CONSTRUINDO A PAZ
EM CASA: UM CHAMADO À MATURIDADE CRISTÃ
“Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto
conduz à paz e à edificação mútua.” Romanos 14:19 (NVI)
Família é um presente de Deus, mas nem sempre é fácil
desembrulhar esse presente. Conviver diariamente com pessoas imperfeitas, com
ideias e temperamentos diferentes, é um dos maiores desafios que enfrentamos.
Mas também é uma das maiores oportunidades de crescimento espiritual. Amar no
lar é amar de verdade, com renúncia, com paciência, com perdão.
Certa vez, ouvi uma frase que me marcou: "Família é
como jardim: exige cuidado constante, mesmo quando os espinhos ferem mais do
que as flores encantam." Isso é profundamente verdadeiro. Nem todo dia
é harmonia, mas todo dia é uma chance de recomeçar. A paz não brota
automaticamente; ela é construída com esforço, oração e maturidade.
A Bíblia não romantiza a vida familiar. Pelo contrário, ela
expõe com sinceridade as dores e conflitos dentro de casa, inclusive entre
aqueles que serviam a Deus. Davi, por exemplo, foi um grande rei e um homem
segundo o coração de Deus, mas enfrentou tragédias em sua casa: adultério,
assassinato, incesto, rebelião dos filhos. Jacó conviveu com rivalidades entre
suas esposas e filhos. Abraão viu sua família dividida por decisões
precipitadas. Eli perdeu seus filhos para a corrupção, e Isaque e Rebeca cultivaram
favoritismos que geraram engano e separação. Nem Noé, o homem justo do dilúvio,
escapou de conflitos domésticos. Essas histórias não estão na Bíblia por acaso.
Elas são espelhos, advertências e também convites à reflexão.
Nosso lar pode ser o lugar mais seguro do mundo, mas também
pode se tornar um campo de batalha se não formos guiados pelo Espírito Santo. É
por isso que o apóstolo Paulo, em Romanos 14, fala sobre a importância de não
transformar convicções pessoais em motivo de tropeço para os outros. Ele estava
tratando de questões de consciência entre os cristãos — o que comer ou deixar
de comer — mas o princípio se aplica perfeitamente à vida em família. O
problema não era o alimento em si, mas a maneira como as pessoas se tratavam
por causa dele.
Quantas vezes, dentro de casa, usamos nossas opiniões como
armas? Quantas discussões começam por coisas pequenas, mas terminam em grandes
feridas? Às vezes, estamos certos em nossos argumentos, mas errados em nossa
atitude. A maturidade cristã exige mais do que estar certo — exige saber como
tratar o outro com respeito e amor, mesmo em meio às diferenças.
Paulo escreve: “Se o seu irmão se entristece por causa
do que você come, você já não está agindo por amor” (v.15). Aplicando
isso à vida familiar, podemos entender que nossas palavras, nosso tom, nossa
rigidez ou frieza podem ferir aqueles que mais amamos. Promover a paz não é
ceder em tudo, mas é saber escolher a hora certa de falar e o jeito certo de
agir. Requer sabedoria, empatia e discernimento espiritual.
A fé não pode ser usada como justificativa para atitudes
duras ou arrogantes dentro de casa. Paulo diz que tudo o que não provém da fé é
pecado (v.23), e isso nos leva a refletir: estamos vivendo com consciência
limpa diante de Deus também no trato com nossa família?
Construir um lar onde reina a paz é um chamado espiritual. É
fazer todo o esforço — como o texto base nos lembra — para promover a
edificação mútua. Isso inclui pedir perdão, perdoar sem esperar retorno, ouvir
com atenção e transformar as diferenças em pontes, não em muros. Exige coragem
para deixar de lado o orgulho e abrir espaço para a graça.
A verdadeira espiritualidade começa onde ninguém vê: no
modo como tratamos quem está ao nosso lado todos os dias. Se queremos
agradar a Deus, devemos fazer do nosso lar um lugar onde Ele se sinta à vontade
para habitar. Isso não significa que tudo será perfeito, mas que haverá amor
suficiente para recomeçar sempre que for necessário.
No fim das contas, o maior testemunho de fé que podemos dar
não está apenas em nossos sermões, ministérios ou postagens religiosas — mas na
maneira como amamos, servimos e perdoamos dentro da nossa própria casa.
A paz no lar não é fruto da ausência de conflitos, mas
da presença constante do amor, da renúncia e da maturidade espiritual inspirada
por Cristo.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
26/jun/25
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