JAIRO: UM PAI QUE BUSCOU JESUS POR SUA FILHA

“Não tenha medo; apenas creia.” Marcos 5:36 (NAA)

Quando meu primogênito ainda era um bebê, vivemos um episódio que jamais esquecerei. Ele começou a passar mal com febre alta e, de repente, teve uma convulsão. O desespero tomou conta de mim e da minha esposa. Ver aquela criança tão frágil se contorcendo em meus braços foi uma das experiências mais angustiantes que já enfrentamos. Corremos de um lado para o outro, tentando qualquer solução para reverter aquele quadro. Mas, diante da possibilidade real de perder um filho, todo recurso humano parece insuficiente. Foi nesse momento, quebrados e sem forças, que de nossa alma só saiu um clamor: “Senhor, tem misericórdia!”

Tal experiência me fez compreender, em parte, o que viveu Jairo. Sua história é uma das mais comoventes dos Evangelhos. Diante da doença da filha, ele não hesita: sai à procura de Jesus, crendo que só Ele pode intervir. A cena é marcante. Um pai angustiado se lança aos pés do Mestre, implorando por socorro. Nesse encontro entre desespero e fé, aprendemos lições profundas sobre o papel de um pai segundo o coração de Deus.

Jairo era uma figura respeitada em sua comunidade. Como líder da sinagoga, tinha prestígio e influência. Mas quando sua filha adoece gravemente, ele não envia um mensageiro, nem tenta resolver por meios institucionais. Ele vai pessoalmente até Jesus. Isso revela algo essencial: um pai verdadeiro não terceiriza sua responsabilidade diante da dor dos filhos. Ele se envolve, toma iniciativa, busca ajuda onde há esperança.

Mais do que isso, Jairo se humilha. Ele se ajoelha diante de Jesus, publicamente, mesmo correndo o risco de ser criticado pelos colegas religiosos. Para ele, a vida da filha valia mais do que qualquer reputação. Seu coração de pai o levou a se curvar diante daquele que tem todo poder. E é assim que começa a verdadeira liderança: com humildade. Muitos filhos jamais esquecerão o dia em que viram o pai orando, chorando e buscando ao Senhor por sua família.

Ao se encontrar com Jesus, Jairo não é vago. Ele é direto: sua filha está morrendo, e ele crê que, se Jesus tocar nela, ela viverá. Não pede qualquer bênção. Ele crê no toque restaurador do Mestre. Essa oração específica, confiante e insistente é o modelo da verdadeira intercessão. Pais que colocam seus filhos diante de Deus com fé e perseverança estão exercendo um dos papéis mais nobres que existem.

Mas a fé de Jairo é provada. No caminho até sua casa, Jesus é interrompido por uma mulher enferma. Enquanto aguardam, chega a notícia mais temida: “Sua filha morreu. Não incomode mais o Mestre.” Era o fim. Mas Jesus olha para Jairo e diz: “Não tenha medo; apenas creia.” A fé que antes era esperança agora precisa se tornar confiança. Mesmo diante da morte, o Senhor o chama a continuar crendo.

Quantos pais, ao receberem notícias difíceis sobre seus filhos — espiritualmente, emocionalmente ou fisicamente — sentem que já não há o que fazer? Contudo, a voz de Jesus ainda ecoa: Não tenha medo; apenas creia.” O tempo de Deus nunca é atraso. Sua voz é mais forte que qualquer diagnóstico. Quando Ele fala, até a morte obedece.

Jesus chega à casa de Jairo sem alarde. Entra no quarto da menina, toma-a pela mão e declara: “Menina, eu ordeno a você: levante-se!” A morte se retira. A tristeza se transforma em alegria. A presença de Jesus muda tudo. Onde havia lágrimas, agora há vida. Onde havia silêncio, agora há riso. Quando Jesus entra em casa, o milagre acontece.

Pais cristãos precisam entender que abrir as portas do lar para Jesus não é apenas um gesto religioso — é uma necessidade vital. Quando Cristo é bem-vindo no cotidiano da casa, quando há oração, leitura da Palavra e comunhão sincera, o ambiente é transformado. Jesus continua entrando em lares, restaurando famílias e reescrevendo histórias.

Jairo nos ensina que o maior legado de um pai não é financeiro, mas espiritual. O maior presente que um filho pode receber é saber que seu pai orava por ele, que lutava em oração, que nunca deixou de crer. Pais assim deixam marcas que nem o tempo nem a eternidade apagarão.

E você, pai? E você, mãe? Têm sido uma presença espiritual na vida dos seus filhos? Eles sabem que vocês oram por eles? Vocês têm levado suas lutas familiares aos pés de Jesus? Estão dispostos a crer – mesmo quando tudo parece ter chegado ao fim?

Não tenha medo. Apenas creia. O mesmo Jesus que entrou na casa de Jairo continua agindo hoje, trazendo vida, esperança e transformação onde há fé.

“O maior presente que um pai pode dar aos filhos é uma fé viva que os leve até Jesus. Porque, quando o lar se torna um altar, a presença de Cristo transforma dor em milagre e desespero em esperança.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

26/jul/25

 

O DEUS QUE SUPRE TUDO

“E o meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus.”  Filipenses 4.19 (NAA)

Todos nós temos muitas necessidades. Algumas são visíveis, como as de ordem física, de saúde ou financeiras. Outras são mais silenciosas, como as emocionais, familiares ou espirituais. São carências que nos acompanham no dia a dia e que, por mais que tentemos, nem sempre conseguimos satisfazer por nós mesmos. Algumas necessitam de certa urgência, apertam, doem. Outras vão se arrastando com o tempo, escondidas nos cantos do coração.

