TEVAH — A ARCA DO RECOMEÇO

“Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus.”
(Colossenses 3:3, NVI)

Na narrativa bíblica, Deus frequentemente se vale de símbolos concretos para revelar verdades espirituais profundas. Um desses símbolos é a arca — ou, no hebraico, “tevah” (תֵּבָה) — que aparece em momentos-chave da história da salvação. Curiosamente, essa palavra aparece apenas duas vezes na Bíblia — e justamente em dois momentos cruciais de preservação e redenção: a arca de Noé e o cesto de Moisés.

A primeira vez que encontramos o termo tevah na Palavra é em Gênesis 6–9, na narrativa do dilúvio. Naquele tempo, o mundo estava mergulhado em corrupção, e o juízo divino se aproximava em forma de águas devastadoras. Contudo, em meio ao caos iminente, Deus instrui Noé a construir uma arca — não apenas uma embarcação, mas um refúgio sagrado, um instrumento de preservação e um sinal da graça.

A tevah seria o meio pelo qual a vida seria protegida, não por mérito humano, mas pela direção e misericórdia do Senhor. Ali, Noé e sua família seriam guardados, não apenas do juízo, mas para um novo começo, um recomeço sob uma nova aliança. Deus não quis apenas poupar Noé; desejava reiniciar a história da humanidade através dele. “Então o Senhor disse a Noé: ‘Entre na arca, você e toda a sua família, porque você é o único justo que encontrei nesta geração.’” (Gênesis 7:1, NVI).

Séculos depois, no livro do Êxodo, a palavra tevah reaparece — agora de forma discreta, porém carregada de significado. Diante da ameaça imposta pelo decreto de Faraó, Joquebede, mãe de Moisés, ao perceber que já não podia mais esconder o filho, toma uma atitude de fé: confecciona um pequeno cesto de papiro, veda-o com betume e piche, e o coloca nas águas do Nilo. À primeira vista, pode parecer um ato de desespero, mas o texto hebraico revela outra dimensão ao empregar novamente o termo tevah — o mesmo utilizado para a arca de Noé.

A escolha desta palavra não é acidental. Assim como a arca preservou Noé e sua família para um novo recomeço, o cesto guardaria Moisés, que mais tarde se tornaria o libertador do povo hebreu. Em ambos os casos, a tevah surge como símbolo do cuidado divino, um ventre simbólico de onde emergem vidas destinadas a restaurar, libertar e renovar a aliança com Deus. “Tendo já três meses, não podendo escondê-lo por mais tempo, pegou um cesto de papiro (tevah), vedou-o com betume e piche, colocou nele o menino e o pôs entre os juncos à margem do Nilo.” (Êxodo 2:3, NVI)

Em ambas as histórias, vemos que a tevah é mais do que uma estrutura física — ela simboliza a mão cuidadosa de Deus, guardando vidas para cumprir Seus propósitos. Deus não livra apenas por livrar; Ele preserva porque está escrevendo uma nova etapa. Ele esconde para depois revelar com poder. Em tempos de ameaça e caos, a tevah torna-se símbolo do cuidado divino, do refúgio em meio ao julgamento e da esperança de novos começos. Noé sai da arca para um mundo renovado; Moisés é tirado das águas para liderar um povo rumo à promessa. A história que começou no Gênesis — com criação, queda e juízo — continua no Êxodo, com libertação, redenção e aliança.

Essas imagens da tevah apontam para algo ainda maior: Cristo, o verdadeiro instrumento de salvação. Assim como Noé foi guardado da destruição dentro da arca, e Moisés protegido da morte no cesto de papiro, nós somos salvos em Cristo — aquele que nos conduz da morte para a vida, do juízo para a graça. Nele encontramos nosso refúgio, segurança e um novo começo. A tevah de ontem era feita de madeira e betume; a de hoje foi levantada sobre uma cruz e selada, não com betume, mas com o sangue eterno do Cordeiro de Deus. “O Senhor é bom, um refúgio em tempos de angústia. Ele protege os que nele confiam.” (Naum 1:7, NVI)

Jesus é a nossa tevah. Em Cristo, somos libertos, transformados e enviados com um propósito. Ele é o nosso lugar seguro, a arca da redenção onde somos preservados pelo poder da graça. Assim como Noé entrou na arca e foi salvo das águas, e Moisés foi colocado no cesto e resgatado da morte, nós fomos colocados em Cristo para sermos guardados da condenação eterna e preparados para uma nova jornada - a Canaã Celestial.  “Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo.” (João 10:9, NVI)

A nossa salvação não depende de nossa força ou das circunstâncias que nos cercam, mas de onde estamos colocados. Se estamos em Cristo — se habitamos na tevah que Deus preparou — então nada poderá nos separar do Seu amor e do Seu propósito.

Talvez hoje você se encontre em um momento de insegurança, ameaça ou silêncio. Talvez esteja sendo carregado pelas águas incertas da vida, como Moisés no Nilo. Ou talvez esteja fechado dentro da arca, como Noé, esperando a tempestade passar. Em qualquer dos casos, saiba: se você está em Cristo, está seguro. Deus não apenas protege — Ele conduz. Seu livramento é também o berço de algo novo. “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2 Coríntios 5:17, NVI)

A tevah nos ensina que a salvação de Deus nunca vem vazia: ela é cheia de propósito. Seja na madeira bruta da arca, no junco do cesto ou na cruz de Cristo, o livramento sempre aponta para um recomeço.

Que hoje você possa confiar nesse Deus que preserva, prepara e envia. E que, com fé, obediência e esperança, entre e permaneça na tevah eterna — Cristo.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

25-ter-mar-2025

 

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