A PEDAGOGIA DA
AFLIÇÃO
“Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os
teus decretos.” (Salmo 119:71 – NVI)
Ninguém em sã consciência gosta de sofrer. Não há quem
deseje, voluntariamente, ser afligido, amargurado ou passar por provações. Mas
há momentos na vida em que essas experiências, embora indesejadas, tornam-se
instrumentos preciosos nas mãos de Deus. O salmista nos conduz a essa reflexão
em alguns versos do Salmo 119, especialmente nos versículos de 66 a 72.
Ele começa reconhecendo a bondade do Senhor. Sua oração não parte
de um espírito amargurado ou revoltado, mas de um coração que compreende que Deus
é bom e que tudo o que Ele faz é bom — mesmo quando não entendemos de imediato.
No verso 65, ele expressa isso claramente: "Trata com bondade o teu
servo, Senhor, conforme a tua promessa." Aqui está um resumo não
apenas da vida do salmista, mas da nossa também. Ele enxerga tanto a
prosperidade quanto a adversidade como manifestações da bondade de Deus.
Vivemos num tempo em que as pessoas querem tudo fácil e sem
sofrimento. Qualquer dor ou dificuldade é vista como algo ruim, que deve ser
evitado. Mas, para quem segue a Jesus, sabemos que Deus usa até o sofrimento
para nos ensinar. Através das dificuldades, Ele nos ajuda a melhorar, a fazer o
que é certo e a ficar mais perto dEle.
O salmista então se dobra diante de Deus como um aluno
diante de um mestre. Ele suplica não por um conhecimento acadêmico, mas por um
entendimento profundo das verdades eternas. Clama por sabedoria e
discernimento, consciente de que os preceitos do Senhor são mais valiosos que
qualquer conhecimento humano. Ele quer aprender não apenas com a mente, mas com
o coração.
É nesse contexto que ele começa a falar de uma aflição que
lhe foi imposta. Antes de ser corrigido, andava pelo caminho do erro. Quantas
vezes isso se aplica a nós! Quantas decisões tomamos movidos pelos nossos
próprios desejos, colocando nossos planos acima da vontade de Deus. É fácil se
desviar quando confiamos demais em nossa própria sabedoria.
E é aí que, muitas vezes, as provações nos alcançam como
cercas de espinhos. Elas não surgem para nos destruir, mas para nos proteger —
para nos manter no bom pasto, sob os cuidados do Bom Pastor. Assim como um pai
que disciplina o filho por amor, Deus permite que certas dificuldades nos
ensinem lições que jamais aprenderíamos de outro modo.
Hoje, quando olhamos para trás, percebemos que algumas das
experiências mais dolorosas foram também as mais formadoras. Um diagnóstico
inesperado, uma perda repentina, uma crise no trabalho ou um conflito familiar
— situações que nos forçaram a buscar em Deus aquilo que o mundo não poderia
nos oferecer. No auge da dor, clamamos por sabedoria e direção, assim como o
salmista: "Ensina-me bom senso e conhecimento, pois confio nos teus
mandamentos." (v. 66)
Ao final, ele reconhece com gratidão: “Foi-me bom ter
sido afligido, para que aprendesse os teus decretos.” (v. 71) O
sofrimento não foi em vão. Ele o conduziu a um conhecimento mais profundo da
vontade de Deus. Ele aprendeu que a verdadeira segurança não está na ausência
de problemas, mas na presença constante da Palavra de Deus como guia e
sustento.
Nos dias de hoje, essa lição continua válida. Em meio às
pressões da vida moderna — a busca incessante por sucesso, a ansiedade gerada
pelas redes sociais, os desafios nas relações e as incertezas econômicas —
podemos nos lembrar de que Deus continua usando cada circunstância para nos
moldar. Não devemos fugir do processo, mas abraçá-lo com fé, sabendo que todas
as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28).
Que possamos, como o salmista, reconhecer a bondade de Deus
em todas as estações da vida e aprender, mesmo nas aflições, a amar mais
profundamente os Seus decretos.
“Algumas das lições mais valiosas da vida só florescem no
solo da aflição; Deus transforma dor em sabedoria e sofrimento em maturidade.”
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
10/jun/25
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