CORAGEM QUE
DESAFIA O FARAÓ
É intrigante — e profundamente significativo — notar que os
primeiros capítulos de Êxodo dão destaque a mulheres que ousaram desafiar o
poder de Faraó. Num tempo em que o Egito era a maior potência do mundo e a
palavra do rei era lei absoluta, Deus escolheu agir por meio de mulheres
aparentemente frágeis, mas espiritualmente firmes e estrategicamente corajosas.
A história de Moisés começa em meio a um cenário de opressão
e morte. O Faraó, temendo o crescimento do povo de Israel, ordena a matança dos
meninos recém-nascidos hebreus. Diante dessa ordem cruel, Deus levanta mulheres
que, com coragem e temor a Ele, desafiam a autoridade do homem mais poderoso da
época. Talvez este seja o primeiro ato de desobediência civil registrado na
Bíblia — não por rebeldia política, mas por fidelidade espiritual. "Quem
teme ao Senhor possui uma fortaleza segura, refúgio para os seus filhos." (Provérbios
14:26, NVI)
As primeiras a se levantar foram as parteiras hebreias,
Sifrá e Puá. Ordenadas a matar os meninos durante o parto, elas escolheram
obedecer a Deus, e não ao rei. Usaram de sabedoria e ousadia para preservar
vidas inocentes. Seu ato foi silencioso, mas poderoso: resistiram com fé e
inteligência. Deus se agradou delas e as abençoou com famílias. "É
necessário obedecer antes a Deus do que aos homens!" (Atos 5:29,
NVI)
Logo depois, vemos a mãe de Moisés, Joquebede, protagonizar
outro ato de fé corajosa. Ela esconde o filho por três meses e, não podendo
mais ocultá-lo, o coloca num cesto e o deposita no rio. Foi um gesto arriscado,
mas também de profunda entrega a Deus. Em vez de aceitar a morte como destino,
ela confiou no cuidado divino sobre a vida de seu filho. "Entregue o
seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá." (Salmos 37:5,
NVI)
A cena seguinte é surpreendente. A filha de Faraó, ao ver o
bebê hebreu no cesto, decide desobedecer ao decreto de seu próprio pai. Ela não
só poupa a criança, como o adota e o cria no palácio. Deus, em Sua soberania,
usa justamente alguém da casa do opressor para proteger o libertador de Israel.
"Os planos do Senhor permanecem para sempre, os propósitos do seu
coração por todas as gerações." (Salmos 33:11, NVI)
Não há aqui uma apologia à desobediência civil como prática
rebelde ou anárquica, como se o cristão fosse chamado a viver em constante
oposição às autoridades. Muito pelo contrário: a Bíblia nos orienta a respeitar
e orar pelas autoridades constituídas. Contudo, existem momentos raros e
críticos em que obedecer a Deus significa, sim, dizer “não” ao mal —
especialmente quando ele se apresenta disfarçado de lei, decreto ou sistema
aparentemente legítimo.
Foi o que essas mulheres fizeram. Elas não incitaram
revolta, não empunharam armas, não gritaram nas praças. Simplesmente
permaneceram fiéis ao Deus da vida, mesmo que isso implicasse ir na contramão
das ordens humanas. Elas se levantaram com fé, não com fúria; com propósito,
não com protesto. Suas ações foram firmes, silenciosas, convictas e alinhadas
com a justiça divina. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria,
e o conhecimento do Santo é entendimento." (Provérbios 9:10, NVI)
Precisamos de mais Joquebedes, dispostas a proteger vidas
com coragem e fé, mesmo em tempos difíceis. De mais Sifrás e Puás, que não se
dobram diante da injustiça, mas se mantêm fiéis ao Deus da vida. De mais
Miriãs, prontas para agir com sabedoria mesmo na juventude. E, por que não, de
mais princesas egípcias — pessoas influentes, mas sensíveis, capazes de romper
com estruturas de opressão e colaborar com os planos divinos.
Seja na igreja, na família, nas escolas, nos hospitais, nas
empresas ou nos palácios da política — Deus continua buscando corações
disponíveis, dispostos a se levantar com compaixão, coragem e temor.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
26_qua_mar_25
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