UNIDADE: UM
CHAMADO À PAZ
Não sei ao certo quantas denominações cristãs existem hoje
no Brasil. Mas sei que é um número expressivo. Em muitos bairros, encontramos
diversas igrejas espalhadas por ruas inteiras — algumas em casas, outras em
pequenas garagens adaptadas — onde, em sua maioria, há pessoas sinceras que
proclamam o nome de Jesus como Salvador.
No entanto, o que preocupa não é o número de igrejas, mas a
rivalidade que, por vezes, surge entre elas. Cada uma defende sua doutrina como
sendo a mais fiel às Escrituras. E embora muitas dessas interpretações tenham
fundamento bíblico, a maneira como são tratadas pode gerar disputas, e não
unidade.
No tempo dos apóstolos, a preocupação de Paulo não era com o
número de congregações, mas com a concordância no falar e a ausência de
divisões entre os irmãos. Ele exorta os cristãos de Corinto a buscarem unidade
de pensamento e parecer, como vemos em 1 Coríntios 1:10. Essa preocupação
continua profundamente atual. O Espírito Santo ainda nos chama à unidade — não
à uniformidade forçada, mas à comunhão verdadeira, baseada no amor e na
maturidade espiritual.
A igreja de Corinto é um retrato claro dos riscos da
desunião. Ali, grupos se formavam em torno de líderes humanos: uns diziam ser
de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro, e outros ainda de Cristo — como se
Cristo estivesse dividido. Paulo reage com firmeza. A fé não está apoiada em
homens, mas no Cristo crucificado. E quando perdemos isso de vista, abrimos
espaço para orgulho, competição e disputas que enfraquecem o corpo – que é a
igreja.
Esse chamado à pureza no falar e à verdade que edifica é
urgente. Precisamos abandonar discursos marcados pela vaidade, pela defesa cega
de posições e pela falta de sensibilidade espiritual. As palavras revelam o
coração, e o coração da igreja precisa estar em sintonia com o coração do Pai.
Hoje, mais do que nunca, é necessário vigilância no que
dizemos — seja nas redes sociais, nas conversas nos corredores da igreja ou nos
encontros informais. Que nossas palavras sirvam para reconciliar, edificar e
promover a paz, e não para levantar muros entre irmãos que servem ao mesmo
Senhor.
A divisão entre o povo de Deus se tornou algo visível
demais. Paulo não ignorava esse risco. Ao usar a palavra grega schismata
(divisões), ele falava de fraturas, rupturas dentro da igreja. Ele enxergava,
já nos primeiros tempos da igreja, o perigo de preferências humanas se
sobreporem à centralidade de Cristo. E isso enfraquece o testemunho da igreja
no mundo.
Para Paulo, a unidade da igreja é mais do que uma ideia
bonita: é uma expressão do próprio evangelho. Cristo não morreu para que
formássemos grupos rivais, mas para fazer de nós um só corpo. Mesmo com
diferentes dons, formas de adoração e estilos de culto, somos todos parte de um
mesmo corpo — o corpo de Cristo.
Divisões internas prejudicam a comunhão, entristecem o
Senhor e afastam aqueles que estão buscando a fé. Paulo não nega a diversidade
— ela é natural e até saudável —, mas nos convida a preservar a unidade no
essencial, a cultivar o respeito nas diferenças e a manter o amor acima de
tudo.
O que está faltando entre nós, povo de Deus?
Talvez o primeiro passo seja cuidar do modo como falamos.
Que nossas palavras sejam temperadas com graça e verdade, refletindo o caráter
de Cristo e não as paixões humanas. E como consequência, devemos buscar com
sinceridade a unidade, reconhecendo que pequenas diferenças não podem se
transformar em grandes muralhas entre irmãos que caminham rumo ao mesmo céu.
Afinal, quantas placas denominacionais haverá no céu? Você
já parou para pensar nisso? O céu não será dividido por nomes de igrejas,
doutrinas secundárias ou preferências litúrgicas. Lá, só haverá um povo: o povo
remido pelo sangue do Cordeiro. E se vamos viver juntos por toda a eternidade,
por que não começamos a viver em unidade desde já?
“A verdadeira unidade não se constrói com igualdade
absoluta, mas com corações rendidos ao mesmo Senhor, que escolhem amar acima de
qualquer diferença.”
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
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