E é nesse cenário tão humano que o apóstolo Paulo, escrevendo aos filipenses, nos entrega uma das promessas mais poderosas e reconfortantes da Bíblia. Ele declara com fé que Deus é capaz de suprir todas as nossas necessidades — todas, sem exceção — segundo as Suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus. Não segundo nossos esforços, nem segundo o que julgamos merecer, mas segundo a abundância que há no próprio Deus.

A verdade é que, por mais força, influência ou recursos que tenhamos, somos limitados. Por mais que façamos planos e trabalhemos com dedicação, há áreas em que simplesmente não conseguimos dar conta. A vida nos mostra, cedo ou tarde, que não podemos controlar tudo. E quando nossos limites aparecem, é ali que mais precisamos nos lembrar: Deus pode. Ele vê o que nos falta, conhece o que nem conseguimos expressar, e sabe exatamente onde, quando e como agir.

Se não conseguimos suprir muitas das nossas necessidades, temos um consolo seguro: servimos a um Deus que pode suprir todas elas. Ele não se assusta com nossa fragilidade, nem se atrasa em Sua fidelidade. Ele provê, fortalece, sustenta e guia. Quando os recursos acabam, quando a força se esgota, Deus ainda é suficiente. E aquilo que Ele promete, Ele cumpre — sempre.

Há algo ainda mais maravilhoso na promessa de Paulo: Deus não supre por causa dos nossos méritos, mas por causa da Sua natureza. Ele não faz isso porque somos bons, justos ou especiais. Ele o faz segundo as Suas gloriosas riquezas — ou seja, segundo a generosidade, o amor e o poder infinito que existem n’Ele. Ele dá com perfeição, sem falta, sem medida. Sua provisão não depende de desempenho humano, mas da graça que flui do Seu coração.

E essa provisão tem um nome, tem um canal claro: Cristo Jesus. É por meio d’Ele que recebemos tudo o que precisamos. Cristo é o elo entre o céu e a terra, entre a necessidade e a resposta, entre a limitação humana e a suficiência divina. Nele, encontramos graça, sustento, consolo, direção e salvação. Fora d’Ele, nada é garantido. Mas em Cristo, tudo nos é dado com abundância e propósito eterno.

Muitas vezes, confundimos o que queremos com o que realmente precisamos. Achamos que nossos desejos são necessidades absolutas, e quando eles não se realizam, sentimos que fomos abandonados. Mas Jesus, em Sua perfeita sabedoria, sabe separar com amor o que é vontade passageira do que é essencial para nossa vida e nosso crescimento. Ele não alimenta caprichos, mas cuida de nós com verdade, graça e profundidade. Ele supre o que realmente importa — ainda que, no momento, nem consigamos entender.

Essa promessa de Filipenses 4.19 não é um bilhete para conquistar tudo o que se deseja, mas um convite para descansar na suficiência de Cristo. Tudo o que de fato precisamos está n’Ele, e Ele nunca falha. A provisão pode vir de maneiras inesperadas, mas ela virá — do jeito certo, no tempo certo, com o propósito certo. Porque o nosso Deus é fiel para suprir todas as coisas.

O Deus que conhece cada necessidade é o mesmo que supre com perfeição, não segundo nossos méritos ou desejos, mas segundo Suas riquezas em Cristo Jesus — onde encontramos tudo o que verdadeiramente importa.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

25/jul/25

 

TÃO GRANDE SALVAÇÃO

"Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?" Hebreus 2:3a (NAA)

Ontem refletimos sobre o evangelho poderoso que recebemos — um evangelho que Paulo chama de dýnamis, a mesma raiz da palavra “dinamite” que conhecemos hoje. Um evangelho que não apenas informa, mas transforma. Que não apenas consola, mas confronta. Que chega até nós para revelar Jesus, o autor da nossa fé, e nos oferecer aquilo de que mais precisamos: a salvação.

Mas, diante disso, alguém pode perguntar: salvação de quê? Ou até mesmo dizer: não preciso ser salvo. A verdade é que muitos caminham assim — sem perceber o perigo de se afastar da verdade, de se acomodar, de ignorar a urgência do evangelho. É por isso que o autor da carta aos Hebreus nos alerta: precisamos dar atenção redobrada às verdades que temos ouvido, para que não nos desviemos. E ele ainda nos desafia com uma pergunta que deve ecoar em nossa consciência: como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação?

Essa salvação foi anunciada primeiramente pelo próprio Senhor Jesus. Depois, foi confirmada por aqueles que a ouviram, os apóstolos, com testemunho e poder. E, por fim, foi selada em nossos corações pela ação do Espírito Santo. Não é uma ideia, uma doutrina fria ou uma teoria religiosa. É uma realidade viva e transformadora. E que fique bem claro:  só há salvação em Jesus.

O salmista já anunciava, e Hebreus reforça: para ser nosso Salvador, Jesus foi colocado, por pouco tempo, em posição inferior à dos anjos. Ele se humilhou. Ele assumiu nossa forma. Ele se fez homem. E Deus o exaltou, coroando-o de glória e honra, e colocando todas as coisas debaixo de Seus pés.

Ainda que não vejamos hoje todas as coisas sob domínio humano, vemos Jesus. Vemos aquele que, por amor, desceu até nós, sofreu, morreu, e agora está vivo — reinando. Ele passou pela morte para, pela graça de Deus, morrer por todos. E foi através do sofrimento que o Pai o tornou o autor da nossa salvação, o guia perfeito de todos os filhos que Ele deseja conduzir à glória.

Jesus é quem nos purifica dos nossos pecados. Ele nos chama de irmãos porque compartilhamos da mesma humanidade. Ele não se envergonha de se identificar conosco. Pelo contrário, assumiu a nossa carne e o nosso sangue, para que, por meio da morte, destruísse o diabo — aquele que tinha o poder sobre a morte — e libertasse todos os que viviam escravizados pelo medo.

