ENTRE JANELAS E
RESSURREIÇÕES: O CHAMADO PARA DESPERTAR
Eutico era apenas um jovem presente numa reunião
aparentemente comum. Mas o que acontece com ele naquela noite se transforma em
uma mensagem viva para todos nós, especialmente para os tempos em que vivemos.
À primeira vista, Atos 20:7-12 parece apenas relatar um
acidente trágico seguido de um milagre — a queda de um jovem e sua
surpreendente ressurreição. Mas, quando lemos com atenção, percebemos que o
texto carrega muito mais. Em meio aos detalhes, encontramos lições profundas
sobre a maneira como Deus age e sobre o nosso papel como ouvintes atentos e
participantes ativos da fé.
Era o primeiro dia da semana, o que marca não apenas o
início de uma nova etapa, mas também nos remete ao dia em que Jesus
ressuscitou. Esse detalhe nos lembra que a comunhão cristã não é baseada em um
dia qualquer, mas na celebração da vida que venceu a morte. Pode ser que
Eutico, como tantos jovens de seu tempo — e do nosso — tivesse vindo de dias
cheios, talvez cansativos, com muitas atividades e pouco descanso. E ali,
naquela reunião noturna, após um fim de semana movimentado, ele se senta para
ouvir Paulo.
A mensagem naquela noite foi longa, porque Paulo sabia que
talvez fosse sua última oportunidade de falar com aquele povo. Ele pregou até a
meia-noite. Para alguns, poderia ser o último culto da vida. E esse detalhe não
é por acaso. Na Bíblia, a meia-noite representa a última hora do dia — um
momento de definição, de clímax.
Foi à meia-noite que, na parábola contada por Jesus, o noivo
chegou — e apenas as virgens prudentes, que estavam preparadas, entraram com
ele para as bodas. A meia-noite, nas Escrituras, simboliza vigilância, urgência
e atenção ao tempo da visitação divina. É também uma figura da volta gloriosa
de Jesus para buscar a sua Igreja. Enquanto muitos se encontram adormecidos,
distraídos ou acomodados, os que permanecem despertos vivem com os olhos fixos
na promessa, aguardando com fé o momento de se encontrar com o Senhor.
Mesmo com o local cheio de luzes, Eutico adormeceu. A Bíblia
faz questão de registrar que o cenáculo estava bem iluminado, o que nos mostra
que o problema não era a escuridão. A iluminação representa revelação, presença
de Deus, Palavra viva — mas mesmo com tudo isso, o jovem caiu no sono. Ele
estava assentado numa janela no terceiro andar.
A janela é um lugar de incerteza, de quem não decidiu
completamente onde quer estar. Não é dentro, nem fora. De lá se enxerga tanto o
que acontece no ambiente da comunhão quanto as distrações que vêm de fora. É
uma posição perigosa para quem está cercado por vida e transformação, mas ainda
não se entregou por completo. Muitos hoje vivem assim — sentados na janela da
fé, com o coração dividido entre a presença de Deus e os apelos do mundo. Estão
perto, mas não firmes; enxergam a luz, mas ainda se deixam atrair pelo lado de
fora.
Eutico cai. E não apenas tropeça: ele morre. Isso é sério.
Há pessoas que, espiritualmente, já caíram da janela, e nem percebem que estão
mortas em sua fé, em sua esperança, em sua vida com Deus. Mas Paulo desce,
abraça o jovem e declara: “Está vivo.” É um momento que aponta
diretamente para Jesus, que também desceu, nos abraçou na morte, e nos deu vida
nova.
Assim como Cristo ressuscitou ao terceiro dia, Eutico caiu
do terceiro andar. Não é coincidência. A mensagem é clara: há ressurreição para
os que caíram.
Após o milagre, eles sobem e partem o pão. Essa é a
sequência da fé cristã: depois do toque da graça, vem a comunhão, o partir do
pão, a renovação da vida em comunidade. Paulo continua falando até o amanhecer.
A noite foi longa, mas a Palavra sustentou a todos. Eutico estava vivo, e essa
notícia consolou a todos os presentes. A ressurreição de um só trouxe alegria
para muitos — assim como a ressurreição de Cristo trouxe salvação para o mundo
inteiro.
O que tudo isso nos ensina? Que é perigoso estar na janela.
Que mesmo com luz, mesmo ouvindo a Palavra, é possível adormecer. Que a rotina,
o cansaço, a distração nos colocam em risco espiritual. Mas também aprendemos
que Deus ainda desce até onde caímos. Ele ainda abraça, ressuscita e nos
convida a subir de novo para viver em comunhão.
Se você está cansado, distraído ou meio adormecido, desperte!
Ainda é tempo. Ainda há luz. Ainda há Palavra. E ainda há um Deus que nos chama
de volta à vida.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
29/ter/abr/25
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