MARCAS NO CORPO OU MARCAS NA ALMA?

“Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.” Gálatas 6:17( NAA)

A recente notícia sobre uma igreja em Balneário Camboriú, cujos membros fizeram tatuagens com referência a Mateus 24:14, reacendeu o debate sobre a verdadeira natureza das marcas que um cristão deve carregar. Embora a intenção dos participantes fosse lembrar o propósito de anunciar o Reino, a pergunta que surge é: será que a marca no corpo realmente expressa a essência do evangelho que deve transformar o coração?

O apóstolo Paulo também falou de “marcas”, mas com um significado bem diferente. Em Gálatas 6:17, ele afirma que carrega no corpo as marcas do Senhor Jesus. A palavra grega usada ali, stigmata, refere-se a feridas, cicatrizes e sofrimentos reais que ele experimentou por causa do evangelho — perseguições, prisões, apedrejamentos, fome e desprezo. Paulo não falava de algo estético ou simbólico. Falava de dores reais por causa de uma fé viva.

Mais adiante, no mesmo capítulo, ele declara que o que realmente importa não é a marca externa, mas a transformação interior: “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criatura” (Gálatas 6:15). Ou seja, o verdadeiro sinal do Reino não está na pele, mas no coração regenerado. O Espírito Santo não grava versículos em tinta, mas escreve a Lei de Deus na mente e no coração, conforme declara o escritor de Hebreus no capítulo 10, verso 16.

Não há nada de novo em buscar símbolos visíveis como forma de afirmar identidade espiritual. No Antigo Testamento, os judeus se orgulhavam da circuncisão; no Novo Testamento, alguns queriam exigir isso dos cristãos gentios. Paulo combateu essa mentalidade, ensinando que o sinal do novo nascimento é uma vida crucificada com Cristo — marcada pelo fruto do Espírito, pela santidade, pela renúncia de si mesmo e pela fidelidade à Palavra.

O risco de reduzir a fé a um símbolo externo é trocar a cruz pelo marketing. Transformar o evangelho em uma marca cultural — como bem alertou um internauta na reportagem — é secularizar o que deveria ser santo.

A geração atual precisa mais do que tatuagens com versículos; precisa de vidas escritas com o amor de Cristo. E essas vidas, embora talvez não brilhem nas redes sociais, são cartas vivas, lidas todos os dias pelo mundo. Como Paulo escreveu, são cartas de Cristo, “não escritas com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações humanos” (2 Coríntios 3:2–3 – NAA). O mundo não precisa apenas ver símbolos — precisa ler o caráter de Cristo impresso em cada discípulo verdadeiro.

É bem possível que muitos dos jovens que participaram da ação tenham agido com sinceridade — e isso não está em discussão. A sinceridade, por si só, não é condenável. O zelo pode ser legítimo, mas zelo sem discernimento é perigoso. Como disse o apóstolo Paulo: “Dou-lhes testemunho de que têm zelo por Deus, porém sem entendimento.” (Romanos 10:2 – NAA). Sinceridade não substitui clareza bíblica, e a boa intenção não anula a necessidade de fundamento sólido. O zelo precisa estar alinhado com a verdade, ou corre o risco de transformar expressão em exagero, e devoção em confusão.

Que sejamos uma geração marcada por dentro — não por uma arte gravada por mãos humanas na pele, mas pelo caráter de Cristo, impresso na alma – no coração – onde ninguém vê, mas todos percebem.

"A marca que o céu reconhece não está na pele, mas no coração; não é desenhada com agulha, mas com arrependimento, fé e obediência ao Senhor Jesus."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

21/jul/25

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