PASTORES SÃO SERVOS, NÃO REIS

“O que é que você tem que não tenha recebido? E, se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?”  1 Coríntios 4:7 (NAA)

O Dia do Pastor é comemorado, oficialmente, no segundo domingo de junho. Essa data foi instituída por lei federal como forma de homenagear e reconhecer o trabalho dos pastores evangélicos em todo o país. Algumas denominações, no entanto, adotam datas específicas. Por exemplo, a Igreja Presbiteriana celebra essa data em 17 de dezembro, e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, no penúltimo sábado de outubro.

Em nosso grupo, temos alguns queridos companheiros de ministério — pastores fiéis, chamados por Deus — e é para eles que escrevo este texto. Mais do que marcar uma data, desejo que esta reflexão seja um momento de encorajamento, gratidão e renovação diante do Senhor, que nos chamou e nos sustenta.

Esta palavra tem como base o capítulo 4 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, dos versículos 6 ao 13, onde o apóstolo, de forma clara e cirúrgica, apresenta a essência do ministério pastoral e coloca esse serviço tão glorioso em seu devido lugar.

Nós, pastores, somos servos — não reis. Vivemos um tempo em que, no meio religioso, o ministério tem sido cada vez mais associado a reconhecimento, visibilidade, sucesso e influência. Mas o apóstolo Paulo nos mostra um caminho bem diferente: o verdadeiro ministério, segundo a Palavra, não é feito de aplausos, mas de entrega.

Essa também é a visão de ministério que temos na Obra que o Senhor nos confiou. Enquanto muitos buscam conforto, Paulo fala de cruz. Enquanto muitos procuram status, ele mostra o serviço. E, em vez de buscar a glória dos homens agora, Paulo aponta para a glória que ainda virá — a glória eterna, reservada aos que permanecem fiéis até o fim.

Paulo nos alerta com firmeza sobre o perigo da soberba espiritual. Ele repreende a igreja por se orgulhar de homens e promover divisões e contendas entre líderes, mostrando como isso compromete a essência do evangelho.

A pergunta central do verso 7 é profunda e desarma toda arrogância: “O que é que você tem que não tenha recebido?”

Tudo o que temos neste serviço — dons, chamado, frutos — nos foi dado por Deus, pela Sua graça. Por isso, não faz sentido nos vangloriarmos de algo que não veio de nós mesmos. A soberba espiritual desvia o coração do propósito de Deus e transforma o ministério em palco. Ela nos afasta da cruz, onde servimos, e nos empurra para a vaidade, onde buscamos ser servidos. Entendemos, como Paulo, que pastor não é dono do rebanho, é mordomo. Tudo nos foi confiado por Deus — por isso, o orgulho é incoerente com o chamado pastoral.

Nos versículos de 8 a 10, percebemos o contraste profundo entre a autopercepção da igreja de Corinto e a realidade vivida pelos apóstolos. Paulo, com tom irônico, declara: “Vocês já estão satisfeitos! Já são ricos! Chegaram a reinar!”

Aquelas palavras expõem a ilusão dos coríntios, que se viam como espiritualmente completos e vitoriosos, quando na verdade estavam distantes da essência do evangelho.

Enquanto eles buscavam reinar, os verdadeiros apóstolos enfrentavam sofrimento e humilhação por amor a Cristo. A igreja se enxergava como forte e influente, mas os apóstolos — fiéis ao chamado — eram tratados como fracos e desprezados. Paulo se vê como alguém exposto à vergonha pública, como os prisioneiros que seguiam rumo à morte nos coliseus. Ele deixa claro que ser apóstolo não era sinônimo de glória, mas de sofrimento, entrega e humilhação por fidelidade ao evangelho.

Devemos lembrar que o ministério autêntico nem sempre é reconhecido ou aclamado — muitas vezes, ele é carregado em silêncio e dor. Não fomos chamados para reinar agora, mas para servir, muitas vezes com lágrimas nos olhos e peso no coração. O ministério pastoral é uma jornada de renúncia, e não de autopromoção.

Nos versículos 11 a 13, Paulo revela a dura realidade enfrentada pelos apóstolos: fome, sede, nudez, agressões, desprezo, cansaço, ofensas e calúnias. Mas, mesmo em meio a tanta dor, eles não revidavam. Escolhiam abençoar, suportar, promover a paz. Eles nos ensinam que o verdadeiro ministério responde ao mal com graça e persevera com o coração firme em Deus. Paulo encerra esse trecho dizendo que eles eram considerados o lixo do mundo, a escória de todos. Aos olhos humanos, o ministério fiel pode parecer fracasso — mas, diante de Deus, é vitória.

Queridos companheiros, o ministério exige entrega total. Não é um lugar de honra humana, mas um altar de sacrifício. Não é palco, é chão. Não é glória agora, é fidelidade até o fim. É viver com os olhos na Palavra, com os pés no Caminho, buscando agradar ao Senhor e caminhando diariamente na dependência da revelação divina.

O que Paulo queria ensinar àquela igreja, o Espírito quer ensinar à igreja de hoje — especialmente a nós, pastores. Isso se resume em três afirmações fundamentais: não somos reis, somos servos; não somos donos, somos mordomos; não buscamos glória agora, vivemos pela cruz.

Se hoje somos vistos como escória do mundo, glória a Deus! Estamos no caminho certo. Não foi isso que o próprio Jesus declarou em sua oração sacerdotal? “O mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou” (João 17.14). Somos rejeitados porque temos a Verdade — e a tua Palavra é a verdade (João 17.17). No final, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (1 Coríntios 4.5).

Diante dessa exposição de Paulo, somos levados a refletir com sinceridade: no ministério que o Senhor nos confiou, estamos buscando os aplausos dos homens ou a fidelidade diante de Deus? Temos servido com humildade ou competido por posições de destaque? Nosso ministério exala o perfume do sacrifício no altar ou o brilho passageiro dos palcos deste mundo?

Que o Senhor nos ajude a servir no ministério com alegria genuína — não aquela alegria superficial que depende de aplausos, mas a que nasce da certeza de que estamos no centro da vontade do nosso Deus. Que, mesmo em meio às renúncias, críticas, lutas e invisibilidades, tenhamos prazer em obedecer, consolar, exortar com amor, corrigir com firmeza e orientar com base na Palavra de Deus, sempre com o objetivo de conduzir ao arrependimento, promover o crescimento espiritual e buscar a restauração da ovelha. “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega; com fidelidade trará justiça.”  Isaías 42.3 (NAA)

Que possamos também ensinar com paciência e caminhar com o rebanho que nos foi confiado pelo Senhor, com fidelidade e graça. E que jamais nos esqueçamos de duas verdades fundamentais: primeiro, que o rebanho pertence ao Senhor; e segundo, que quem nos chamou é fiel.

Nosso Pai Celestial vê o que ninguém vê, conhece o nosso coração e recompensará cada lágrima derramada, cada gesto de amor, cada passo dado em obediência nesse árduo serviço.

Que a nossa oração seja sempre: “Senhor, não nos deixes servir por vaidade, nem temer a vaia.” Que sirvamos por vocação e por amor. Não fomos chamados por homens, mas pelo Senhor. E, no tempo certo, o próprio Senhor nos honrará — e isso nos basta. “... e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.”  1 Coríntios 4.5(b)

O ministério não é um trono de glória, mas um caminho de cruz; não é para quem busca reconhecimento, mas para quem aceita servir — com lágrimas, com fé e com a esperança de ouvir, no tempo certo, o louvor que vem de Deus.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

03/jul/25

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