QUANDO A MULTIDÃO
GRITA SEM SABER POR QUÊ
“Uns gritavam uma coisa, outros outra, pois a
assembleia estava em confusão; a maioria nem sabia por que estavam ali.” (Atos
19:32 – NVI)
O tumulto em Éfeso, relatado em Atos 19:23 a 41, revela como
o evangelho pode causar impactos profundos em uma sociedade dominada por ídolos
e interesses. Paulo, com sua pregação firme e clara, começou a alcançar muitas
pessoas na cidade, e os frutos começaram a aparecer: a idolatria perdeu força,
os negócios ligados ao culto a Ártemis começaram a enfraquecer, e a mensagem de
Cristo se espalhava com poder.
Foi nesse contexto que Demétrio, um ourives que ganhava a
vida fabricando miniaturas do templo da deusa Ártemis, sentiu-se ameaçado. Ele
percebeu que, se todos passassem a crer no Deus verdadeiro, sua profissão
perderia valor. Mas em vez de assumir isso abertamente, apelou para um discurso
religioso. Reuniu outros artesãos e alegou que a nova fé estava colocando em
risco a grandeza da deusa e da cidade. Na verdade, o que ele queria era
proteger seu bolso. O que parecia zelo por uma divindade era apenas medo de
prejuízo financeiro.
A revolta se espalhou rapidamente. A cidade inteira ficou em
alvoroço. Pessoas começaram a correr, gritar e se aglomerar no teatro. Mas o
verso 32 revela algo surpreendente e muito atual: a maioria nem sabia por
que estava ali. Uns gritavam uma coisa, outros outra. Era uma confusão
generalizada. Aquilo que começou como uma preocupação econômica se transformou
em um movimento descontrolado, seguido por muitos sem reflexão, apenas por
instinto ou influência.
Esse comportamento, que hoje chamamos de “efeito manada”,
não é novidade. Ele mostra como a falta de discernimento pode levar pessoas a
tomarem decisões erradas, guiadas apenas pela emoção e pelo barulho ao redor.
Nos dias de hoje, esse mesmo espírito continua presente. Muitas pessoas seguem
ideias, movimentos e discursos sem saber exatamente o que estão apoiando. Basta
que alguém fale com autoridade ou emoção, e outros já acompanham sem refletir.
A mídia e as redes sociais, por sua vez, têm grande habilidade em alimentar
esse tipo de comportamento, amplificando vozes e direcionando opiniões. Quando
não há convicção pessoal nem clareza de propósito, o resultado é confusão.
Mas o Espírito Santo que habita em nós nos dá discernimento.
Ele nos capacita a identificar que nem toda voz que fala alto está com a razão.
Existem muitas vozes no mundo: a voz da razão humana, a voz dos sentimentos do
coração, que pode enganar, a voz do adversário tentando confundir, e a voz de
Deus, que sempre nos conduz à verdade. Por isso, é fundamental aprender a
escutar com atenção e pesar o que ouvimos à luz da Palavra. “Mas, quando
o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si
mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.”
(João 16:13 – NVI)
O caso de Demétrio nos ensina que muitas causas que parecem
nobres podem esconder interesses egoístas. Às vezes, alguém fala bonito,
defende uma ideia com veemência, mas por trás há motivações pessoais. O
discurso religioso, social ou político pode ser apenas uma máscara para
manipulação. Sem discernimento espiritual, corremos o risco de nos envolver em
batalhas que não são nossas e até lutar contra aquilo que Deus está fazendo. “Mas
o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se
aptos para discernir tanto o bem quanto o mal.” (Hebreus 5:14 – NVI)
É por isso que o cristão precisa saber por que e a quem está
seguindo. Nossa fé não pode se basear em gritos da multidão ou modismos
religiosos. Ela deve estar firmada na Palavra de Deus, que é como uma bússola
segura em tempos de confusão. Deus fala, sim, e está sempre pronto a nos
orientar. Mas para ouvir Sua voz, precisamos silenciar o barulho ao redor e
buscar intimidade com Ele. “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e
de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo
Filho...” (Hebreus 1:1-2 – ARA)
Seguir sem entender pode nos levar ao erro. Podemos acabar
participando de algo que se opõe à vontade de Deus, pensando estar fazendo o
bem. O evangelho não é barulho. É transformação. É direção clara. É vida
eterna. A mensagem de Jesus aponta o caminho da salvação. E quem O segue,
precisa fazer isso com entendimento, convicção e fé.
Seguir Jesus não é agir por impulso, mas por convicção; quem
caminha sem discernir pode se perder até no que parece certo.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
14/mai/25
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