A morte já não tem a última palavra. Cristo venceu. E é importante lembrar: Ele não veio para salvar anjos. Ele veio por nós. Ele veio por mim e por você. Ele veio por todos aqueles que, como diz a Escritura, são descendência de Abraão — isto é, todos os que creem.

Por isso, foi necessário que Ele se tornasse como nós em tudo. Para ser nosso Sumo Sacerdote — bondoso, fiel, compassivo — e assim oferecer o sacrifício definitivo pelos nossos pecados. Ele não veio apenas ensinar o caminho; Ele é o caminho. Ele não veio apenas nos observar de longe; Ele se fez um de nós, para nos alcançar de perto. E hoje, ainda que exaltado, continua intercedendo por nós diante do Pai.   "Meus filhinhos, estas coisas lhes escrevo para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1 (NAA)

É por isso que podemos confiar. Só Jesus pode nos libertar da tentação e nos sustentar em meio às lutas. Porque Ele mesmo foi tentado e sofreu, e sabe como socorrer os que são tentados. Ele conhece nossas dores, nossas fragilidades, nossos limites. E ainda assim nos chama de irmãos. Ainda assim nos ama e nos convida à salvação. "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." Romanos 5:8 (NAA)

A grande questão, então, não é se Deus está disposto a salvar — Ele está. A pergunta é: estamos atentos? Estamos ouvindo? Estamos respondendo? O perigo não está na falta de salvação, mas na negligência diante dela. O evangelho é poder de Deus. É Cristo, vivo, presente, oferecendo nova vida. Como, então, escaparemos, se o desprezarmos?

A salvação em Cristo não é apenas um livramento — é um reencontro. Um Deus que se fez homem para nos chamar de irmãos, vencer a morte em nosso lugar e nos conduzir, com amor e fidelidade, à verdadeira vida.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

24/jul/25

 

O PODER QUE TRANSFORMA VIDAS

“Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...”  Romanos 1.16 (NAA)

O evangelho não é apenas uma mensagem sobre Deus. Ele é o próprio poder de Deus em ação — um poder que salva, transforma, restaura e conduz o ser humano à vida eterna. A palavra usada por Paulo para “poder” em Romanos 1.16 é a palavra grega dýnamis, que aparece mais de cem vezes no Novo Testamento. Ela não descreve força física, mas sim um poder espiritual ativo, eficaz e transformador.

Esse poder vem do próprio Deus. É Ele quem faz milagres, dá força aos que estão fracos, traz vida aos que estão mortos, liberta os que estão presos e guia toda a história. O evangelho não depende de ideias humanas, nem da forma como alguém fala ou das estratégias que usamos. É o próprio Deus agindo, de forma visível e invisível, para cumprir o Seu plano de salvação.

No entanto, vivemos tempos em que esse evangelho tem sido diluído. Muitos têm tentado esvaziar sua essência, substituindo-o por versões mais agradáveis ao gosto humano. O evangelho da prosperidade, por exemplo, coloca o homem no centro e confunde bênçãos materiais com salvação. Pode ser popular, mas não é verdadeiro. É um evangelho sem cruz, sem arrependimento e sem transformação.

Outro desvio é o evangelho centrado apenas em milagres e experiências. Sim, Deus realiza milagres, pois Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Mas Jesus não veio apenas para aliviar dores físicas — Ele veio para salvar o pecador e nos livrar da condenação eterna. A salvação que Ele oferece vai além do corpo: transforma o coração e restaura a comunhão com Deus.

Também não podemos nos esquecer de outro risco: o evangelho do descompromisso, que ignora o senhorio de Cristo e promove uma fé sem obediência. A verdadeira salvação não é apenas adesão a uma igreja — é novo nascimento. É preciso, além de entrar na igreja da terra, ser parte da igreja do céu. Há muita adesão sem conversão. Mas o evangelho de Jesus não deixa o pecador como está. Ele regenera, santifica e conduz à glória.

Ao longo da história, grandes homens de Deus reconheceram a força transformadora do evangelho. Agostinho de Hipona, impactado por um trecho de Romanos, chamou o evangelho de “remédio divino para as enfermidades da alma”. Ele não o via como mera instrução, mas como instrumento vivo do Espírito para gerar fé e arrependimento.

Martinho Lutero, ao redescobrir a justiça de Deus revelada no evangelho, afirmou que essa mensagem não é doutrina fria, mas graça viva. Segundo ele, “o evangelho é a palavra de salvação, o poder de Deus que opera em nós a justiça divina, pela fé”.

João Calvino descreveu o evangelho como o meio pelo qual Deus comunica Sua graça aos eleitos. Para ele, o evangelho não apenas informa — transforma. Atua com eficácia nos que são chamados, regenerando o coração e fazendo filhos os que antes estavam distantes.

Charles Spurgeon dizia que o evangelho é poder em si mesmo, independentemente da aceitação humana. “Onde o evangelho é pregado com fé, vidas são restauradas.” Ele o via como a força que arranca o pecador das trevas e o conduz ao Reino do Filho.

John Stott declarou: “O evangelho é poder porque não apenas informa sobre salvação — ele confere salvação.” Não é um convite educado, mas uma operação espiritual de Deus no coração humano.

Mas até onde vai esse poder?

Esse poder ultrapassa qualquer limite humano. Transcende o natural, porque opera no sobrenatural. Age no íntimo, quebrando resistências, moldando o caráter e curando feridas. Rompe cadeias espirituais, alcança o perdido, sustenta a missão da igreja e conduz toda a história da criação à consumação.

