita em Atos 2:42: "Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações."  Aqui vemos que a comunhão verdadeira envolve compartilhar a vida, crescer juntos na fé e cuidar uns dos outros. Os primeiros cristãos não apenas se reuniam, mas tinham um compromisso de apoio mútuo, de caminhar juntos em amor e fé.

No ambiente digital, a rapidez das interações pode ser facilmente confundida com amizade verdadeira. Podemos ter muitas conexões, mas se não cultivarmos o cuidado, a empatia e o compromisso genuíno com os outros, nossos relacionamentos permanecerão superficiais.

A comunhão verdadeira exige tempo, presença e entrega. Mais do que mensagens e curtidas, ela se constrói com atitudes, com a disposição de ouvir, apoiar e estar presente quando alguém precisa. Jesus mesmo nos deixou o maior exemplo de amizade verdadeira ao dar a vida por nós. Ele não apenas nos ensinou sobre o amor e o companheirismo, mas demonstrou isso de forma prática, oferecendo-se por nós na cruz.

Por isso, devemos buscar conexões que tragam edificação, que nos aproximem de Deus e nos fortaleçam como indivíduos e como comunidade. Afinal, não fomos criados para viver isolados, mas para caminhar juntos em amor e verdade. E, acima de tudo, a amizade mais verdadeira e fiel que podemos encontrar está em Cristo, pois Ele mesmo nos disse: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos" (João 15:13, NVI).

Em um mundo de conexões passageiras, é em Jesus que encontramos um amigo fiel, que nunca nos deixa e sempre caminha ao nosso lado.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

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