QUANDO DEUS ESCOLHE ESQUECER

 “Pois eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados.” (Jeremias 31:34 – NVI)

Estou escrevendo um livro para meus netinhos, pois quero contar a eles um pouco da minha história — minha infância, minha adolescência e minha juventude – são as minhas lembranças. Quero que conheçam melhor o avô que hoje veem com cabelos brancos, mas que um dia também foi menino, sonhador, às vezes arteiro, outras vezes pensativo, mas sempre acompanhado pela mão de Deus. Guardei muitas lembranças ao longo da vida. Algumas são engraçadas, outras me emocionam até hoje. Há histórias simples, mas cheias de significado. E é por isso que resolvi escrevê-las.

Todos nós carregamos lembranças. Algumas nos fazem sorrir. Outras, apertam o peito. Há memórias que nos fortalecem, e há aquelas que gostaríamos de apagar. Mas por que será que Deus nos deu a capacidade de lembrar, mesmo das coisas ruins? A resposta pode parecer simples, mas carrega um propósito profundo: a memória é uma ferramenta de Deus para a nossa transformação.

Deus nos criou com lembranças para que nos lembremos do Seu amor, aprendamos com os nossos erros e não repitamos os caminhos de dor. As boas lembranças aquecem o coração, nos fazem ser gratos. Já as más, quando entregues a Deus, se tornam degraus de crescimento. Até as feridas podem virar testemunhos.

Mas quando olhamos para Deus, encontramos algo diferente: Ele declara que não se lembra dos nossos pecados. Como pode isso? Deus não tem lapsos de memória. Ele é onisciente, sabe de tudo. Então, o que significa dizer que Ele “não se lembra”?

Essa é uma forma bíblica de expressar o perdão completo e definitivo. Quando Deus perdoa, Ele escolhe não mais levar aquilo em conta. Ele não ignora o pecado, mas o apaga da lista de cobranças porque o preço já foi pago por Jesus na cruz. Isso não é amnésia divina — é graça em ação.

A cruz é o lugar onde o juízo foi satisfeito. A justiça exigia pagamento, e Jesus ofereceu a Sua vida – o Seu sangue. Agora, o Pai olha para quem crê e vê o Filho em seu lugar. Por isso, pode dizer com verdade: “Não me lembrarei mais dos seus pecados.”

Isso é diferente da nossa maneira de perdoar. Muitas vezes dizemos que perdoamos, mas guardamos a mágoa, deixamos a lembrança viva. Deus não. Ele ensina um novo padrão: O perdão de Deus não deixa rastros de condenação.

Na prática, isso nos traz descanso. Se Deus escolheu esquecer, por que insistimos em lembrar o que Ele já apagou? Quantas vezes deixamos a culpa nos prender, mesmo depois do arrependimento sincero? Vivemos como se ainda estivéssemos devendo, quando na verdade a dívida foi cancelada no Calvário.

O profeta Miquéias expressou isso de forma linda: “Tornarás a ter compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar.” (Miquéias 7:19 – NVI). Deus não apenas perdoa. Ele joga os pecados no fundo do mar — e não mergulha para buscá-los de volta.

Agora pense: se Deus, o justo juiz, escolhe não se lembrar, por que deveríamos nós nos acusar ou acusar os outros?

Sim, há lembranças ruins em nossa história. Mas quando entregues ao Senhor, elas se tornam marcas de cura e não de culpa. Deus pode usar até aquilo que foi doloroso para gerar testemunhos e compaixão no nosso coração. E tem mais: a memória do perdão precisa ser maior do que a memória da queda. Lembrar que fomos perdoados, redimidos, aceitos, deve ser o que mais ocupa nossa mente.

Paulo, que tinha um passado marcado por perseguições à Igreja, disse algo que nos inspira: “Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo...”  (Filipenses 3:13-14 – NVI). Não é que ele apagou da mente tudo o que viveu, mas escolheu não viver preso ao passado. A graça era maior do que a culpa.

Deus nos deu a memória como ponte para o crescimento e não como prisão do passado. Ele nos mostra que é possível lembrar com propósito e esquecer com graça.

Se o Senhor já decidiu não lembrar dos teus pecados, não viva como se eles ainda estivessem pesando sobre você. O sangue de Jesus é suficiente. O perdão é completo. A nova vida é real. Creia nisso. Viva isso. E quando a lembrança te visitar, que ela te leve ao louvor — não à culpa. “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1 – NVI)

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

27/dom/abr/25

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