QUANDO ATÉ O INIMIGO SE CURVA E A GLÓRIA REPOUSA SOBRE A PEDRA

A carroça chegou ao campo de Josué, o bete-semita, e ali parou, junto a uma grande pedra.” (1 Samuel 6:14 – NVI)

Há momentos em que a presença de Deus fala por si. Nem sempre é no templo suntuoso, nem no centro da cidade, nem na capital do país — e muitas vezes, não é onde esperamos. Em 1 Samuel 6, vemos uma dessas cenas: a Arca da Aliança é devolvida pelos filisteus e vai parar no campo de um homem chamado Josué, em Bete-Semes. Mas antes disso, o texto nos mostra algo ainda mais impressionante: até o inimigo precisou se curvar diante do poder de Deus.

A Arca havia sido levada como troféu de guerra após Israel ser derrotado em batalha. Os filisteus, porém, logo perceberam que não estavam diante de um objeto qualquer. Por onde a Arca passava — Asdode, Gate, Ecrom — vinha com ela terror, pragas e pânico. No templo de Dagom, o ídolo dos filisteus caiu de rosto no chão diante da Arca. E na noite seguinte, caiu novamente — agora com a cabeça e as mãos quebradas. Era como se até os deuses falsos tivessem que se prostrar diante do Deus verdadeiro. "Ficaram decepcionados todos os que adoram imagens e que se orgulham dos seus ídolos; todos os deuses se ajoelham diante de Deus, o Senhor."  (Salmos 97:7 - NTLH)

Os filisteus entenderam que estavam lidando com algo — ou Alguém — que não podiam controlar. E então decidiram devolver a Arca com uma oferta de culpa: tumores e ratos de ouro, símbolos das pragas que sofreram. Colocaram a Arca numa carroça nova, puxada por duas vacas recém-paridas e nunca adestradas. Se as vacas, contrariando seu instinto materno, abandonassem suas crias e caminhassem em direção a Bete-Semes (cidade israelita), seria a prova de que aquilo vinha da mão de Deus. E foi o que aconteceu. As vacas seguiram direto, sem se desviarem. Até o inimigo teve que reconhecer: o Senhor havia agido.

Mas é na chegada da Arca que um detalhe chama ainda mais atenção. Ela não foi para a capital. Não foi para o tabernáculo, nem para um centro religioso ou palácio. Foi parar no campo de Josué, o bete-semita — e parou junto a uma grande pedra. A Arca foi colocada sobre essa pedra, e o texto diz que aquela pedra ficou ali "até o dia de hoje" (1 Sm 6:18).

Essa cena nos convida a refletir. Por que o campo? Por que Josué? Por que uma pedra?

O nome Josué, em hebraico Yehoshua, é o mesmo nome que mais tarde, no Novo Testamento, será traduzido como Jesus (Yeshua). Bete-Semes significa “casa do sol”, e o sol, na linguagem profética, pode representar a luz da revelação, a justiça, a glória de Deus. O campo pode simbolizar o coração — o lugar simples e disponível, onde Deus escolhe repousar Sua presença. Não foi nos corredores do poder nem entre os religiosos profissionais que a glória repousou, mas na simplicidade de um campo e na vida de alguém cujo nome já apontava para o Redentor.

E havia ali uma grande pedra. A Arca foi colocada sobre ela. E essa pedra nos lembra imediatamente de Cristo. A Bíblia afirma que Jesus é a Pedra angular, a Rocha da nossa salvação, a pedra que os construtores rejeitaram, mas que se tornou fundamento e segurança eterna. Não é apenas uma coincidência poética — é uma figura profética poderosa: a glória de Deus repousa sobre Cristo. Como diz Paulo, “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).

Neste episódio, vemos a soberania de Deus sendo reconhecida pelos inimigos, mas também Sua glória sendo depositada no lugar certo, sobre a Pedra, num coração preparado. Isso nos ensina que Deus não está preso a formas religiosas ou estruturas humanas. Ele age onde quer, se revela onde há espaço, e repousa onde há verdade.

Ainda hoje, o Senhor continua buscando corações disponíveis. Não importa o endereço, o título, ou a estrutura. O que Ele procura é um campo fértil e uma pedra firme. E quando encontra, faz da vida daquela pessoa um lugar de glória.

Que possamos ser como o campo de Josué — o lugar onde a pedra estava no centro. Que Cristo, a Pedra viva, seja o nosso fundamento e ocupe um lugar especial: o centro do nosso viver. E que a glória do Senhor encontre em nós um coração firme, simples e disponível, onde possa repousar com segurança — hoje, e todos os dias. Amém.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

02/mai/25

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