ARREPENDIMENTO E PERDÃO: O CAMINHO DA VITÓRIA NAS RELAÇÕES

“Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Eu digo a você: não até sete, mas até setenta vezes sete.” Mateus 18:21-22 (NVI)

Perdoar não é fácil, mas é um passo necessário para quem segue a Cristo. Em algum momento da vida, todos nós vamos lidar com feridas causadas por palavras, atitudes ou omissões de alguém. E, se não cuidarmos do nosso coração, a mágoa pode crescer, criar raízes e nos adoecer por dentro. Não só emocionalmente, mas até fisicamente.

O perdão, então, não é apenas um gesto bonito — é um remédio. Ele cura quem foi ferido e liberta quem errou. Jesus nos ensinou a perdoar não porque seja simples, mas porque é o único caminho para viver em paz com os outros e com Deus. Perdoar é necessário. É uma escolha que nos aproxima do coração do Pai.

Relacionamentos fortes não se constroem com pessoas perfeitas, mas com gente disposta a se arrepender e a perdoar. Pedro achou que sete vezes já era um bom número para perdoar. Mas Jesus respondeu com um número simbólico — setenta vezes sete — mostrando que o perdão não deve ter limite. Porque o amor de Deus por nós também não tem.

Jesus então contou uma parábola para ilustrar. Um homem devia ao rei uma quantia impagável. Ele implorou por paciência, e o rei, cheio de compaixão, perdoou toda a dívida. No entanto, aquele mesmo homem saiu dali e encontrou alguém que lhe devia pouco. Em vez de perdoar, mandou prendê-lo. Quando o rei soube, ficou indignado. Aquele que foi perdoado de tanto não teve coragem de perdoar tão pouco. E perdeu tudo o que havia recebido.

Essa história nos ensina algo claro: quem foi muito perdoado precisa aprender a perdoar. Deus nos chama para uma vida marcada pela graça. Isso não significa que tudo será perfeito, mas sim que haverá espaço para o arrependimento sincero e o perdão verdadeiro. “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.”  Efésios 4:32 (NVI)

Quando alguém se arrepende de verdade, está abrindo o coração e pedindo uma nova chance. E quando o outro escolhe perdoar, ambos vencem. A relação amadurece. O perdão não ignora o erro, mas decide não carregar o peso da mágoa. E o arrependimento não é só dizer “me desculpa” — é mudar de atitude, reconhecer o estrago e tentar consertar o que foi feito.

No fim, uma relação saudável é feita de duas pessoas imperfeitas que se esforçam para viver o perdão. Isso não é fraqueza. É sinal de que a graça de Deus está agindo no meio delas.

O perdão traz liberdade. Quando você perdoa, não está dizendo que o que fizeram com você foi certo. Está apenas escolhendo não carregar mais esse peso. Você solta a mágoa — e fica mais leve. É como abrir a porta de uma prisão e perceber que quem estava preso era você.

Nunca devemos esquecer o que Cristo fez na cruz. Mesmo sendo nós pecadores e injustos, Ele não guardou mágoas. Pelo contrário, carregou os nossos pecados sobre si — e nos ofereceu perdão. Ele nos amou com justiça e nos salvou com graça.

A Bíblia diz: dos seus pecados não me lembrarei mais” (Hebreus 8:12). Seria isso uma amnésia espiritual? Não. Isso é amor verdadeiro. Deus não esquece porque perdeu a memória. Ele escolhe não cobrar mais o que já foi pago por Jesus. Ele nos ama com um amor que perdoa sem reservas — e nos chama a fazer o mesmo.

Nossa dívida era impagável. Não havia nada que pudéssemos fazer para nos livrar dela. Mas, por amor, Deus nos perdoou. Quem entende isso de verdade, não consegue viver negando perdão aos outros.

Jesus nos deixou um exemplo claro de perdão para que o sigamos. Ele foi traído, rejeitado, humilhado — e mesmo assim, na cruz, orou: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”
Sigamos o Seu exemplo. Não guardemos mágoas.

Quem anda com Cristo aprende a perdoar. Quem perdoa, caminha mais leve.

"Fomos perdoados de uma dívida impagável — e o perdão que recebemos se torna o caminho pelo qual devemos amar, restaurar e viver com leveza."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

03/jun/25

 

FIRMEZA COM SABEDORIA

“Não voltarei com você”, disse Samuel a Saul. “Você rejeitou a palavra do Senhor, e o Senhor o rejeitou como rei de Israel!” [...] “Então Samuel voltou com Saul, e este adorou ao Senhor.” 1 Samuel 15:26,31 (NVI)

Ao ler os versículos 26 e 31 de 1 Samuel 15, é natural que surja uma dúvida: por que Samuel, após declarar com firmeza que não voltaria com Saul, acaba acompanhando-o logo em seguida? Isso parece, à primeira vista, uma contradição — mas, quando analisamos o contexto com atenção, percebemos que o gesto do profeta carrega muito mais profundidade e coerência do que pode parecer.

A situação começa quando Deus ordena a Saul, por meio de Samuel, que destrua completamente os amalequitas e tudo o que lhes pertence. Saul, porém, desobedece. Ele poupa o rei Agague e retém o melhor do rebanho, alegando que o faria para oferecer sacrifícios ao Senhor. Samuel, ao saber disso, o confronta severamente e declara: “Você rejeitou a palavra do Senhor, e o Senhor o rejeitou como rei.”

Nesse momento, Samuel recusa acompanhar Saul. Sua negativa é firme: ele não está apenas repreendendo o rei, mas está fazendo um gesto público que confirma o juízo de Deus. A comunhão entre os dois foi rompida, e Samuel se recusa a fingir que tudo está bem. Ele não quer que sua presença ao lado de Saul pareça uma aprovação tácita da desobediência do rei. Era um posicionamento espiritual e profético diante do povo.

No entanto, após esse momento, Saul insiste. Ele implora que Samuel volte com ele “para que eu adore ao Senhor diante dos israelitas”. Saul está preocupado com sua imagem pública, não necessariamente com seu arrependimento diante de Deus. Ainda assim, Samuel volta com ele. Não para restaurar o rei, nem para anular a sentença divina, mas por uma razão que envolve sabedoria e sensibilidade. O profeta compreende que seu gesto pode evitar um escândalo maior ou desordem diante do povo. Ele não está recuando na verdade — está apenas lidando com a situação de forma estratégica.

Pouco depois, o próprio Samuel executa Agague, o rei dos amalequitas, mostrando claramente que sua obediência a Deus está intacta. A presença de Samuel ao lado de Saul não anula a condenação divina. Ela apenas revela que é possível manter a fidelidade à verdade sem provocar rupturas desnecessárias, desde que o coração esteja alinhado com Deus.

Nos nossos dias, essa atitude nos ensina muito. Vivemos em tempos de grande pressão — dentro da igreja, da sociedade, do ambiente familiar ou profissional — e nem sempre é fácil permanecer fiel à Palavra de Deus. Muitas vezes, somos tentados a suavizar a verdade para agradar alguém, manter a paz, evitar conflitos ou preservar cargos e relacionamentos.

Mas Samuel nos mostra que não se negocia obediência. Ele não cede à manipulação de Saul, não se deixa levar por um apelo emocional. Ao mesmo tempo, ele age com equilíbrio, evita expor Saul desnecessariamente, e conduz a situação com discernimento. Ele é firme, mas não arrogante. Verdadeiro, mas também sábio.

Quando somos confrontados com decisões difíceis, precisamos lembrar que a fidelidade a Deus deve vir antes da necessidade de agradar as pessoas. Isso não significa agir com dureza ou insensibilidade, mas com discernimento espiritual. Nem todo conflito precisa ser público; nem toda correção exige plateia. Às vezes, a sabedoria está justamente em saber agir com firmeza no íntimo e com misericórdia diante dos homens.

Samuel representa aquele que permanece íntegro diante de Deus, mesmo quando isso o coloca em posições desconfortáveis diante dos homens. Ele é exemplo de um servo que não se vende, não se omite, e, ainda assim, age com humildade e prudência.

