ANTES DO SOL, A
LUZ
“Então disse Deus: Haja luz! E houve luz.” Gênesis
1:3 (NAA)
Neste último domingo, conversando com um irmão e amigo,
falávamos sobre uma pergunta que muitos leitores da Bíblia costumam fazer: como
pode haver “tarde e manhã” no primeiro dia da criação, se o Sol e a Lua
— que regulam os dias e as noites — só foram criados no quarto dia? Essa dúvida
é compreensível, mas a resposta está no próprio modo como Gênesis foi escrito:
não como um livro de ciência, mas como uma revelação de Deus para mostrar quem
Ele é e como Ele age.
O livro de Gênesis apresenta a criação como um ato ordenado
e intencional de Deus. A frase “houve tarde e manhã, o primeiro dia” se
repete em todos os dias da criação, como uma espécie de marca de encerramento.
Ela mostra que Deus criou tudo com ordem e propósito. Isso não quer dizer,
necessariamente, que foram dias como os que conhecemos hoje, com 24 horas
baseadas no movimento do Sol, mas sim que Deus organizou a criação em etapas
bem definidas.
No idioma hebraico, a frase usada é “vayehi-erev
vayehi-vôqer”, traduzida como “e foi tarde, e foi manhã”. Essa
expressão marca o fim de cada etapa da criação. É uma forma de mostrar que cada
fase foi concluída com perfeição e que Deus estabeleceu limites claros, mesmo
antes dos mecanismos naturais serem formados. Deus criou o tempo antes de criar
os instrumentos que marcam o tempo.
A própria luz já existia antes do Sol. O texto é claro: no
primeiro dia, Deus disse: “Haja luz — e houve luz.” Isso mostra
que a fonte da primeira luz não era o Sol, mas o próprio Deus. Era uma luz
real, criada por Ele, que marcou a separação entre o dia e a noite – entre
escuridão e claridade – mesmo antes dos astros existirem. Isso nos ensina que
Deus é a fonte de tudo — inclusive da luz.
Mais tarde, no quarto dia, Deus cria os luminários — o Sol,
a Lua e as estrelas — não como fontes absolutas de luz, mas como instrumentos
para governar os dias e as noites, para marcar tempos, estações e anos. Eles
passam a cumprir um papel funcional, mas jamais substituem a soberania de Deus
como Criador.
Essa verdade também ecoa nas Escrituras do Novo Testamento.
Em Apocalipse 22:5, somos informados de que, na cidade celestial, não haverá
mais necessidade de Sol ou Lua, “porque o Senhor Deus os iluminará.”
Isso mostra que a presença de Deus é, desde sempre, a verdadeira luz. E essa
luz não é apenas física. Ela é espiritual, eterna, perfeita.
O Evangelho de João confirma essa revelação: “No
princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus... Nele
estava a vida, e esta era a luz dos homens.” (João 1:1–4). João
apresenta Jesus como o Logos, o Verbo eterno, e também como a Luz
verdadeira. Essa Luz existia antes de qualquer astro e veio ao mundo para
iluminar todo ser humano.
Na tradição hebraica, o dia começa ao pôr do sol, o que
explica a expressão “tarde e manhã”. Isso mostra que a Bíblia fala com a
linguagem da experiência humana, conectando a criação com a forma como o povo
hebreu vivia e entendia o tempo. Deus se revela na história, com clareza e
propósito, usando uma linguagem compreensível ao coração humano.
Dizer que houve “tarde e manhã” no primeiro dia,
mesmo antes do Sol, não é um erro. É uma maneira bela e profunda de afirmar que
Deus está acima da criação. Ele não depende dos meios naturais para agir. Ele
cria a ordem a partir do caos. Ele ilumina antes de criar o Sol. Ele determina
os ciclos antes de estabelecer os relógios.
Portanto, o tempo não começou com o Sol — começou com a
Palavra. Antes de qualquer estrela brilhar no céu, a luz de Deus já iluminava
tudo. Porque o que dá sentido ao tempo, à existência e à vida, não é o
movimento dos astros, mas a presença do Criador. É Ele quem dá forma ao que é
informe, luz ao que é escuro, direção ao que está perdido.
Nossa fé não depende de explicações humanas para crer na
Palavra. Ela crê porque Deus falou, e isso basta. O relato da criação não é
apenas um início, é um convite à confiança. Se no começo Deus disse “Haja
luz” e houve luz, então podemos confiar que, mesmo quando tudo parecer
escuro, a Sua Palavra ainda tem poder de iluminar.
Antes que o Sol existisse, a luz já brilhava — porque o
tempo nasceu da voz de Deus, e não dos ponteiros do mundo. Onde a Palavra se
manifesta, a escuridão cede, o caos se organiza e a vida começa.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
Nenhum comentário:
Postar um comentário