ACIMA DO SOL: ONDE A VIDA GANHA SENTIDO

Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é essencial para o homem.” (Eclesiastes 12:13 – NVI)

O livro de Eclesiastes é um dos mais desafiadores e profundos de toda a Bíblia. Escrito por Salomão, o homem mais sábio que já viveu, ele nos convida a refletir sobre as grandes questões da existência. Ao longo dos seus capítulos, o pregador descreve suas observações sobre a vida, a rotina humana e a busca por significado. A primeira impressão é que o livro é um tanto pessimista. De fato, ele começa com a afirmação: “Tudo é vaidade.” Mas, na verdade, Eclesiastes não é uma declaração de desespero — é um chamado à sabedoria.

Uma das declarações mais impactantes está logo no início: “Ninguém se lembra dos que viveram no passado, e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados pelos que vierem depois deles.” (Eclesiastes 1:11). Quando lemos isso, somos levados a encarar uma verdade que costuma nos deixar desconfortáveis. Quantos de nós sabemos o nome dos nossos bisavós ou tataravós? E será que nossos próprios bisnetos lembrarão de nós? Essa constatação nos obriga a pensar: se tudo o que fazemos será esquecido um dia, então qual é o sentido de tudo isso?

Salomão chama essa realidade de “vaidade”. Em hebraico, a palavra usada é “hevel”, que significa vapor, fumaça, algo que aparece e logo desaparece. A vida, se olhada apenas com os olhos humanos, parece ser assim: passageira, confusa, cansativa. O autor reconhece que, mesmo diante de tantas realizações e conquistas, tudo parece correr em círculos. O sol se levanta e se põe. Os rios correm para o mar, e o mar nunca se enche. As rotinas se repetem. O homem trabalha, se cansa, e nada parece mudar de verdade. No verso 8, ele chega a dizer que todas as coisas são tão cansativas que não dá nem para descrevê-las.

Mas Salomão não estava simplesmente reclamando da vida. Ele estava ensinando uma lição profunda: o problema não está na vida em si, mas na forma como olhamos para ela. Quando vivemos apenas com os olhos fixos no que está “debaixo do sol” — ou seja, nas coisas visíveis, materiais, passageiras —, inevitavelmente caímos em frustração. O mundo gira, mas a alma continua vazia. "Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com o qual se afadiga debaixo do sol?" (Eclesiastes 1:3 – NVI)

E isso não é algo que acontece só com quem tem pouco. Salomão teve tudo: riquezas incontáveis, poder absoluto, fama, sabedoria, prazeres de todos os tipos. E mesmo assim declarou: “Não encontrei satisfação em nada do que está debaixo do sol.” Isso nos mostra que o vazio não é preenchido com coisas. Nem com sucesso. Nem com aplausos. Só existe uma forma de encontrar sentido verdadeiro para a vida: olhando acima do sol. Trocando a perspectiva terrena pela visão eterna – olhar para a eternidade.

Quando olhamos para a vida com os olhos voltados para Deus, tudo muda. A rotina deixa de ser apenas repetição e passa a ser renovação. As manhãs, antes cinzentas, se tornam oportunidades para experimentar as misericórdias que se renovam a cada dia. O trabalho, antes cansativo, passa a ser uma forma de servir a Deus e cuidar daqueles que amamos. A existência, antes um sopro vazio, passa a ter peso eterno. Porque já não vivemos apenas para o agora, mas com os olhos no que é eterno.

Sem Cristo, a vida é apenas uma sequência de dias que se acumulam. Com Cristo, a vida é cheia de propósito. Como disse o apóstolo Paulo: “Para mim, o viver é Cristo.” Isso quer dizer que a vida só ganha cor e sentido quando é vivida em comunhão com Aquele que nos criou. Ser lembrado pelos homens pode até ser algo bom, mas ser conhecido e amado por Deus é o que realmente importa.

O livro de Eclesiastes não é uma mensagem de desespero. É uma mensagem de alerta. Ele nos chama a não nos perdermos em ilusões passageiras. Ele nos convida a parar de buscar sentido em coisas que não têm poder de nos preencher. E, por fim, ele nos aponta o caminho: temer a Deus e obedecer aos seus mandamentos. Isso é essencial. Isso é o que vale a pena. Isso é o que permanece.

A vida abaixo do sol pode parecer cansativa. Mas a vida acima do sol — na presença de Deus — é cheia de sentido, alegria e esperança. E é lá que nosso coração precisa morar. Porque, no fim das contas, viver encantado com o Criador é muito mais prazeroso do que viver encantado com a criação.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

30/qua/abr/25

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