Nosso desafio hoje é seguir esse exemplo: sermos uma voz equilibrada, guiada pelo Espírito, fiel à verdade, mas sensível ao momento. Em tempos de crise, pressão e aparência, que sejamos como Samuel — comprometidos com o que Deus pensa, não com o que os homens esperam.

"A fidelidade que honra a Deus caminha lado a lado com a sabedoria que preserva o povo — sem negociar a verdade, nem ferir o propósito."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

02/jun/25

 

A GRAÇA QUE TRANSBORDA

“Vai, venda o azeite, e pague suas dívidas. E você e seus filhos poderão viver do que sobrar.” 2 Reis 4:7 (NVI)

Esse versículo encerra um dos milagres mais comoventes do ministério do profeta Eliseu: a multiplicação do azeite em resposta ao clamor de uma viúva aflita. Ela havia perdido o marido e, agora, prestes a perder também os filhos para a escravidão, recorre ao homem de Deus. Tudo o que possuía em casa era uma simples botija de azeite. Mas foi justamente esse pequeno recurso que Deus usou para fazer um grande milagre.

Eliseu orienta a mulher a recolher vasilhas emprestadas e começar a derramar o azeite. E o que parecia ser pouco não cessava de fluir. A botija continuava jorrando até que a última vasilha fosse cheia. O milagre estava completo, mas o profeta não encerra sua orientação aí. Ele diz: “Venda o azeite, pague suas dívidas e viva com seus filhos do que sobrar.”

O azeite, na Bíblia, muitas vezes representa o Espírito Santo — a presença de Deus, a unção, o sustento, a capacitação e a luz que ilumina os corações. Aplicando essa história aos nossos dias, podemos perceber algo profundo: aquilo que temos, por menor que pareça, quando entregue a Deus, se torna suficiente para curar, restaurar e transformar realidades inteiras.

Quando o profeta manda “vender o azeite”, ele está ensinando que o dom do Espírito não deve ser apenas guardado, mas vivido, compartilhado, colocado em ação. O Espírito nos concede dons, sabedoria, consolo e poder — não para que fiquem estagnados, mas para que sejam usados em favor de outros e para glória de Deus. Aquilo que o Espírito opera em nós deve se transformar em atitudes, palavras, obras que abençoam e edificam.

Depois, Eliseu diz: “Pague suas dívidas.” A obra do Espírito em nossa vida também nos conduz à responsabilidade. Não se trata apenas de bênçãos espirituais — mas de assumir compromissos, de restaurar o que foi quebrado, de acertar o que está pendente. Deus não ignora nossas dívidas emocionais, morais, familiares, espirituais. Pelo contrário: Ele nos capacita a lidar com elas. O azeite não foi apenas um milagre bonito, mas uma solução prática. Assim também o Espírito Santo atua hoje — Ele não apenas nos consola, mas também nos move a agir com sabedoria e dignidade.

Por fim, a promessa é maravilhosa: “você e seus filhos poderão viver do que sobrar.” O milagre não foi apenas o suficiente para resolver a crise, mas foi além — o que sobrou se tornou sustento, segurança e herança. Essa é a natureza do agir de Deus: Ele não faz apenas o necessário — Ele faz transbordar. Aquilo que Ele derrama sobre nós é tão abundante que não apenas resolve os problemas do presente, mas sustenta o futuro. A viúva e os filhos não apenas escaparam da escravidão, mas passaram a viver de uma nova provisão.

Hoje, esse azeite continua fluindo. O Espírito Santo segue sendo derramado, conforme a promessa que lemos no profeta Joel, enchendo corações vazios, dispostos e humildes. Ele é suficiente para suprir crises, restaurar histórias e sustentar lares. Deus ainda nos convida: “Entrega o pouco que tens.” O que importa não é o tamanho da botija, mas a disposição do coração. Quando nos colocamos diante do Senhor com sinceridade e fé, Ele transforma o pouco em abundância e o comum em algo extraordinário.

A graça de Deus é assim. Ela nos livra da escravidão do pecado, abre nossos olhos para a eternidade, e nos chama a viver não do esforço humano, mas do que sobra da Sua abundância. O Espírito não se esgota, não seca, não falha. Ele é o azeite que transborda.

“O pouco que se entrega a Deus, nas mãos do Espírito Santo, se torna fonte inesgotável de provisão, libertação e vida que transborda.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

01/jun/25

 

A VIDA QUE BROTA DO ESPÍRITO

“Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.” Romanos 8:1 (NVI)

Ao lermos o capítulo 8 da carta de Paulo aos Romanos, nos deparamos com um texto extraordinário, diferente de tudo o que veio antes. É como se uma nova atmosfera tomasse conta da carta — uma atmosfera de liberdade, poder e esperança. Nesse capítulo, o Espírito Santo ocupa o centro da cena, sendo mencionado dezessete vezes. Isso já nos mostra algo essencial: a salvação não é possível sem a atuação viva e constante do Espírito de Deus.

Ele é o protagonista desse capítulo. É o Espírito que transforma, que vivifica, que conduz. Onde antes havia condenação, agora há vida. Onde antes havia culpa, agora há paz. A presença do Espírito Santo muda tudo. É como se o Pentecostes acontecesse novamente naquele capítulo, não com sinais visíveis, mas com a força inconfundível da presença divina que sopra vida onde antes havia apenas morte.

E é impossível ler esse capítulo sem reconhecer uma verdade inegociável: não podemos salvar a nós mesmos. Toda a nossa força, todo o nosso conhecimento, nossas conquistas, recursos ou méritos — nada disso é suficiente para abrir os portais da eternidade. Nenhum esforço humano pode alcançar o que apenas a graça de Deus pode oferecer. A salvação é dom. É presente. E é o Espírito Santo quem a aplica em nós.

Ele nos convence do pecado, nos regenera por dentro, nos transforma dia após dia, e nos conduz, com paciência e fidelidade, à vida eterna. Se não fosse essa intervenção divina, permaneceríamos perdidos, mesmo que cercados de boas intenções. “Ele nos salvou não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia. Ele nos salvou por meio do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.”  Tito 3:5 (NVI)

A ação do Espírito é multiforme. Ele age de maneira rica e variada, adaptando-se à nossa necessidade e à soberania de Deus. É o Espírito quem nos liberta da escravidão do pecado. É Ele quem nos dá força para obedecer à vontade de Deus — algo impossível quando tentamos pela carne. Também é Ele quem abre nossos olhos espirituais, revelando o caminho da santidade e nos ensinando a andar por ele.

Nada disso nasce em nós. Tudo é resultado da presença silenciosa, mas transformadora, do Espírito em nós. Ele opera como um vento que não se vê, mas que move, muda e molda com poder e graça.

O capítulo também deixa evidente que há uma tensão constante dentro de nós. Duas forças atuam: a carne e o Espírito. É um conflito real, diário e decisivo. De um lado, está a carne, com suas exigências, suas vaidades, seus desejos desordenados. Ela nos empurra para o egoísmo, para o imediatismo, para a autossuficiência. A carne quer controlar nosso tempo, nossas prioridades, nossos pensamentos.

Do outro lado, está o Espírito. Ele age com mansidão, mas com autoridade. Não impõe, mas convence. Não domina, mas transforma. Ele nos inclina para Deus, nos chama à obediência, nos conduz à vida. Ele nos mostra que não vivemos mais para nós mesmos, mas para Aquele que nos amou e se entregou por nós. “E porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis.” Ezequiel 36:27 (NVI)

Desse embate surgem dois caminhos. Um conduz à morte — e não apenas a morte física, mas à morte espiritual, emocional, relacional. O outro leva à vida e à paz — paz com Deus, paz consigo mesmo, paz com o próximo. A cada dia, nossas escolhas mostram a quem estamos ouvindo: à carne ou ao Espírito.

A decisão é nossa, mas o poder vem d’Ele. Quando nos rendemos ao Espírito, experimentamos a vida plena que Deus deseja nos dar. Não uma vida isenta de lutas, mas uma vida com sentido, com direção, com eternidade no horizonte.

