ENTRE JANELAS E RESSURREIÇÕES: O CHAMADO PARA DESPERTAR

“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo resplandecerá sobre ti.”
(Efésios 5:14 – NVI)

Eutico era apenas um jovem presente numa reunião aparentemente comum. Mas o que acontece com ele naquela noite se transforma em uma mensagem viva para todos nós, especialmente para os tempos em que vivemos.

À primeira vista, Atos 20:7-12 parece apenas relatar um acidente trágico seguido de um milagre — a queda de um jovem e sua surpreendente ressurreição. Mas, quando lemos com atenção, percebemos que o texto carrega muito mais. Em meio aos detalhes, encontramos lições profundas sobre a maneira como Deus age e sobre o nosso papel como ouvintes atentos e participantes ativos da fé.

Era o primeiro dia da semana, o que marca não apenas o início de uma nova etapa, mas também nos remete ao dia em que Jesus ressuscitou. Esse detalhe nos lembra que a comunhão cristã não é baseada em um dia qualquer, mas na celebração da vida que venceu a morte. Pode ser que Eutico, como tantos jovens de seu tempo — e do nosso — tivesse vindo de dias cheios, talvez cansativos, com muitas atividades e pouco descanso. E ali, naquela reunião noturna, após um fim de semana movimentado, ele se senta para ouvir Paulo.

A mensagem naquela noite foi longa, porque Paulo sabia que talvez fosse sua última oportunidade de falar com aquele povo. Ele pregou até a meia-noite. Para alguns, poderia ser o último culto da vida. E esse detalhe não é por acaso. Na Bíblia, a meia-noite representa a última hora do dia — um momento de definição, de clímax.

Foi à meia-noite que, na parábola contada por Jesus, o noivo chegou — e apenas as virgens prudentes, que estavam preparadas, entraram com ele para as bodas. A meia-noite, nas Escrituras, simboliza vigilância, urgência e atenção ao tempo da visitação divina. É também uma figura da volta gloriosa de Jesus para buscar a sua Igreja. Enquanto muitos se encontram adormecidos, distraídos ou acomodados, os que permanecem despertos vivem com os olhos fixos na promessa, aguardando com fé o momento de se encontrar com o Senhor.

Mesmo com o local cheio de luzes, Eutico adormeceu. A Bíblia faz questão de registrar que o cenáculo estava bem iluminado, o que nos mostra que o problema não era a escuridão. A iluminação representa revelação, presença de Deus, Palavra viva — mas mesmo com tudo isso, o jovem caiu no sono. Ele estava assentado numa janela no terceiro andar.

A janela é um lugar de incerteza, de quem não decidiu completamente onde quer estar. Não é dentro, nem fora. De lá se enxerga tanto o que acontece no ambiente da comunhão quanto as distrações que vêm de fora. É uma posição perigosa para quem está cercado por vida e transformação, mas ainda não se entregou por completo. Muitos hoje vivem assim — sentados na janela da fé, com o coração dividido entre a presença de Deus e os apelos do mundo. Estão perto, mas não firmes; enxergam a luz, mas ainda se deixam atrair pelo lado de fora.

Eutico cai. E não apenas tropeça: ele morre. Isso é sério. Há pessoas que, espiritualmente, já caíram da janela, e nem percebem que estão mortas em sua fé, em sua esperança, em sua vida com Deus. Mas Paulo desce, abraça o jovem e declara: “Está vivo.” É um momento que aponta diretamente para Jesus, que também desceu, nos abraçou na morte, e nos deu vida nova.

Assim como Cristo ressuscitou ao terceiro dia, Eutico caiu do terceiro andar. Não é coincidência. A mensagem é clara: há ressurreição para os que caíram.

Após o milagre, eles sobem e partem o pão. Essa é a sequência da fé cristã: depois do toque da graça, vem a comunhão, o partir do pão, a renovação da vida em comunidade. Paulo continua falando até o amanhecer. A noite foi longa, mas a Palavra sustentou a todos. Eutico estava vivo, e essa notícia consolou a todos os presentes. A ressurreição de um só trouxe alegria para muitos — assim como a ressurreição de Cristo trouxe salvação para o mundo inteiro.

O que tudo isso nos ensina? Que é perigoso estar na janela. Que mesmo com luz, mesmo ouvindo a Palavra, é possível adormecer. Que a rotina, o cansaço, a distração nos colocam em risco espiritual. Mas também aprendemos que Deus ainda desce até onde caímos. Ele ainda abraça, ressuscita e nos convida a subir de novo para viver em comunhão.

Se você está cansado, distraído ou meio adormecido, desperte! Ainda é tempo. Ainda há luz. Ainda há Palavra. E ainda há um Deus que nos chama de volta à vida.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

29/ter/abr/25

 


 

 


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