O evangelho é dýnamis porque faz o que nenhuma filosofia, discurso ou esforço humano pode realizar: salva, liberta, transforma e prepara o homem para a eternidade. Tudo isso pelo Espírito Santo, que aplica essa Palavra viva ao coração.

Hoje, num tempo em que muitos confiam no marketing religioso, na persuasão ou nas aparências, somos chamados a lembrar: o que transforma não é o formato — é o conteúdo. Não é o pregador — é o Deus que fala por meio da Sua Palavra. O evangelho é poder porque é Deus se aproximando, revelando-se e chamando o pecador de volta para Si.

O evangelho é o poder vivo de Deus que não apenas anuncia salvação, mas a realiza — transformando o perdido, restaurando o quebrado e conduzindo à eternidade com Cristo.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

23/jul/25


 

DEUS FALOU COMIGO, DEUS QUER FALAR COM VOCÊ

“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.”  Hebreus 1:1,2 (ARA)

No domingo passado vivi algo que muitos chamariam de coincidência, mas que, para quem crê num Deus que governa com propósito, é mais do que isso — é direção. Nós que andamos com o Senhor sabemos: Ele fala. E quando fala, confirma. E quando confirma, é impossível ignorar.

Pela manhã, enquanto acompanhava a Escola Bíblica Dominical pelo YouTube, ouvi algo marcante do pastor que ministrava a lição. Ele disse que o Salmo 23 retrata a caminhada do servo — desde o momento em que ele conhece o Senhor até o dia do seu descanso eterno. Aquela imagem me tocou profundamente. A clareza dessa visão me inspirou a escrever uma devocional sobre esse salmo tão conhecido e, ao mesmo tempo, tão profundo. Em breve, com alegria, pretendo compartilhar com os irmãos essa reflexão, destacando esses detalhes que tanto me abençoaram.

Vocês conhecem bem o Salmo 23, que começa com uma declaração firme e reconfortante: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” Uma tradução mais próxima do original diria: “de nada terei falta”. Essa verdade sustentou Davi, fortaleceu gerações e continua a nos lembrar que, com Ele, nada nos falta — porque o Senhor nos basta. Nele encontramos tudo o que precisamos, pois Ele é plena e eternamente suficiente.

Mais tarde, à noite, durante o culto, algo ainda mais especial aconteceu. Meu amigo pessoal e pastor transmitia a mensagem com clareza, seguindo uma linha firme de raciocínio. Mas, ao final, pouco antes do último louvor, houve uma pausa. Ele desviou do plano inicial e fez uma pergunta à congregação que, embora simples, carregava grande profundidade: Por que os servos do passado, mesmo enfrentando tantas lutas, não se desviavam do propósito de Deus? As respostas da congregação vieram com coerência, cada uma com peso e verdade. Mas, naquele momento, o Espírito soprou uma frase no coração do pastor. E ele simplesmente disse:  “O Senhor nos basta. Esta é a resposta.”

Aquela frase ficou ecoando no meu coração. Parecia que Deus estava ligando tudo o que aconteceu no dia só para me mostrar uma coisa simples e importante: Ele é tudo o que eu preciso. Mas não parou por aí.

Após o culto, cheguei em casa com essa verdade pulsando no coração. Decidi ver o resultado do Fla-Flu, e lá estava: vitória do meu time por 1 a 0. O autor do gol? Pedro. Um servo do Senhor. Ele vinha de dias difíceis, envolvido em um episódio conturbado dentro do clube, que o afastou dos gramados por decisão do técnico. E justamente ele, após marcar o gol, tirou a camisa e revelou outra por baixo — preta, com letras vermelhas. Nela estava escrito: Jesus é o suficiente.”

Fiquei em silêncio. Arrepiado. Aquilo era mais que uma imagem bonita ou uma frase de impacto. Era a confirmação do que havia sido dito no púlpito algumas horas antes. Era a mesma mensagem que o Senhor havia plantado em mim pela manhã, através do Salmo 23. Em um único dia, Deus falou por meio da Palavra, da EDB, da pregação, de uma pergunta inesperada, de um gol de futebol — e até de uma camiseta. Uma mesma mensagem

Sim, o Senhor é o nosso Pastor. Ele nos guia por verdes pastos, restaura nossas forças, nos conduz por veredas de justiça. Ainda que passemos pelo vale da sombra, Ele está conosco. E mesmo quando não compreendemos o caminho, Sua presença basta. Nada nos falta quando Ele está.

Compartilho tudo isso não apenas como um relato curioso, mas como um testemunho vivo de que Deus fala. Muitas vezes imaginamos que Ele só se manifesta em momentos solenes ou em ambientes sagrados. Mas Ele é o Senhor de toda a vida — e, quando deseja nos ensinar algo, pode usar o que quiser e quem quiser: a pregação de um pastor, a pergunta de um servo, o gesto de um jogador ou a simplicidade de um versículo já tão conhecido. Por isso, mantenha-se atento. A voz do Senhor pode vir quando você menos espera.

Cristo é suficiente. Essa foi a mensagem que ecoou do começo ao fim do meu dia. Uma verdade que não apenas consola, mas que sustenta, direciona e dá sentido à nossa caminhada.

Como diz o salmista, O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” Que isso seja mais do que um versículo decorado. Que seja o fundamento sobre o qual repousamos nossa fé — e nossa vida inteira.

 “Deus fala conosco nas Escrituras, na pregação e até nos detalhes mais simples do cotidiano. Quando o coração está atento, toda a vida se torna um púlpito para a verdade de que Cristo é — e sempre será — o suficiente.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

22/jul/25

 

MARCAS NO CORPO OU MARCAS NA ALMA?

“Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.” Gálatas 6:17( NAA)

A recente notícia sobre uma igreja em Balneário Camboriú, cujos membros fizeram tatuagens com referência a Mateus 24:14, reacendeu o debate sobre a verdadeira natureza das marcas que um cristão deve carregar. Embora a intenção dos participantes fosse lembrar o propósito de anunciar o Reino, a pergunta que surge é: será que a marca no corpo realmente expressa a essência do evangelho que deve transformar o coração?

O apóstolo Paulo também falou de “marcas”, mas com um significado bem diferente. Em Gálatas 6:17, ele afirma que carrega no corpo as marcas do Senhor Jesus. A palavra grega usada ali, stigmata, refere-se a feridas, cicatrizes e sofrimentos reais que ele experimentou por causa do evangelho — perseguições, prisões, apedrejamentos, fome e desprezo. Paulo não falava de algo estético ou simbólico. Falava de dores reais por causa de uma fé viva.

Mais adiante, no mesmo capítulo, ele declara que o que realmente importa não é a marca externa, mas a transformação interior: “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criatura” (Gálatas 6:15). Ou seja, o verdadeiro sinal do Reino não está na pele, mas no coração regenerado. O Espírito Santo não grava versículos em tinta, mas escreve a Lei de Deus na mente e no coração, conforme declara o escritor de Hebreus no capítulo 10, verso 16.

Não há nada de novo em buscar símbolos visíveis como forma de afirmar identidade espiritual. No Antigo Testamento, os judeus se orgulhavam da circuncisão; no Novo Testamento, alguns queriam exigir isso dos cristãos gentios. Paulo combateu essa mentalidade, ensinando que o sinal do novo nascimento é uma vida crucificada com Cristo — marcada pelo fruto do Espírito, pela santidade, pela renúncia de si mesmo e pela fidelidade à Palavra.

O risco de reduzir a fé a um símbolo externo é trocar a cruz pelo marketing. Transformar o evangelho em uma marca cultural — como bem alertou um internauta na reportagem — é secularizar o que deveria ser santo.

A geração atual precisa mais do que tatuagens com versículos; precisa de vidas escritas com o amor de Cristo. E essas vidas, embora talvez não brilhem nas redes sociais, são cartas vivas, lidas todos os dias pelo mundo. Como Paulo escreveu, são cartas de Cristo, “não escritas com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações humanos” (2 Coríntios 3:2–3 – NAA). O mundo não precisa apenas ver símbolos — precisa ler o caráter de Cristo impresso em cada discípulo verdadeiro.

É bem possível que muitos dos jovens que participaram da ação tenham agido com sinceridade — e isso não está em discussão. A sinceridade, por si só, não é condenável. O zelo pode ser legítimo, mas zelo sem discernimento é perigoso. Como disse o apóstolo Paulo: “Dou-lhes testemunho de que têm zelo por Deus, porém sem entendimento.” (Romanos 10:2 – NAA). Sinceridade não substitui clareza bíblica, e a boa intenção não anula a necessidade de fundamento sólido. O zelo precisa estar alinhado com a verdade, ou corre o risco de transformar expressão em exagero, e devoção em confusão.

Que sejamos uma geração marcada por dentro — não por uma arte gravada por mãos humanas na pele, mas pelo caráter de Cristo, impresso na alma – no coração – onde ninguém vê, mas todos percebem.

"A marca que o céu reconhece não está na pele, mas no coração; não é desenhada com agulha, mas com arrependimento, fé e obediência ao Senhor Jesus."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

21/jul/25

 

O VALOR DE UM BOM NOME

“Mais vale o bom nome do que muitas riquezas; e ser estimado é melhor do que a prata e o ouro.” Provérbios 22.1 (NAA)

Papai sempre nos ensinou que o bom nome é uma das maiores riquezas que alguém pode deixar. Ele dizia que não tinha bens materiais para herdar aos filhos. Éramos pobres e vivíamos com simplicidade, mas havia algo que ele considerava mais precioso do que qualquer bem: uma vida espiritual coerente, ensino com valor e um nome limpo. Para ele, isso era legado — e dos mais duradouros.

Esse ensinamento de papai ecoa nas Escrituras. Em Provérbios 22.1, lemos que o bom nome vale mais do que muitas riquezas, e que ser estimado é melhor do que a prata e o ouro. Em um mundo onde tanto se busca prestígio, lucro e projeção, essa palavra soa como um chamado à essência. O nome que carregamos, a reputação construída ao longo da vida, ainda é — e sempre será — um tesouro que nenhum ladrão pode roubar.

Lembro que os mais antigos costumavam dizer que “um fio de bigode e a palavra dada valiam mais do que assinatura em papel”. Um simples aperto de mão bastava para selar compromissos, porque a honra falava mais alto do que qualquer cláusula escrita. Hoje, porém, vemos que muita coisa mudou. Em vez de confiança, temos desconfiança. Em vez de palavra firme, contratos longos e burocráticos. A verdade, muitas vezes, é ajustada conforme o interesse, e o caráter cede espaço para a conveniência.

Perdemos parte daquilo que um dia foi natural: a integridade silenciosa. Aquela que não precisa ser jurada, apenas vivida. Ser verdadeiro, honesto, coerente — não por obrigação, mas por convicção. Vivemos tempos em que a aparência vale mais que o conteúdo, a influência mais que a essência. Mas, como filhos da luz, não podemos nos conformar com isso.

A Bíblia nos adverte que vivemos dias maus. Paulo descreveu com precisão os tempos difíceis quando escreveu a Timóteo que, nos últimos dias, os homens seriam egoístas, amantes de si mesmos, orgulhosos, ingratos e desobedientes. Jesus também nos alertou sobre o esfriamento do amor por causa da multiplicação da maldade. E fez uma pergunta que atravessa os séculos: “Quando o Filho do Homem vier, porventura achará fé na terra?” (Lucas 18.8).