Onde o Espírito Santo age, a vida ressurge. Ele não apenas nos livra da condenação, mas nos conduz, com graça e poder, a uma existência marcada por paz, transformação e esperança eterna.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

31/mai/25

 

VIVENDO A PALAVRA

“Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.” Tiago 1:22 (NVI)

Praticar não é apenas escutar com atenção ou acumular conhecimento sobre as Escrituras. É dar um passo além. É transformar aquilo que se ouve em vida, em atitude, em resposta concreta ao que Deus nos revelou.

Quando Tiago escreveu sua carta, usou uma palavra muito significativa: o verbo grego poiéō. Esse termo tem um sentido amplo — fazer, agir, produzir, executar. É como se ele dissesse: não basta ouvir a Palavra com reverência, é preciso vivê-la com intencionalidade.

Esse verbo também é a raiz da palavra “poeta”, que na cultura grega antiga não era apenas alguém que escrevia versos, mas alguém que criava, que produzia algo novo, belo e verdadeiro. O poeta era, em certo sentido, um autor da realidade, alguém que trazia à luz aquilo que antes estava apenas na mente ou no coração. Assim também deve ser o cristão: um autor da fé vivida, alguém que coloca em prática aquilo que aprendeu, e transforma isso em ações concretas no dia a dia.

Tiago nos adverte que quem ouve a Palavra, mas não a pratica, engana a si mesmo. Ele vive uma ilusão espiritual, uma fé que não produz frutos. E isso é grave. O evangelho não é um conhecimento para ser arquivado, mas uma verdade que exige resposta prática. Não basta saber o que é certo, é preciso viver de forma coerente com o que se crê. A fé cristã não se resume a doutrinas corretas ou a rituais bem executados. Ela precisa sair do papel e alcançar a rua, a casa, o trabalho, as relações. A fé precisa se tornar visível em atitudes.

Infelizmente, o que se vê com frequência é o oposto disso. Em muitos ambientes, ser cristão virou quase um título decorativo, um rótulo que abre portas, que soa bonito. Mas o verdadeiro cristianismo não é confortável nem conveniente — ele nos desafia. Ele exige amor prático, perdão real, compaixão concreta. E isso custa. Custa o nosso orgulho, a nossa vaidade, as nossas prioridades. "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." Mateus 16:24 (NVI)

Não foi à toa que Jesus criticou duramente os fariseus do seu tempo. Eles conheciam bem as Escrituras, tinham aparência de santidade, mas suas vidas estavam longe do coração de Deus. Jesus os acusava de honrar a Deus com os lábios, mas de manter o coração distante. Impunham aos outros fardos que eles mesmos não carregavam. Davam importância às tradições, mas esqueciam o essencial: justiça, misericórdia e fé. Eram religiosos por fora, mas vazios por dentro.

Esse tipo de fé Jesus rejeitou. E é isso que Tiago também combate. Ele quer nos despertar para uma vida cristã verdadeira, coerente e atuante. Nossa fé precisa ser lógica na mente, mas prática no espírito. Não podemos viver um cristianismo sem impacto, uma religião desligada da realidade e da necessidade do próximo. O mundo precisa ver Cristo em nós — não apenas nos discursos, mas nas escolhas, nas atitudes, nos gestos do cotidiano. "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta."  Tiago 2:17 (NVI)

Talvez a pergunta mais direta que Tiago nos faz é esta: estamos de fato vivendo o evangelho ou apenas nos iludindo com aparências? De que adianta rituais bonitos, cultos organizados, palavras bem escolhidas, se nossa vida não reflete aquilo que ouvimos? É preciso celebrar não só a liturgia do culto, mas também a liturgia da vida — o culto diário que prestamos a Deus com nossas ações.  “O Senhor diz: ‘Este povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita só de regras ensinadas por homens.’  Isaías 29:13 (NVI)

Cristianismo sem prática é apenas teoria. E teoria não transforma ninguém. Mas quando colocamos a Palavra em ação, ela ganha corpo, ela respira, ela toca. E então, não somos apenas ouvintes — somos praticantes. Somos autores de uma fé que muda o mundo começando por nós mesmos.

"A fé que apenas se ouve é vazia; mas a fé que se vive escreve poesia no cotidiano."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

30/mai/25

 

QUANDO DEUS MUDA A HISTÓRIA

“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!”   2 Coríntios 5:17 (NVI)

Como foi a sua conversão? Você se lembra de onde estava quando a graça de Deus te alcançou? Não me refiro ao lugar físico — uma igreja, um acampamento, um hospital ou sua casa. Estou falando de outro lugar: o estado da sua alma. Como estava o seu coração naquele dia? Qual era o peso que você carregava? Que vazio doía em silêncio e ninguém conseguia preencher? 

Cada pessoa tem uma história. Algumas foram alcançadas por Deus em meio à alegria, outras no fundo do poço. Há quem tenha ouvido sobre Ele desde a infância — como foi o meu caso — e há quem tenha vivido distante, indiferente ou até com o coração endurecido. Mas, independentemente do caminho, todos temos algo em comum: fomos surpreendidos pela graça. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé — e isto não vem de vocês, é dom de Deus.” Efésios 2:8 (NVI)

Sempre que reflito sobre isso, lembro da conversão de Paulo. Que história fora do comum!
Ele não foi alcançado em um culto emocionante. Não havia louvores que tocassem a alma, nem uma multidão rendida em adoração. Não havia ambiente de glória, nem um apelo coletivo ao arrependimento. Na verdade, tudo aconteceu no caminho da intolerância — no caminho da perseguição.

Paulo estava a caminho para prender cristãos. Não buscava a Deus — na verdade, lutava contra Ele. Mas foi justamente nesse cenário improvável, em meio ao ódio e à cegueira espiritual, que o céu se abriu... e a graça o alcançou. “Eu me deixei ser buscado por aqueles que não perguntavam por mim; fui achado por aqueles que não me procuravam.” Isaías 65:1 (NVI)

A ação de Deus no coração humano é algo extraordinário. Ele não segue nossos métodos nem se limita aos nossos horários. Ele age quando quer, do jeito que quer e onde quer. Foi assim com Paulo. E é assim com tantos de nós. “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito".  João 3:8 (NVI)

Muitos de nós fomos encontrados por Deus não quando estávamos em nossa melhor forma, mas justamente quando mais precisávamos. Talvez você estivesse buscando sentido para a vida. Talvez nem estivesse buscando nada. Mas Deus estava buscando você. Isso não é extraordinário?

Porque esse é o jeito d’Ele: entrar na história, mudar a direção e transformar o coração. "Eu sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade. Há alguma coisa difícil demais para mim?” Jeremias 32:27 (NVI)

Quando penso em tudo isso, uma pergunta continua ecoando em meu coração: Como foi que Deus mudou a sua trajetória? Quem você era antes de conhecê-Lo? E quem você é agora? A verdade é que, quando a graça nos alcança, nada permanece igual. E como tudo o que Deus faz é perfeito, acredito que você — assim como eu — se tornou alguém mais feliz, mais completo, e infinitamente melhor do que era antes.

Você tem valorizado esse encontro? Tem reconhecido o poder do sangue de Jesus que te resgatou? Lembre-se: você foi comprado por um alto preço. Nossa dívida era impagável — e mesmo assim, Cristo a pagou por nós. Não com prata, nem com ouro, mas com Seu próprio sangue, derramado em amor.

Às vezes, com o passar do tempo, a gente esquece. A rotina esfria a memória. Por isso, pare por um instante e se lembre. Lembre-se da primeira vez que sentiu a presença de Deus. Da paz que invadiu sua alma. Da lágrima que escorreu sem você entender exatamente o motivo. Aquele momento marcou o início de algo novo.

A conversão não é apenas uma lembrança antiga. É o começo de uma nova jornada. Um ponto de partida para um caminho que precisa ser trilhado todos os dias. E o mais importante: você não anda sozinho. A partir desse momento, a sua história se entrelaça com a história de Deus. Já não é mais uma vida comum. É uma vida com propósito, com direção, com destino eterno.

