CORAGEM QUE DESAFIA O FARAÓ


"As parteiras, porém, temeram a Deus e não obedeceram às ordens do rei do Egito; deixaram viver os meninos."  Êxodo 1:17 (NVI)

É intrigante — e profundamente significativo — notar que os primeiros capítulos de Êxodo dão destaque a mulheres que ousaram desafiar o poder de Faraó. Num tempo em que o Egito era a maior potência do mundo e a palavra do rei era lei absoluta, Deus escolheu agir por meio de mulheres aparentemente frágeis, mas espiritualmente firmes e estrategicamente corajosas.

A história de Moisés começa em meio a um cenário de opressão e morte. O Faraó, temendo o crescimento do povo de Israel, ordena a matança dos meninos recém-nascidos hebreus. Diante dessa ordem cruel, Deus levanta mulheres que, com coragem e temor a Ele, desafiam a autoridade do homem mais poderoso da época. Talvez este seja o primeiro ato de desobediência civil registrado na Bíblia — não por rebeldia política, mas por fidelidade espiritual. "Quem teme ao Senhor possui uma fortaleza segura, refúgio para os seus filhos." (Provérbios 14:26, NVI)

As primeiras a se levantar foram as parteiras hebreias, Sifrá e Puá. Ordenadas a matar os meninos durante o parto, elas escolheram obedecer a Deus, e não ao rei. Usaram de sabedoria e ousadia para preservar vidas inocentes. Seu ato foi silencioso, mas poderoso: resistiram com fé e inteligência. Deus se agradou delas e as abençoou com famílias. "É necessário obedecer antes a Deus do que aos homens!" (Atos 5:29, NVI)

Logo depois, vemos a mãe de Moisés, Joquebede, protagonizar outro ato de fé corajosa. Ela esconde o filho por três meses e, não podendo mais ocultá-lo, o coloca num cesto e o deposita no rio. Foi um gesto arriscado, mas também de profunda entrega a Deus. Em vez de aceitar a morte como destino, ela confiou no cuidado divino sobre a vida de seu filho. "Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá." (Salmos 37:5, NVI)

A cena seguinte é surpreendente. A filha de Faraó, ao ver o bebê hebreu no cesto, decide desobedecer ao decreto de seu próprio pai. Ela não só poupa a criança, como o adota e o cria no palácio. Deus, em Sua soberania, usa justamente alguém da casa do opressor para proteger o libertador de Israel. "Os planos do Senhor permanecem para sempre, os propósitos do seu coração por todas as gerações." (Salmos 33:11, NVI)

Enquanto isso, a irmã de Moisés observa tudo à distância. Quando percebe que a filha de Faraó se compadece do bebê, ela se aproxima com sabedoria e ousadia, sugerindo que uma mulher hebreia o amamente — e chama justamente a mãe do menino. Miriã, mesmo tão jovem, age com rapidez, sensibilidade e coragem. Sua intervenção foi estratégica e decisiva, contribuindo para que Moisés fosse cuidado por sua própria mãe dentro do plano soberano de Deus.
"Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis..." (1 Timóteo 4:12a, NVI)

Essas mulheres — as parteiras, Joquebede, Miriã e a princesa egípcia — foram instrumentos poderosos nas mãos de Deus. Suas atitudes, movidas por temor, sensibilidade e coragem, foram fundamentais para a preservação de Moisés e, mais adiante, para a libertação do povo de Israel.
Essas histórias nos ensinam que o verdadeiro temor ao Senhor nos leva, muitas vezes, a resistir com fé às injustiças deste mundo. Deus honra aqueles que permanecem fiéis, mesmo quando isso exige coragem, risco e posicionamento contra sistemas opressores. "O Senhor protege todos os que o amam, mas a todos os ímpios destruirá." (Salmos 145:20, NVI)

Não há aqui uma apologia à desobediência civil como prática rebelde ou anárquica, como se o cristão fosse chamado a viver em constante oposição às autoridades. Muito pelo contrário: a Bíblia nos orienta a respeitar e orar pelas autoridades constituídas. Contudo, existem momentos raros e críticos em que obedecer a Deus significa, sim, dizer “não” ao mal — especialmente quando ele se apresenta disfarçado de lei, decreto ou sistema aparentemente legítimo.

Foi o que essas mulheres fizeram. Elas não incitaram revolta, não empunharam armas, não gritaram nas praças. Simplesmente permaneceram fiéis ao Deus da vida, mesmo que isso implicasse ir na contramão das ordens humanas. Elas se levantaram com fé, não com fúria; com propósito, não com protesto. Suas ações foram firmes, silenciosas, convictas e alinhadas com a justiça divina. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento." (Provérbios 9:10, NVI)

Precisamos de mais Joquebedes, dispostas a proteger vidas com coragem e fé, mesmo em tempos difíceis. De mais Sifrás e Puás, que não se dobram diante da injustiça, mas se mantêm fiéis ao Deus da vida. De mais Miriãs, prontas para agir com sabedoria mesmo na juventude. E, por que não, de mais princesas egípcias — pessoas influentes, mas sensíveis, capazes de romper com estruturas de opressão e colaborar com os planos divinos.

Seja na igreja, na família, nas escolas, nos hospitais, nas empresas ou nos palácios da política — Deus continua buscando corações disponíveis, dispostos a se levantar com compaixão, coragem e temor.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

26_qua_mar_25

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  JAIRO: UM PAI QUE BUSCOU JESUS POR SUA FILHA “Não tenha medo; apenas creia.” Marcos 5:36 (NAA) Quando meu primogênito ainda era um be...