Essas palavras não devem nos assustar, mas nos despertar. Mesmo com tudo isso ao nosso redor, ainda podemos ser encontrados fiéis. Podemos cultivar uma fé viva, um amor sincero e um nome que inspire respeito, mesmo que ninguém nos aplauda. Ainda há tempo de resgatar esses valores — começando por nós mesmos. Que nossa palavra volte a ter peso. Que a integridade seja mais do que um discurso. Que o nosso nome, mesmo simples, seja um reflexo de quem somos diante de Deus.

Ainda em Provérbios 22, no versículo 2, aprendemos uma lição de humildade: “O rico e o pobre têm isso em comum: o Senhor é o criador de ambos.” Aos olhos humanos, há muitos degraus e divisões. Mas diante do Criador, somos todos obra de Suas mãos. Essa verdade nos ensina que nenhum valor terreno nos faz mais importantes, e nenhuma falta de posses nos torna menores. Deus nos vê com equidade e espera de cada um o mesmo: um coração íntegro e um viver que O honre.

A herança mais nobre que podemos deixar não está em imóveis, números ou títulos. Está naquilo que vive em silêncio nas memórias de quem conviveu conosco. Está na lembrança de alguém que manteve a palavra, que tratou a todos com respeito, que viveu com honestidade mesmo quando ninguém estava olhando. Que sejamos esses homens e mulheres. Que nosso nome seja, sim, conhecido — não por grandeza humana, mas por fidelidade ao Deus que nos formou.

O bom nome é um legado silencioso que atravessa gerações — fruto de uma vida coerente com Deus, cultivada em humildade, sustentada na verdade e lembrada com honra.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

20/jul/25

 

QUANDO OS PLANOS FALHAM, O PROPÓSITO PERMANECE

“O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações.”  Salmo 33.11 (NAA)

Todo ser humano faz planos — em maior ou menor escala. Planejar faz parte da nossa natureza. Desde pequenas decisões, como o que faremos amanhã, até grandes projetos de vida, como a escolha de uma carreira, o casamento, a construção de um lar ou mesmo o ministério, estamos sempre olhando para o futuro. Planejamos porque buscamos segurança, realização e sentido. No entanto, por mais cuidadosos que sejamos, há algo que sempre nos escapa: o controle total das circunstâncias.

A Bíblia nos mostra que, mesmo que façamos planos, é o Senhor quem tem a palavra final. O salmista declara no Salmo 33.10 que Deus desfaz os planos das nações e frustra os intentos dos povos. Isso não significa que Ele esteja contra todo planejamento humano, mas sim que nada pode prevalecer contra o Seu propósito soberano. Ele pode intervir, mudar rotas e desfazer estratégias humanas quando elas não se alinham à Sua vontade perfeita. “Muitos são os planos do coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor.” (Provérbios 19.21)

Na prática, isso significa que nem sempre o que sonhamos se realiza — e isso pode nos frustrar. Quantas vezes investimos tempo, recursos, dedicação e até orações em um projeto e, mesmo assim, ele não se concretiza? Isso dói. É natural sentir tristeza, confusão e até fazer perguntas a Deus. Há quem diga: “Mas eu orei tanto, Senhor, por que não aconteceu?” O coração do homem pode fazer planos, sim, mas é do Senhor que vem a resposta final (Provérbios 16.1).

Por vezes, a frustração não é sinal de fracasso, mas de cuidado divino. Deus vê além da curva que não enxergamos. Quando um caminho se fecha, pode ser a bondade do Pai nos desviando de algo que, lá na frente, nos traria dor. Ele fecha portas que não devemos atravessar e, às vezes, até desmorona os nossos castelos de areia para que aprendamos a construir sobre a rocha. Os nossos projetos podem ser soprados como folhas ao vento, mas os propósitos de Deus são firmes como casa edificada sobre rocha.

Somente o Senhor é capaz de estabelecer planos que permanecem para sempre e alcançam gerações futuras. Os nossos pensamentos mudam com o tempo, nossos desejos oscilam, nossas decisões são afetadas por emoções, pressões ou modismos. Mas o Senhor permanece o mesmo. Seus desígnios carregam a marca da eternidade. O que hoje parece sabedoria para nós, amanhã pode se revelar uma tolice. Já a sabedoria de Deus nunca perde o valor e nem precisa de revisão. Ela é perfeita, infalível, imutável e atravessa os séculos.

A Palavra nos mostra que Deus não mudou. O mesmo que foi absoluto sobre Faraó no tempo de Moisés continua reinando soberanamente sobre tudo e todos. Seus caminhos não mudam. Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. E ainda que os nossos planos falhem, os propósitos de Deus nunca deixam de se cumprir.

Quantos testemunhos ouvimos de pessoas que disseram: “Eu tinha outros planos, mas hoje entendo que Deus me levou por outro caminho — e foi o melhor para mim.” Um jovem que não passou no vestibular e acabou descobrindo uma vocação ainda mais alinhada com seus dons. Um casal que não pôde ter filhos biológicos, mas que viu sua vida ser transformada ao adotar uma criança. Um pastor que teve um projeto interrompido, mas que foi levantado em outra cidade para ser resposta de Deus em um tempo específico. Essas histórias nos ensinam que o Senhor continua dirigindo os passos dos que O temem. Glória a Deus por isso!

Sendo assim, embora seja natural e até necessário fazer planos, devemos fazê-lo com humildade, oração e dependência do Senhor. Reconhecer que Ele é soberano sobre tudo nos livra da ansiedade e nos ensina a descansar. Mesmo quando não entendemos, podemos confiar.