E se, por acaso, você ainda não viveu esse momento, saiba: Deus ainda chama. Ainda transforma vidas. Ainda cura. Ainda perdoa. Ainda salva. Talvez o seu encontro com Ele esteja acontecendo agora — neste exato momento em que você lê essas palavras. E, se for assim, abra o coração. Porque quando Ele entra, nada permanece como antes. “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração...” Hebreus 3:15 (NVI)

A conversão é mais do que um evento — é o início de uma jornada com Deus. Onde termina o nosso esforço, começa a graça. E onde a graça entra, tudo pode ser reescrito.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

29/mai/25

 

QUANDO DEUS AMA COM IRA E SALVA COM JUÍZO

"Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregá-lo, Israel? [...] Meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão." (Oséias 11:8-9 – NVI)

A pergunta é instigante: Deus é homem para ter emoções? Se Ele é perfeito e imutável, como explicar um texto como Oséias 11:8-9, onde parece haver um conflito interno em Deus — como se Sua justiça dissesse "julga", e Seu amor gritasse "perdoa"? Como pode um Deus que não muda, demonstrar tamanha tensão?

Essa passagem é, sem dúvida, uma das mais comoventes do Antigo Testamento. Ela nos leva ao coração de Deus diante de um povo rebelde, expondo uma tensão profunda — não entre fraquezas emocionais, mas entre dois de seus atributos eternos: justiça e amor.

Deus está falando sobre Israel, que mesmo após ser libertado do Egito, continua a se afastar dEle. A linguagem do capítulo é carregada de ternura. Deus se apresenta como um Pai que ensinou o filho a andar, que o guiou com laços de amor, mas que agora precisa lidar com a persistência do pecado.

No verso 8, surgem quatro perguntas, todas começando com “Como...”:

"Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregá-lo, Israel? Como posso tratá-lo como Admá? Como posso fazer com você o que fiz com Zeboim?".  Admá e Zeboim foram cidades destruídas junto com Sodoma e Gomorra (Deuteronômio 29:23). Ou seja, Deus diz:
“Você merece o mesmo fim, mas meu amor me impede.”

Aqui está o ponto: o povo merece juízo, mas Deus escolhe conter Sua ira por amor.

Deus tem emoções? Ele sente? Sim, Deus revela emoções nas Escrituras. Mas com uma diferença essencial: “Eu sou Deus, e não homem” (v.9)

Deus não sente como a gente sente. Suas emoções não são exageradas, descontroladas ou por impulso. Tudo o que Ele sente mostra quem Ele é de verdade — santo e perfeito — e Ele mostra isso de um jeito que a gente consiga entender.

Quando a Bíblia diz que Deus se "arrependeu", ficou "triste", teve "compaixão" ou ficou "irado", ela está usando uma linguagem que nós, seres humanos, conseguimos entender. É como se Deus usasse sentimentos humanos para nos mostrar verdades profundas sobre quem Ele é e como Ele age.

Justiça e amor: são opostos ou caminham juntos? À primeira vista, parece que há um conflito em Deus: a justiça quer punir, o amor quer perdoar. Mas isso não é uma contradição. É uma tensão santa, que só se resolve na perfeição de Deus — onde amor e justiça andam juntos, sem erro e sem exagero.

Deus é perfeitamente justo — Ele não ignora o pecado. Deus é perfeitamente amoroso — Ele busca restaurar o pecador. Essa tensão encontra plena resolução na cruz de Cristo: “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram.” (Salmo 85:10)

Na cruz, a ira justa de Deus é satisfeita e o amor incondicional de Deus é oferecido ao pecador. A cruz mostra que Deus não escolheu entre ser justo ou amoroso — Ele foi ambos ao mesmo tempo. Como sair dessa “intrincada emoção”?

A chave está na declaração de Oséias 11:9: Porque eu sou Deus, e não homem, o Santo no meio de vocês.”

O ser humano é limitado e cheio de contradições. Mas Deus manifesta emoções sem incoerência. Sua ira não é descontrole, é santidade. Seu amor não é conivência, é graça.

Deus não é dividido. Ele é completo, santo e sempre coerente. Quando a Bíblia mostra essa tensão entre justiça e amor, é para nos ensinar — para que a gente entenda o quanto o pecado é sério e o quanto a graça é profunda. Deus nunca se contradiz. Ele é amor, mas também é fogo consumidor. E quando Ele ama, faz isso com justiça.

A cruz é o lugar onde o amor de Deus enfrentou a sua própria ira. Como disse Agostinho, de forma marcante: “Deus odiava com amor.” Ou seja, Deus rejeitou o pecado com toda a seriedade da sua justiça, mas fez isso por amor a nós, oferecendo seu próprio Filho para nos salvar.

Uma frase paradoxal, mas profundamente bíblica. Porque na cruz, Deus se deu a Si mesmo, em Cristo, como sacrifício perfeito, para satisfazer Sua própria justiça e, ao mesmo tempo, oferecer salvação ao pecador. Foi ali que Deus demonstrou que a ira contra o pecado e o amor pelo pecador não são opostos — são unidos na santidade do Redentor.

Quando contemplamos a cruz, não vemos um Deus dividido, mas um Deus perfeito — que ama com justiça e julga com amor. A ira que caiu sobre Cristo foi o amor que nos alcançou.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

28/mai/25

 

O CAMINHO DA GENEROSIDADE: QUANDO O CORAÇÃO ESPALHA BÊNÇÃOS

“Há quem dê generosamente, e vê aumentar suas riquezas; outros retêm o que deveriam dar, e caem na pobreza. O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá.”  (Provérbios 11:24–25 – NVI)

Pode parecer estranho à lógica humana, mas é exatamente isso que a sabedoria bíblica nos ensina: dar pode multiplicar. Ao contrário do que pensamos, a generosidade não leva à escassez, mas à abundância. E essa verdade se torna ainda mais rica quando olhamos para o significado da palavra “generosamente” no original hebraico.

A palavra usada é מְפַזֵּר (mefazer), que significa literalmente “aquele que espalha, que distribui”. Refere-se a uma pessoa que não acumula só para si, mas vive repartindo com liberdade e intenção. No contexto de Provérbios, não se trata de uma ação impulsiva ou irresponsável, mas de uma atitude constante e intencional: um estilo de vida pautado pela confiança em Deus como fonte de provisão.

Dar generosamente”, portanto, não é um gesto isolado. É viver com as mãos abertas e o coração disponível. É entender que aquilo que Deus nos dá não é apenas para nós, mas também para os outros. Quem vive para abençoar, acaba sendo abençoado. Quem espalha com fé, colhe com abundância.

O versículo seguinte reforça essa verdade: “O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá.”

A palavra “generoso” aqui é נֶפֶשׁ־בְּרָכָה (nefesh berakhah), que significa literalmente “alma abençoada”. Ou seja, generosidade não é apenas sobre dar algo externo — é sobre ser alguém cuja alma transborda bênção. É mais do que um ato; é uma disposição interior. É um coração inclinado a repartir, a aliviar, a edificar.

Pessoas assim são diferentes. Elas não esperam que sobre para dar. Elas vivem para dar. E o mais surpreendente é que, ao aliviar o fardo dos outros, acabam sendo também aliviadas. Quem se torna canal da bênção, acaba se enchendo dela. A prosperidade que esse texto fala vai além do dinheiro. Ela inclui paz, alegria, propósito e graça.

Você conhece alguém assim? Alguém cuja presença transmite leveza, cujas palavras confortam e cujos gestos refletem bondade? Pessoas assim são raras, mas quando cruzam nosso caminho, deixam marcas profundas. Elas são reflexos do próprio caráter de Deus — o maior doador de todos, que não apenas nos dá coisas, mas nos dá a Si mesmo.

Em resumo, a generosidade, à luz da Bíblia, é espalhar, repartir, abençoar e aliviar. Não é movida por obrigação, mas por compaixão. Não nasce do excesso, mas da disposição. E é isso que faz de alguém uma alma abençoada — não o quanto tem, mas o quanto reparte com fé e alegria.

