QUANDO JESUS FICA
DO LADO DE FORA
“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha
voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.” (Apocalipse
3:20 – NVI)
Nem sempre o problema está no que falta. Às vezes, o perigo
está no que sobra: autossuficiência, orgulho, aparências. Foi isso que
aconteceu com a igreja de Laodiceia. Quando Jesus escreve a essa comunidade,
Ele revela algo chocante: Ele está do lado de fora daquela igreja.
A carta de Apocalipse 3:14-22 é dirigida à sétima igreja
mencionada no livro — e talvez seja a que mais se parece com muitas igrejas e
corações dos nossos dias. O cenário é triste: uma igreja que acha que está bem,
mas que, aos olhos de Cristo, está longe dEle.
Jesus se apresenta como o "Amém", a
"testemunha fiel e verdadeira" e o "princípio da criação de
Deus". Isso significa que Ele é o autor da história, o começo e o fim,
Aquele que sabe todas as coisas e tem autoridade para dizer a verdade. E a
verdade é dura: “Conheço as suas obras; sei que você não é frio nem
quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!” (v.15)
Jesus vê um povo morno, indeciso, confortável demais com a
vida que leva. E essa mornidão espiritual não é neutra — ela provoca náusea no
Senhor. “Estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.” (v.16)
A igreja de Laodiceia se achava rica, bem-sucedida, segura.
Ela dizia: “Estou rica, adquiri riquezas e não preciso de nada.”
(v.17) Mas Jesus olha por dentro e vê algo muito diferente: um povo infeliz,
miserável, pobre, cego e nu. Eles achavam que tinham tudo, mas na verdade não
tinham nada que realmente importava.
Então, Jesus faz um convite: “Compre de mim ouro
refinado no fogo, para que se torne rico; roupas brancas, para vestir-se e
cobrir a sua vergonhosa nudez; e colírio para ungir os seus olhos e poder
enxergar.” (v.18) Mas como comprar essas coisas, se tudo vem da graça?
A resposta está no próprio texto: com arrependimento, fé e zelo. Como diz
Isaías 55:1, Deus nos convida a comprar sem dinheiro aquilo que realmente tem
valor eterno. "Venham, todos
vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro,
venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem
custo!" Isaías 55:1 – NVI
O ouro refinado representa o poder do Espírito Santo.
As vestes brancas simbolizam a salvação em Cristo, que nos cobre de
justiça. O colírio é o discernimento espiritual, a visão profética para
enxergar além das aparências.
Em seguida, Jesus revela o motivo por trás de suas palavras
duras: Ele ama. “Repreendo e disciplino aqueles que amo.” (v.19) O
alvo da correção é sempre a restauração. Por isso, Ele diz: “Seja
diligente e arrependa-se.”
E então vem um dos versículos mais conhecidos — e mais
tristes, se olharmos com atenção: “Eis que estou à porta e bato.” (v.20)
Jesus está do lado de fora, batendo na porta da igreja. Isso
mostra que, apesar de todo o culto, estrutura, reuniões e aparente
religiosidade, Ele não estava no centro. Ele queria entrar, ter comunhão, cear
com eles. Ele queria relacionamento, e não apenas rituais.
Esse quadro nos faz refletir: Jesus está dentro ou fora da
nossa vida? Da nossa casa? Da nossa igreja? Temos nos tornado mornos,
autossuficientes, cegos para o que realmente importa?
Mas há esperança. A carta termina com uma promessa poderosa:
“Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono.”
(v.21). Se há um vencedor, é porque existe uma batalha. E essa luta não é
contra inimigos visíveis, mas contra tudo o que nos afasta da presença de Deus:
o orgulho, a indiferença espiritual, a ilusão de que não precisamos de nada. A
maior guerra não é travada com espadas, mas dentro do coração — é a luta contra
a mornidão, contra a fé sem fervor, contra a cegueira espiritual que nos impede
de perceber a nossa real condição diante de Deus.
Mas Jesus não apenas revela o problema — Ele oferece o
caminho da vitória. A promessa é clara: “Ao vencedor darei o direito de
sentar-se comigo em meu trono.” (v.21). Isso não se destina aos
perfeitos, mas àqueles que perseveram, que ouvem Sua voz, que abrem a porta e O
recebem como Senhor. A vitória pertence aos que se rendem, não aos que se acham
suficientes.
Jesus nos chama para mais do que religião. Ele nos convida a
um relacionamento real — a intimidade da ceia, a restauração da comunhão e o
triunfo da graça. Se Ele está à porta, batendo, não é porque Ele precisa de nós
— é porque nós precisamos urgentemente dEle. Abrir essa porta é o início de uma
vida transformada e cheia de propósito.
Que hoje seja o dia em que, com humildade, abramos a porta
do coração, da casa, da igreja — e deixemos Jesus entrar para ficar, reinar e
transformar tudo.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
23/qua/abr/25
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