“Do céu me
envia o seu auxílio e me livra.” Salmo
57:3 (NAA)
O Salmo 57 nasce no
fundo de uma caverna. Davi, perseguido por Saul, encontra abrigo em meio ao
medo e à incerteza. Embora já tivesse sido ungido como rei, agora vive como
fugitivo — sem segurança, sem estabilidade, sem respostas. Tudo o que parecia
promissor se tornou escuridão. No entanto, ali mesmo, na solidão da caverna,
Davi escolhe confiar e louvar. Ele não se entrega ao desespero, mas se agarra à
fidelidade de Deus. Sua oração brota da dor, mas é carregada de fé. É uma
súplica que nasce da alma.
Em alguns momentos
da vida, também nos sentimos assim — presos, isolados, como se estivéssemos no
fundo de uma caverna, trancados por dentro. Nessas horas, quando os recursos
humanos falham e a saída parece distante, tudo o que conseguimos oferecer é uma
oração sussurrada, uma canção tímida que sobe como o clamor de Jonas no ventre
do peixe. E, ainda que nos sintamos sem forças, brota em nós o desejo pela luz,
pelo ar fresco, pela certeza de que Deus há de nos tirar dali para que possamos
respirar novamente e agradecer pelo livramento.
Este salmo é um
chamado à reflexão: será que conseguimos louvar quando tudo parece perdido? Será
que nossa fé permanece firme no silêncio da caverna? Estar nesse lugar escuro
pode nos paralisar. O medo ganha voz, a esperança se enfraquece, e começamos a
nos perguntar: Deus está ouvindo? Ele ainda se importa comigo?
Mas há uma certeza
que nos sustenta: embora o Senhor seja o Altíssimo, Ele não despreza os
humildes. Sua grandeza não o torna distante, pelo contrário, o aproxima. Ele é
o Deus que se inclina. Ele está nos céus, sim, mas ouve o gemido que vem das
profundezas. Ele escuta a oração do coração quebrantado e enxerga a lágrima do
aflito. E é nesse cuidado que encontramos repouso, mesmo quando tudo ao nosso
redor parece desabar. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me
consolam.” Salmo 23:4 (NAA)
Na adversidade,
temos um consolo real. Os recursos que mais importam não vêm da terra, mas do
céu — e estão sempre disponíveis. O salmista reconhece isso ao afirmar: “Do
céu me envia o seu auxílio e me livra.” Davi não dependia de espadas,
alianças políticas ou estratégias humanas. Sua confiança estava em Deus, que
age mesmo quando tudo parece parado. Em meio à dor, essa certeza se torna
abrigo. O céu continua se movendo, mesmo quando a terra parece calada.
Davi também nos
ensina algo essencial: o coração é o centro de toda devoção verdadeira.
Sem ele, qualquer prática religiosa se torna vazia e mecânica. Deus não se
impressiona com rituais repetidos ou palavras bonitas. Ele busca um espírito
quebrantado, um coração rendido por inteiro. E foi isso que Davi ofereceu: um
louvor que não vinha apenas dos lábios, mas de um coração atravessado pela dor
e sustentado pela fé.
“Firme está o
meu coração”, ele declara. E essa firmeza não é resultado de força
própria, mas da ação do Espírito Santo. O coração aqui representa mais do que
emoções — é o centro da vontade, dos afetos, da consciência e da fé. É o ponto
central da vida interior. Um coração firme é aquele que encontrou descanso, que
já não está perdido na tempestade, mas ancorado na rocha. Mesmo no fundo da
caverna, esse coração sabe onde repousar.
Que essa palavra
nos leve a fazer o mesmo: confiar, mesmo quando tudo ao nosso redor insiste em
dizer o contrário. Que possamos aprender com Davi a adorar mesmo na caverna,
certos de que o céu continua operando e que Deus, em sua fidelidade, há de nos
tirar para a luz.
“Quando a alma
encontra abrigo na fidelidade de Deus, até a caverna escura pode se tornar um
lugar de adoração.”
Que Deus, nosso
Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.
Pr. Décio Fonseca
Nenhum comentário:
Postar um comentário