A generosidade verdadeira vai além do bolso. Ela vem do coração. E é por isso que riqueza e pobreza, nesse contexto, não estão ligadas apenas ao que é material. Estão profundamente conectadas à dimensão espiritual — ao que carregamos dentro de nós e decidimos repartir. Quem é generoso doa mais do que coisas: doa palavras, tempo, presença, compaixão.

Como disse Jesus: “A boca fala do que o coração está cheio.” (Lucas 6:45). E quem tem o coração cheio de Deus, vive espalhando graça. Essa é a verdadeira prosperidade — não a que se mede por números, mas a que se reconhece pelo impacto de amor e vida que deixamos em cada passo.

Seja generoso. Reparta com os outros aquilo que Deus tem te dado em abundância.
Se Deus te alcançou com graça, misericórdia e perdão, não retenha isso só para você.
Seja generoso — especialmente no perdão. Compartilhe o que recebeu do alto. A generosidade mais poderosa não está nas coisas, mas na capacidade de amar, perdoar e restaurar como Deus fez com você.

A generosidade não é uma questão de ter muito, mas de viver como quem transborda. Quem tem uma alma abençoada não acumula — reparte. E quem reparte com fé, descobre que a verdadeira prosperidade é ser canal daquilo que vem do céu.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

27/maio/25

 

QUANDO A TUA ORAÇÃO ALCANÇA A VIDA DE UM FAMILIAR

“Clame a mim e eu responderei e direi a você coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece.”  (Jeremias 33:3 – NVI)

Muitas são as nossas necessidades — e nós sabemos bem de onde vem o socorro. Ele não vem da terra, nem das circunstâncias, nem da força do nosso braço. Nosso recurso vem da eternidade. A oração é o caminho que Deus nos deu para mover o céu, mesmo quando nossos pés ainda tocam a terra. E eu sei: você tem orado com insistência por alguém da sua família. Eu também tenho.

Entre todos os motivos que nos levam à oração, poucos são tão constantes quanto a família. Filhos, netos, genros, noras e os agregados… todos eles habitam o nosso coração. Estando perto ou longe, são presença diária em nossas intercessões. Oramos por proteção, sabedoria, salvação, cura, reconciliação e perdão. E muitas vezes, intercedemos não apenas pelo que conseguimos enxergar, mas também por aquilo que ainda não vemos — porque a oração também alcança o invisível. Oramos porque sabemos que Deus é socorro bem presente, mesmo nas batalhas silenciosas do coração.

Orar não é apenas uma formalidade espiritual, nem deve ser o último recurso de quem já tentou tudo. É uma conversa viva com o Deus que ouve, responde e age. É o lugar onde colocamos diante d’Ele nossas dores, nossas esperanças e aqueles que amamos. Quando nos ajoelhamos por nossa família, estamos dizendo: “Senhor, o Teu amor por eles é maior que o meu. Por isso, entrego cada um em Tuas mãos.” A oração precisa ser diária, perseverante. Não podemos esmorecer — porque enquanto oramos, Deus está agindo. E quando Deus age, quem poderá impedir?

Um dos exemplos mais marcantes da Bíblia sobre a oração por um familiar é a intercessão de Abraão por seu sobrinho Ló. Quando Deus revelou a Abraão que destruiria Sodoma e Gomorra por causa de sua extrema maldade, Abraão não ficou calado. Ele sabia que Ló e sua família estavam lá. E, diante dessa notícia, ele se colocou de pé — não diante dos homens, mas diante de Deus. E começou a interceder.

Abraão se aproximou de Deus com reverência, mas também com ousadia. Perguntou: “E se houver cinquenta justos na cidade? Ainda assim destruirás o lugar?” A cada resposta positiva de Deus, Abraão reduzia o número: quarenta e cinco, quarenta, trinta, vinte, dez. Em cada pergunta, o coração de Abraão pulsava fé e compaixão. Ele não apenas falava — ele insistia, clamava, argumentava com humildade. Porque ele conhecia o caráter do Deus com quem falava.

É impressionante perceber que Abraão não estava tentando mudar a justiça de Deus, mas confiando plenamente na Sua misericórdia. Ele não intercedeu por alguém que merecia, mas por alguém que precisava — e Deus ouviu. Em Gênesis 19:29 está escrito: “Assim, quando Deus destruiu as cidades da planície, lembrou-se de Abraão e tirou Ló do meio da catástrofe.” Ló foi salvo por causa da oração de alguém que o amava. Tenho certeza de que você também já viveu algo assim: aquele momento em que sua oração por um familiar foi ouvida, e você soube, no fundo da alma, que foi Deus quem respondeu.

Essa história nos ensina que a oração feita com fé, sinceridade e amor ainda move o coração de Deus. A intercessão é um ato de esperança, mesmo quando parece não haver saída. Ela é eficaz mesmo quando tudo parece perdido. Porque Deus continua o mesmo — justo, santo e misericordioso. Ele ainda se lembra das orações feitas com fé e insistência.

Talvez você também tenha um “Ló” na sua vida. Alguém que você ama, mas que parece estar vivendo em Sodoma — longe dos caminhos de Deus, cercado de escolhas perigosas, aparentemente fora de alcance. Não desista. Continue orando. Mesmo quando parecer que nada está mudando. Mesmo quando a pessoa não quiser ajuda. Mesmo quando a situação parecer irreversível. Porque Deus ouve. Deus salva. Deus lembra.

Abraão não salvou Ló com conselhos ou ações. Ele o salvou com oração. E a oração ainda é a ponte entre o céu e quem precisa ser alcançado.

Quando você ora por um familiar, está estendendo uma corda de graça sobre o abismo. Talvez ele nem perceba, mas Deus vê — e responde. A intercessão não apenas toca o coração de Deus; muitas vezes, salva a vida de quem amamos.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

26/mai/25

 

A VERDADE NÃO MUDA

“Não removas os marcos antigos que teus pais colocaram.”  (Provérbios 22:28 – ARC)

Vivemos num tempo em que tudo muda o tempo todo. As pessoas mudam de ideia com facilidade. O que ontem era errado, hoje muitos dizem que é normal. E o mais grave: tem gente querendo mudar até a Palavra de Deus. Querem deixar a fé mais moderna, mais confortável, mais “do jeito do mundo”. Mas a verdade é uma só: a Bíblia não precisa de atualização. Ela já é perfeita.

A própria Bíblia avisa com muita seriedade: “Eu aviso a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: se alguém acrescentar alguma coisa a elas, Deus vai acrescentar sobre essa pessoa as pragas escritas neste livro.” (Apocalipse 22:18 - ARC)

E Jesus também disse: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.” (Mateus 24:35 _NVI). Ou seja, ninguém tem o direito de mudar o que Deus já falou. A Sua Palavra é firme, eterna, e continua valendo para todos os tempos.

Quando a Bíblia diz não tire os marcos antigos, ela está nos lembrando de não apagar os ensinamentos que Deus deixou desde o princípio. Esses marcos são como placas que mostram o caminho: mostram o que é certo, o que é pecado, o que é arrependimento, fé, salvação, santidade. Quem remove essas marcas se perde.

Infelizmente, hoje muitos estão querendo dizer que o pecado não é mais pecado. Chamam de liberdade aquilo que é erro. Em novelas, redes sociais, músicas e até dentro de algumas igrejas, o que Deus condena está sendo aceito e até comemorado. Mas a verdade continua a mesma: o pecado continua sendo pecado, mesmo que o mundo o ache bonito.

A Bíblia já tinha nos avisado disso: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal...” (Isaías 5:20 - ARC)

O apóstolo Paulo também escreveu algo muito importante: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2 – NVI)

Isso quer dizer: não aceite tudo o que o mundo diz só porque parece normal. Pense diferente. Viva diferente. Deixe que a Palavra de Deus molde seu jeito de ser.