Os três últimos versículos do Salmo 33 são um convite à esperança: “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Nele o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, Senhor, a tua misericórdia, como de ti esperamos.” (Salmos 33.20–22)

Os nossos planos podem falhar, mas o propósito de Deus nunca se frustra; e quem confia n’Ele encontra direção, consolo e esperança, mesmo quando não entende o caminho.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

19/jul/25

 

ADORAÇÃO NA CAVERNA

Do céu me envia o seu auxílio e me livra.  Salmo 57:3 (NAA)

O Salmo 57 nasce no fundo de uma caverna. Davi, perseguido por Saul, encontra abrigo em meio ao medo e à incerteza. Embora já tivesse sido ungido como rei, agora vive como fugitivo — sem segurança, sem estabilidade, sem respostas. Tudo o que parecia promissor se tornou escuridão. No entanto, ali mesmo, na solidão da caverna, Davi escolhe confiar e louvar. Ele não se entrega ao desespero, mas se agarra à fidelidade de Deus. Sua oração brota da dor, mas é carregada de fé. É uma súplica que nasce da alma.

Em alguns momentos da vida, também nos sentimos assim — presos, isolados, como se estivéssemos no fundo de uma caverna, trancados por dentro. Nessas horas, quando os recursos humanos falham e a saída parece distante, tudo o que conseguimos oferecer é uma oração sussurrada, uma canção tímida que sobe como o clamor de Jonas no ventre do peixe. E, ainda que nos sintamos sem forças, brota em nós o desejo pela luz, pelo ar fresco, pela certeza de que Deus há de nos tirar dali para que possamos respirar novamente e agradecer pelo livramento.

Este salmo é um chamado à reflexão: será que conseguimos louvar quando tudo parece perdido? Será que nossa fé permanece firme no silêncio da caverna? Estar nesse lugar escuro pode nos paralisar. O medo ganha voz, a esperança se enfraquece, e começamos a nos perguntar: Deus está ouvindo? Ele ainda se importa comigo?

Mas há uma certeza que nos sustenta: embora o Senhor seja o Altíssimo, Ele não despreza os humildes. Sua grandeza não o torna distante, pelo contrário, o aproxima. Ele é o Deus que se inclina. Ele está nos céus, sim, mas ouve o gemido que vem das profundezas. Ele escuta a oração do coração quebrantado e enxerga a lágrima do aflito. E é nesse cuidado que encontramos repouso, mesmo quando tudo ao nosso redor parece desabar. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.” Salmo 23:4 (NAA)

Na adversidade, temos um consolo real. Os recursos que mais importam não vêm da terra, mas do céu — e estão sempre disponíveis. O salmista reconhece isso ao afirmar: “Do céu me envia o seu auxílio e me livra.” Davi não dependia de espadas, alianças políticas ou estratégias humanas. Sua confiança estava em Deus, que age mesmo quando tudo parece parado. Em meio à dor, essa certeza se torna abrigo. O céu continua se movendo, mesmo quando a terra parece calada.

Davi também nos ensina algo essencial: o coração é o centro de toda devoção verdadeira. Sem ele, qualquer prática religiosa se torna vazia e mecânica. Deus não se impressiona com rituais repetidos ou palavras bonitas. Ele busca um espírito quebrantado, um coração rendido por inteiro. E foi isso que Davi ofereceu: um louvor que não vinha apenas dos lábios, mas de um coração atravessado pela dor e sustentado pela fé.

Firme está o meu coração”, ele declara. E essa firmeza não é resultado de força própria, mas da ação do Espírito Santo. O coração aqui representa mais do que emoções — é o centro da vontade, dos afetos, da consciência e da fé. É o ponto central da vida interior. Um coração firme é aquele que encontrou descanso, que já não está perdido na tempestade, mas ancorado na rocha. Mesmo no fundo da caverna, esse coração sabe onde repousar.

Que essa palavra nos leve a fazer o mesmo: confiar, mesmo quando tudo ao nosso redor insiste em dizer o contrário. Que possamos aprender com Davi a adorar mesmo na caverna, certos de que o céu continua operando e que Deus, em sua fidelidade, há de nos tirar para a luz.

“Quando a alma encontra abrigo na fidelidade de Deus, até a caverna escura pode se tornar um lugar de adoração.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

18/jul/25

 

NEGUE-SE A SI MESMO — E DESCUBRA A VERDADEIRA LIBERDADE

“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.” Mateus 16:24 (NAA)

Esse versículo, pronunciado pelo próprio Jesus, pode causar certo impacto, especialmente para quem está dando os primeiros passos na fé ou para aqueles que veem a vida cristã como uma caminhada sempre suave, sem grandes exigências. À primeira leitura, negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Cristo soa como algo severo — e de fato é. A cruz aponta para morte, rejeição, humilhação e até maldição. Para quem busca apenas conforto ou uma espiritualidade sem renúncias, essas palavras soam como um fardo pesado demais.

No entanto, o que Jesus está oferecendo aqui não é um fardo — é um convite glorioso. Ele nos chama para algo mais profundo, mais verdadeiro, mais duradouro do que tudo o que este mundo pode oferecer. Esse chamado não é uma perda, mas um ganho. Não é o fim da alegria, mas o caminho para uma alegria mais plena. Para compreender isso, precisamos olhar com mais cuidado e reverência para cada expressão desse convite e nos deixarmos conduzir por ele até vivê-lo em sua plenitude.

