CAMINHANDO COM O
CORPO, MAS DISTANTES COM O CORAÇÃO
“Mas nossos antepassados recusaram-se a obedecer-lhe. Ao
contrário, rejeitaram-no e em seu coração voltaram para o Egito.” Atos 7:39
(NVI)
Há algo profundamente triste em viver com o corpo em um
lugar e o coração em outro. Estar fisicamente presente, cumprir tarefas, seguir
rotinas, mas por dentro estar distante, desconectado. Foi exatamente isso que
aconteceu com o povo de Deus no deserto. Eles caminhavam rumo à Terra
Prometida, mas seus corações nunca saíram do Egito.
Estêvão, em seu último discurso antes do martírio, lembra
essa realidade. Mesmo tendo visto os milagres — o mar se abrir, a água jorrar
da rocha, o maná cair do céu — o povo optou por fazer para si deuses de metal e
segui-los, rejeitando o Deus vivo que os havia libertado. Eles caminhavam com
Moisés, mas ansiavam pelas panelas de carne e pelos confortos ilusórios do
cativeiro. A escravidão havia saído de seus corpos, mas ainda habitava suas
almas.
Esse distanciamento espiritual continua sendo um alerta para
nós hoje. Quantos frequentam igrejas, participam de cultos, cantam louvores,
mas vivem com o coração preso ao “Egito”? Preso ao passado, aos velhos hábitos,
ao pecado disfarçado de conforto. É possível estar com a Bíblia nas mãos e a
mente cheia de distrações. É possível dobrar os joelhos e continuar de pé no
orgulho. É possível falar em nome de Deus e ainda assim viver como se Ele não
existisse.
Em Marcos 7:6, Jesus cita Isaías ao dizer: “Este povo
me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” E em João
4:23, Ele afirma que o Pai procura adoradores que o adorem em espírito e em
verdade. Deus não se agrada de aparências religiosas. Ele quer inteireza. Quer
o coração inteiro, entregue, sem reservas.
Isso significa viver com autenticidade. É ter os pés firmes
no caminho da fé, os olhos voltados para a promessa e o coração rendido à
verdade. Deus não quer apenas que estejamos no templo aos domingos; Ele quer
que sejamos dEle todos os dias.
É comum vermos hoje pessoas envolvidas em projetos da
igreja, servindo em ministérios, liderando departamentos — mas, por dentro,
desanimadas, distantes, cansadas. Quando o coração se afasta, tudo perde
sentido. O serviço vira obrigação, o louvor vira performance, e a fé vira
costume. O segredo está em manter o coração perto de Deus; aquecido pelo fogo
do Espírito.
E aqui cabe um lembrete essencial: Deus não precisa de
nós para realizar a Sua obra. Ele é soberano, eterno, e plenamente capaz de
cumprir Seus planos sem a nossa ajuda. A obra é dEle, nasceu no Seu coração, e
será completada com ou sem a nossa participação.
Mas Ele escolheu nos incluir. Ele nos chamou, não porque
precisava, mas porque desejava repartir conosco a glória de algo eterno. Até os
anjos desejaram anunciar esse evangelho, mas foi a nós — frágeis vasos de barro
— que Ele confiou esse tesouro. Não por merecimento, mas por graça.
Deus é Deus sem nós. Mas nós não somos nada sem Ele.
Dependemos da Sua presença, da Sua direção, do Seu poder. Servir a Deus não é
um favor que fazemos, é um privilégio imenso. É a oportunidade de fazer parte
do que é eterno, de cooperar com o que tem peso de glória.
Por isso, precisamos estar inteiros diante dEle — corpo,
mente e espírito. Ele não quer só nossas mãos ocupadas, mas nosso coração
presente. Ele não quer só palavras bonitas, mas atitudes sinceras. Ele quer
verdade.
E se, em algum momento, percebemos que nosso coração está
distante, que a alma se perdeu entre memórias do Egito ou cansaços do deserto,
ainda há tempo. Deus continua chamando. Ainda é possível voltar, se render e
segui-Lo de coração inteiro.
“Mais do que nossos passos, Deus deseja nosso coração.
Estar no caminho certo não basta, se a alma ainda mora no Egito.”
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
08/jun/25
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