Outra coisa que tem se perdido hoje é o respeito pelo que é santo. As pessoas já não sabem mais diferenciar o que vem de Deus e o que é profano. Misturam o sagrado com o mundano, tratam as coisas de Deus com descaso, sem temor. Mas o Senhor nos chama a viver de forma separada, com reverência. Ser santo é levar Deus a sério em tudo.

O evangelho não foi feito para agradar a todo mundo. Ele veio para transformar vidas, mostrar a verdade e nos levar ao arrependimento. Deus é amor, mas Ele também é justo. Ele perdoa, mas quer nos mudar. Ele nos acolhe, mas também nos corrige, como um Pai que ama seus filhos.

Vamos continuar firmes na Palavra. Vamos guardar os ensinamentos de Deus e não deixar que o mundo mude o que Ele já disse. Não apague os marcos antigos. Não diga que o errado é certo.

O pecado continua sendo pecado — mas Jesus continua sendo o Salvador. Quem anda com Ele, anda seguro. Quem guarda a Palavra, nunca fica perdido. E quem aprende a diferenciar o que é santo do que é profano, caminha com temor e sabedoria.

Você tem permitido que o mundo apague os marcos da sua fé? Ou está firme na verdade que não muda? Lembre-se: o mundo passa, a moda passa, a opinião muda... mas a Palavra de Deus permanece para sempre.

A verdade de Deus não precisa ser atualizada — ela precisa ser obedecida. Quando o mundo tenta apagar os marcos da fé, é hora de fincar ainda mais fundo os pés na Palavra que não muda, não falha e jamais passará.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

25/mai/25

 

TRÊS OFERTAS, UM SÓ CORAÇÃO – ADORANDO COM PROPÓSITO

“Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome.”   (Hebreus 13:15 – NVI)

O Antigo Testamento está repleto de símbolos que apontam para verdades espirituais profundas. Entre eles estão as ofertas levíticas — sacrifícios que faziam parte da adoração a Deus, conforme as instruções dadas a Moisés. Embora hoje não ofereçamos animais em altares, os princípios por trás dessas ofertas continuam vivos e essenciais em nosso relacionamento com Deus. Três delas nos ajudam a compreender o tipo de culto que agrada ao Senhor: entrega total, arrependimento sincero e gratidão com comunhão.

A primeira é a oferta queimada, ou holocausto. Nessa oferta, o animal era completamente consumido pelo fogo do altar. Nada era retido. Essa era a forma mais clara de expressar a entrega total a Deus. Era como dizer: “Tudo o que tenho e sou pertence ao Senhor.”

Hoje, não colocamos carne no altar, mas oferecemos nossa própria vida como sacrifício vivo. Quando dedicamos nosso tempo, dons, forças e intenções ao Senhor — mesmo quando ninguém vê — estamos apresentando essa oferta. Adorar a Deus vai além do domingo. É uma entrega que se revela nas escolhas diárias, nos bastidores da rotina, na forma como lidamos com as pessoas e com nossas prioridades.

A segunda é a oferta pelo pecado. No passado, essa oferta era apresentada quando alguém cometia um erro sem perceber, por descuido ou ignorância. Representava o desejo de ser perdoado e restaurado. Essa oferta nos lembra que o pecado deve ser tratado com seriedade, mas também que temos um Cordeiro perfeito: Jesus, que se ofereceu uma vez por todas.

Quando nos aproximamos de Deus com um coração arrependido, estamos apresentando essa oferta de forma espiritual. Louvor, oração, ceia ou qualquer expressão de culto só agradam a Deus quando vêm de um coração quebrantado. É preciso reconhecer nossa fragilidade, nossa total dependência da graça. A adoração verdadeira nasce da humildade.

A terceira é a oferta pacífica. Ela era oferecida em momentos de paz, gratidão e celebração. Era diferente porque envolvia comunhão: parte da carne era queimada, parte era para os sacerdotes e parte para quem oferecia. Era um momento de alegria coletiva diante de Deus.

Hoje, quando louvamos com gratidão, quando celebramos a ceia com reverência, quando promovemos a unidade no corpo de Cristo, estamos apresentando essa oferta. Um coração agradecido gera comunhão, e comunhão verdadeira glorifica a Deus. Não há adoração verdadeira em meio a divisões, disputas ou mágoas não resolvidas. O culto que sobe como aroma suave precisa vir de um povo que vive em paz.

Essas três ofertas, quando vistas juntas, formam um retrato da adoração completa. Uma vida consagrada. Um coração arrependido. Uma comunhão verdadeira. Deus não quer apenas rituais bonitos ou palavras bem escolhidas. Ele quer um coração inteiro, sincero e disponível. Ele busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade — com profundidade, com reverência e com alegria. “No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”  (João 4:23-24 - NVI).

Por isso, ao nos aproximarmos de Deus, devemos perguntar: tenho me entregado de verdade? Tenho confessado meus pecados com sinceridade? Tenho vivido com gratidão e promovido a paz entre os irmãos? A adoração não se resume a músicas e palavras — ela é uma vida inteira voltada para Deus. Uma vida que se entrega como holocausto, que se arrepende como oferta pelo pecado e que celebra com gratidão como uma oferta pacífica.

Que o Espírito Santo nos ajude a viver assim: com um coração consagrado, purificado e cheio de louvor. Que a nossa vida seja um culto contínuo, e que cada gesto nosso seja uma oferta agradável diante do Senhor.

A verdadeira adoração não acontece apenas no altar do templo, mas no altar do coração — onde se queima a entrega, se purifica o arrependimento e se celebra a comunhão.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

24/mai/25

 

DEUS ESTÁ EM TODO LUGAR — E NUNCA LONGE DE NÓS

“Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença?” (Salmo 139:7 – NVI)

O ser humano está sempre em um lugar específico. Essa é uma limitação natural da nossa existência. Inclusive, a própria física confirma isso com um princípio bastante conhecido: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. O nome é complicado, mas a ideia é simples — trata-se do chamado princípio da impenetrabilidade da matéria.

Confesso que física não é exatamente a minha praia, mas essa explicação ajuda a entender nossa condição. Como somos corpo e matéria, estamos presos ao tempo e ao espaço. Só conseguimos estar em um lugar por vez. Essa é uma realidade com a qual convivemos desde que nascemos — somos seres limitados.

Mas Deus não é como nós. Ele não é corpo, nem matéria, e por isso não está sujeito às leis da criação. Ele é o Criador — eterno, infinito, e completamente livre das limitações que nos cercam. Enquanto nós só conseguimos estar aqui ou ali, Deus está em todo lugar, ao mesmo tempo.

Davi compreendeu essa verdade com profundidade quando escreveu o Salmo 139. Ele se pergunta: "Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença?" (v.7) E a resposta é clara: não há lugar algum onde Deus não esteja presente. Se subirmos aos céus, Ele está lá. Se descermos às profundezas, lá também está. Se cruzarmos o oceano, ou nos escondermos no mais íntimo do nosso ser, a mão de Deus ainda estará estendida, guiando e sustentando (v.10).

Deus não está em todos os lugares de forma parcial. Ele não divide Sua presença, como se deixasse um pouco de Si em cada canto do universo. Pelo contrário, Ele está plenamente presente em cada lugar, com todo o Seu ser. Essa é a doutrina da onipresença divina — e ela nos oferece profundo consolo. Onde quer que estejamos, Deus já está.

Enquanto nós sempre ocupamos um ponto fixo no espaço, Deus ocupa todos os pontos ao mesmo tempo. Davi expressa essa verdade de forma poderosa ao declarar: "Tu me cercas por trás e pela frente, e pões sobre mim a tua mão." (Salmo 139:5 – ARA) Essa afirmação é carregada de significado. Davi está dizendo que Deus conhece o nosso passado e o nosso futuro. Nada do que já vivemos escapa ao olhar do Senhor, e nada do que ainda viveremos O surpreende. Ele envolve toda a nossa história com Sua presença — antes, durante e depois. Ele não apenas observa o que acontece — Ele escreveu a nossa história.

E quando Davi escreve: "Sabes quando me sento e quando me levanto" (v.2 – NVI), ele está dizendo que Deus conhece até os movimentos mais simples do nosso cotidiano. Sentar e levantar simbolizam mais do que gestos físicos: falam da nossa rotina, dos nossos hábitos, das escolhas que fazemos no silêncio do dia a dia. Deus vê tudo. Ele conhece nossos pensamentos, nossos anseios e nossas fraquezas. Nada escapa do Seu olhar.

Essa verdade nos enche de reverência, mas também de segurança. Se Deus está em todo lugar, então em lugar algum estamos sozinhos. Nem nos cantos escuros da alma, nem nas tempestades da vida, nem nos vales de dor e confusão. Ainda ali, a mão de Deus nos alcança.

Isso traz consolo real, porque nos dá a certeza da companhia constante do Senhor. Onde quer que o homem vá, Deus já está. Se tentarmos escapar, Ele já chegou antes de nós. Se mudarmos de cidade, de país ou mesmo de rumo na vida, Deus continua presente. Ele não apenas vê onde estamos — Ele nos guia e nos sustenta com Sua mão fiel.

Por isso, o consolo da presença divina é algo que nenhuma outra realidade pode nos oferecer. Não importa se estamos em tempos de alegria ou de luto, de vitória ou perda — Deus está conosco. Sua presença é uma âncora firme para a alma. Ele nunca se ausenta. Sua mão nos guia. Sua destra nos sustenta.

Então, que Deus é esse? É o Deus que não se limita ao tempo, porque é eterno; que não é contido pelo espaço, porque é onipresente; que não precisa perguntar nada, porque é onisciente; que não se afasta, porque é fiel. É o Deus que nos vê por inteiro — passado, presente e futuro — e, ainda assim, nos ama profundamente.

Esse é o Deus que nos cerca, que nos sonda, que nos conhece melhor do que nós mesmos. Um Deus tão grande, mas que se importa com cada detalhe da nossa vida. Um Deus que está no trono do universo, mas também está conosco no silêncio do nosso quarto, no agito do dia, na dor escondida, no clamor não verbalizado.

Esse é o Deus da Bíblia. Esse é o nosso Deus.

Não existe lugar onde Deus não esteja, nem momento em que Ele não veja. Mesmo quando tudo parece escuro, Sua presença é luz. Mesmo quando nos sentimos sós, Ele já está ali — cercando-nos com amor e guiando-nos com fidelidade.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

23/maio/25


 

QUANDO O SUCESSO SE TORNA UM PERIGO

“Nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar.” (2 Crônicas 26:5 - NVI)

Vivemos em uma sociedade que exige resultados o tempo todo. Somos avaliados pelo que temos, pelo cargo que ocupamos, pelos números que entregamos. Essa pressão constante tem transformado pessoas em verdadeiras máquinas: produtivas por fora, mas, muitas vezes, vazias por dentro. Nesse ritmo acelerado, é fácil perder de vista o que realmente importa.

A Bíblia nos mostra, por meio da história do rei Uzias, que o verdadeiro sentido da vida não está na conquista, mas na dependência sincera de Deus.

Enquanto Uzias manteve o coração voltado para o Senhor, ele prosperou. Suas vitórias e conquistas não vieram de estratégias humanas, mas da comunhão com Deus. Porém, tudo mudou quando passou a se sentir autossuficiente. “Mas, depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho causou a sua queda. Ele foi infiel ao Senhor, o seu Deus.”  (2 Crônicas 26:16 - NVI)

O mesmo coração que antes se rendia a Deus começou a confiar apenas em si mesmo. O sucesso, que deveria ser uma bênção, tornou-se uma armadilha. Uzias ultrapassou os limites estabelecidos por Deus e tentou assumir o papel dos sacerdotes — algo proibido. Como consequência, foi acometido por lepra e terminou seus dias em isolamento.

Hoje, vemos muitas pessoas tentando usar Deus como um meio para alcançar seus próprios objetivos. Essa história nos alerta: buscar a Deus apenas por interesse é um erro grave. Quando transformamos a fé em atalho para alcançar status, prestígio ou reconhecimento, entramos em perigo. Deus não é uma ferramenta para validar nossos projetos pessoais.

É preciso refletir com sinceridade: estou buscando a Deus por quem Ele é ou apenas pelo que Ele pode me dar? Tenho confundido bênção com aprovação irrestrita de Deus?

Buscar o Senhor é o verdadeiro fundamento do sucesso. Uzias prosperava enquanto O buscava. Isso nos mostra que, aos olhos de Deus, o sucesso não depende só de esforço ou habilidade, mas de uma vida em comunhão com Ele.

Infelizmente, muitos confundem sucesso com bênção automática. Mas o que Deus valoriza é um coração humilde e dependente. Em tempos de conquistas, nossa maior proteção é manter o foco em Deus, reconhecendo que tudo vem d’Ele.

A bênção jamais substitui a obediência. Uzias foi muito abençoado, mas isso não o tornava acima da lei divina. Ele cruzou uma linha sagrada, tentando ocupar uma função reservada aos sacerdotes. Como resultado, foi disciplinado severamente.

A bênção de Deus não é licença para fazermos o que quisermos. O favor divino não anula os princípios que Ele mesmo estabeleceu. Devemos sempre respeitar os limites colocados por Deus para nossa vida. E devemos nos perguntar: estamos obedecendo, mesmo quando tudo vai bem?

Essa é uma verdade clara nas Escrituras: o orgulho precede a queda. A Bíblia afirma que “exaltou-se o seu coração até se corromper”. O orgulho foi a raiz da queda de Uzias. Quando ele passou a se ver como autor do próprio sucesso, deixou de ouvir a Deus. E o orgulho é perigoso justamente por isso: ele cega — e, muitas vezes, só nos damos conta depois que já caímos.

Precisamos examinar nossas atitudes. Em que área da nossa vida o orgulho pode estar nos afastando de Deus?

É do caráter de Deus: o mesmo que exalta, também corrige. Deus fez Uzias prosperar, mas também o disciplinou. A lepra foi uma consequência direta da desobediência. Isso nos ensina que o Senhor não apenas exalta os que o buscam, mas também corrige os que se desviam. A disciplina divina é expressão do seu amor e da sua justiça. “Pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho.” (Hebreus 12:6 - NVI)

Como você vai terminar sua trajetória? Essa deve ser uma pergunta constante em nossa vida. Uzias começou bem, mas terminou mal. Foi um rei poderoso, mas morreu isolado, fora do templo e longe do propósito original que Deus tinha para ele. Começar bem não garante um final honroso. É a constância em buscar a Deus com humildade que nos mantém de pé. Afinal, estamos vivendo para os resultados ou para agradar ao Senhor?

O verdadeiro sucesso não está em subir rápido, mas em permanecer fiel. Porque mais importante do que onde você chegou, é como você vai terminar.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

22/mai/25

 

QUANDO CONFIAR VALE MAIS DO QUE ESCOLHER

“Não haja briga entre mim e você [...] pois somos parentes chegados.”  (Gênesis 13:8 – NVI)

O capítulo 13 de Gênesis conta uma história importante da vida de Abrão. Ele e seu sobrinho Ló estavam muito abençoados: tinham muitos bens, rebanhos e servos. Mas justamente por isso começaram os problemas. Não havia espaço suficiente para todos viverem juntos, e os pastores de ambos começaram a brigar. A convivência ficou difícil, e era preciso tomar uma decisão.

Porém, antes de falar da separação entre eles, precisamos lembrar como tudo começou. Em Gênesis 12, Deus havia chamado Abrão para sair da sua terra, da sua família e da casa de seu pai. A ordem era clara. Mas Abrão levou consigo Ló, seu sobrinho. Pode parecer apenas um gesto de carinho ou cuidado, mas, com o tempo, essa escolha trouxe dificuldades. E é no capítulo 13 que os problemas dessa "meia obediência" começam a aparecer.

Mesmo assim, diante do conflito, Abrão não agiu com orgulho nem impôs sua autoridade. Ele era o mais velho, o líder, o escolhido por Deus — mas não brigou por isso. Pelo contrário, ele propôs a paz. De forma humilde e generosa, disse a Ló que não era certo que houvesse brigas entre eles, pois eram da mesma família.

Essa atitude de Abrão é um exemplo forte para nós. Ele mostrou que pessoas maduras na fé valorizam mais a paz do que os seus próprios direitos. Abrão preferiu abrir mão da melhor terra do que viver em conflito. Ele sabia que a verdadeira bênção vinha de Deus, e não do lugar onde colocaria seus rebanhos. Como ele mesmo disse: “Não haja briga entre mim e você [...] pois somos parentes chegados.” (v.8)

Por outro lado, Ló também teve a chance de escolher. Mas fez isso de forma muito diferente. Ele olhou em volta, viu as terras mais bonitas e férteis, e escolheu o que parecia melhor para si. Ele pensou apenas com os olhos humanos, procurando conforto, riqueza e facilidade. O texto diz: “Ló olhou e viu todo o vale do Jordão [...] e escolheu para si toda aquela região.” (v.10-11)

Ló não consultou a Deus. Não pensou nas consequências espirituais. Apenas desejou, decidiu e foi. E o que parecia vantajoso no começo se transformaria, mais tarde, em fonte de dor e perda. Aquelas terras ficavam perto de Sodoma, uma cidade conhecida por sua maldade. O texto diz: “Ló armou suas tendas perto de Sodoma. Ora, os homens de Sodoma eram extremamente perversos...” (v.12-13)

Esse detalhe é importante. A escolha de Ló o aproximou de um ambiente que corrompia a fé. No início ele apenas armou as tendas perto. Mas, com o tempo, sua família se envolveu com aquele lugar — e o resultado foi devastador. Isso nos ensina que nem tudo o que parece bom aos nossos olhos é, de fato, bom para o nosso coração. Como diz Provérbios 14:12: “Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte.”

Enquanto isso, Abrão não ficou aflito. Mesmo cedendo, ele confiou que Deus cuidaria de tudo. E foi exatamente isso que aconteceu. Logo depois da separação, o Senhor falou com ele e renovou a promessa. Deus disse para ele olhar ao redor, porque toda aquela terra, e muito mais, seria dele e de seus descendentes.

Isso nos mostra que quem confia em Deus não precisa viver disputando espaço, correndo atrás de vantagem ou tentando garantir as bênçãos com as próprias mãos. Quando vivemos em paz, agimos com fé e obedecemos, o Senhor cuida da nossa porção.

Abrão não perdeu ao ceder. Ele venceu pela fé. Sua atitude nos mostra que abrir mão, quando guiado por Deus, nunca é sinônimo de derrota. Quando confiamos no Senhor, Ele cuida do que é nosso. O que recebemos das mãos dEle sempre será melhor do que aquilo que tentaríamos conquistar sozinhos.

Que nossas escolhas sejam feitas com fé, não com ansiedade — com olhos espirituais, não apenas com os olhos da carne.

"Confiar em Deus é abrir mão da melhor parte aos olhos humanos, sabendo que a porção do Senhor é sempre a melhor para quem espera nEle."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

21/mai/25


 

A VONTADE DE DEUS EXCEDE À NOSSA

“O coração do ser humano traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” Provérbios 16:9 (NAA):

Quantas vezes já fizemos planos que pareciam certos e importantes, mas acabaram não acontecendo? Em muitos desses momentos, sentimos frustração e nos perguntamos por que Deus não nos permitiu seguir adiante. No entanto, a Bíblia nos mostra que quando Deus diz “não”, Ele está abrindo caminho para algo maior — algo que nem sempre conseguimos enxergar de imediato.

Um exemplo claro disso está em Atos 16:6-10. O apóstolo Paulo, em sua segunda viagem missionária, junto com seus companheiros, tinha o desejo de pregar o evangelho na província romana da Ásia. Era um desejo legítimo e espiritual, mas mesmo assim, o texto nos diz que eles foram impedidos pelo Espírito Santo. Não por falta de fé, nem por estarem no caminho errado em termos morais, mas simplesmente porque não era o tempo certo.

A missão continuava, mas o caminho parecia incerto. Eles então tentaram seguir para Bitínia, e novamente o plano foi frustrado. O texto usa uma expressão marcante: “o Espírito de Jesus não o permitiu”.

Essa dupla negativa do Espírito mostra como Deus, de forma ativa e amorosa, dirige os passos daqueles que estão dispostos a servi-Lo. A alternância entre “Espírito Santo” e “Espírito de Jesus” também nos lembra da perfeita unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito — uma Trindade que trabalha em conjunto para cumprir os planos divinos.

Sem saber exatamente para onde ir, o grupo seguiu viagem e chegou até Trôade, uma cidade portuária muito importante, situada na região mais ocidental da Ásia Menor. Ali, às margens do mar Egeu, Deus finalmente revelou Seu propósito. Paulo teve uma visão durante a noite: um homem da Macedônia suplicava dizendo: “Passa à Macedônia e ajuda-nos!”. Era o sinal que precisavam. Eles entenderam, sem sombra de dúvidas, que Deus os estava chamando para cruzar o mar e anunciar o evangelho na Europa.

O mais bonito nesse relato é a resposta imediata dos missionários. O texto diz: “procuramos partir imediatamente”, e é nesse momento que a narrativa muda de “eles” para “nós”, sinal de que Lucas, autor de Atos, passa a fazer parte do grupo. Essa transição sutil revela não apenas a inclusão de um novo companheiro, mas também a união e prontidão daqueles que estavam dispostos a obedecer ao chamado de Deus. Eles não apenas esperaram a direção do Senhor — agiram com fé assim que a receberam.

Aprendemos aqui que, quando Deus nos orienta, devemos obedecer sem hesitar. A resposta pronta de Paulo e seus companheiros reflete fé, sensibilidade espiritual e unidade. A obediência gera comunhão e nos posiciona para viver os propósitos maiores de Deus.

Esse momento marca uma virada na história da fé cristã. O evangelho, que até então se expandia principalmente pela Ásia, agora cruzaria para o mundo greco-romano, transformando o curso da história. Tudo isso aconteceu porque um grupo de servos foi sensível à voz do Espírito e soube esperar, mesmo quando os caminhos pareciam fechados.

É impressionante pensar quantas vidas podem ser impactadas pela nossa obediência. Quando decidimos escutar e seguir a direção de Deus, mesmo sem entender tudo, Ele pode usar nossa entrega para alcançar muitos outros — até mesmo gerações futuras.

A história de Paulo e seus companheiros nos ensina que a vontade de Deus sempre excede a nossa. Às vezes, nossos planos são bons, mas os de Deus são melhores. Às vezes, queremos agir por impulso, mas Deus nos ensina a esperar. Ele não fecha portas por acaso — Ele as fecha para nos conduzir até onde realmente devemos estar.

Talvez hoje você esteja se sentindo frustrado, com sonhos adiados ou caminhos bloqueados. Mas será que Deus não está apenas te impedindo de seguir em uma direção para te levar a algo maior? Será que o “não” de hoje não é apenas o “sim” de amanhã, em uma forma mais ampla e transformadora?

Quanto a nós, não devemos desistir diante dos "nãos" de Deus, nem endurecer o coração quando nossos planos não se realizam. Pelo contrário, devemos buscar dEle discernimento, sabedoria e sensibilidade espiritual para entender quando é tempo de parar, quando é tempo de esperar e quando é tempo de agir.

Ore, busque e esteja atento. Quando a voz de Deus ecoar em teu coração e a direção segura vier, como aconteceu com Paulo, que você esteja pronto para dizer “sim” com prontidão e fé.

Os caminhos de Deus nem sempre se alinham com a nossa lógica, mas sempre nos levam à Sua perfeita vontade. Confiar n’Ele é caminhar com segurança, mesmo sem saber exatamente onde os passos nos levarão. Como disse Lutero: “Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu Guia.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

20/mai/25

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