Seguir a Cristo é um convite poderoso, mas profundamente desafiador. Jesus nunca prometeu um caminho fácil, sem provações. Ao contrário, o chamado do evangelho exige santidade, renúncia e entrega total. Não há meio termo. Não é possível seguir Jesus com reservas, escolhendo as partes mais agradáveis de Sua mensagem e ignorando as exigências do discipulado. O evangelho nos leva à imitação de Cristo, especialmente naquilo que mais contraria a lógica do mundo: o sofrimento, a humilhação e o sacrifício. “Não comereis dele cru, nem cozido em água, senão assado ao fogo: a sua cabeça com os seus pés e com as suas frissuras.”  Êxodo 12:9 (ARC)

João Wesley, um dos grandes avivalistas da história da Igreja, dizia que a cruz não representa apenas os sofrimentos comuns da vida, mas tudo aquilo que suportamos por amor a Cristo. Ou seja, tomar a cruz significa abraçar as consequências de ser um verdadeiro discípulo — rejeição, incompreensão, perdas e até perseguição. A cruz, portanto, é o preço de quem decide não viver mais para si, mas para Deus.

Esse caminho exige a mortificação do eu. João Calvino dizia que negar a si mesmo é esquecer-se de suas vontades pessoais e se dedicar inteiramente a buscar a vontade de Deus. Para ele, esse era o ponto de partida da verdadeira piedade: morrer para si mesmo e viver exclusivamente para o Senhor. É deixar que Deus governe cada escolha, cada sentimento, cada desejo. É ceder o trono do nosso coração e deixar que Cristo reine.

Em nossos dias, há muitos que apenas simpatizam com Jesus. Apreciam seus ensinamentos, gostam de algumas de suas palavras, mas não estão dispostos a tomar a cruz. Querem a salvação, mas não a renúncia. Desejam os benefícios do Reino, mas sem abrir mão do controle da própria vida. No entanto, seguir a Cristo não é um ato esporádico, mas uma entrega diária. Como afirma o pastor Hernandes Dias Lopes, a cruz simboliza a morte do ego e o senhorio absoluto de Cristo em nossa vida. Quem deseja seguir o Mestre precisa dizer "não" ao pecado, "não" ao orgulho e "sim" à vontade de Deus, ainda que isso custe rejeição e sacrifício. “Jesus lhes disse: — Em verdade, em verdade lhes digo: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em vocês mesmos.” (João 6:53)

John Stott, em sua profunda reflexão sobre a cruz, nos lembra que o verdadeiro discipulado começa com a entronização de Cristo e a destronização do ego. Não há discipulado sem cruz. Não há vida cristã sem a disposição de sofrer por amor a Jesus. Stott dizia que tomar a cruz é aceitar o mesmo caminho que o Salvador percorreu: o caminho da dor, da humildade, da obediência até o fim. Carregar a cruz é, portanto, assumir a morte de Cristo como o modelo da nossa própria existência.

Essa entrega é radical. Jesus não nos chama a um cristianismo confortável, moldado às nossas preferências. Ele nos convida a morrer para nós mesmos, para que vivamos inteiramente para Ele. Isso é mais do que um símbolo religioso; é uma realidade diária. A cruz não é um enfeite, é uma sentença. É o marco de uma nova vida, onde o eu foi crucificado, e Cristo é tudo em nós.

Na prática, isso pode significar abrir mão de uma carreira promissora que contradiz os valores do Reino, perdoar alguém que nos feriu profundamente, permanecer fiel quando seria mais fácil ceder. Pode significar orar por quem nos persegue, dar a outra face, amar os inimigos, servir em silêncio, doar-se sem aplausos. Pode ser suportar com fé uma enfermidade, uma perda, uma solidão — com os olhos fixos naquele que primeiro tomou a cruz por nós.

Viver sob o senhorio de Cristo é uma decisão renovada todos os dias. Não se trata de um ato único, mas de uma vida inteira moldada por esse chamado. Em um mundo que prega o “faça o que quiser” e o “siga seu coração”, o evangelho diz: “negue-se a si mesmo”. E essa é a verdadeira liberdade — morrer para o pecado, viver para Deus.

"O caminho da cruz é o único que conduz à verdadeira vida — uma jornada de renúncia, mas também de plenitude, onde o eu cede lugar a Cristo, e o discipulado se torna a mais bela forma de existir."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

17/jul/25

 

DEUS NOS CONVIDA A VIVER O PRESENTE COM FÉ E LIBERDADE

“Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nenhum deles havia ainda.”  Salmo 139:16 (NAA)

Ao lermos esse versículo, pode surgir a ideia de que tudo em nossa vida já está definido. Que os dias já foram escritos, o caminho traçado, e que não resta muito a fazer. Seria isso um tipo de destino fechado? Um roteiro imutável onde apenas seguimos páginas previamente escritas? À primeira vista, parece que sim. Mas à luz da Palavra e sob a direção do Espírito Santo, entendemos que não é bem assim.

Esse versículo fala de algo grandioso: a onisciência e a soberania de Deus. Ele nos conheceu antes mesmo de existirmos. Cada detalhe da nossa vida já era conhecido por Ele. Isso, porém, não significa que sejamos marionetes nas mãos de um destino inflexível. Pelo contrário. A Bíblia afirma com clareza que somos responsáveis pelas nossas escolhas. E o próprio Deus nos convida a decidir.

Na verdade, duas verdades caminham juntas aqui. A primeira: Deus é soberano e conhece perfeitamente o futuro. A segunda: o ser humano tem responsabilidade moral e liberdade de escolha. Essas duas verdades, embora pareçam paradoxais, não se anulam.

Vejam o que Josué disse ao povo de Israel diante dos dois montes: “Mas, se não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, [...] quanto a mim e à minha casa, serviremos ao Senhor.” Josué 24:15 (NAA)

Josué apresenta uma escolha clara: servir a Deus ou seguir outros caminhos. A decisão era do povo, mas a consequência viria junto com a escolha. Assim, mesmo sabendo de antemão o que o povo faria, Deus lhes concedeu liberdade real. O mesmo se aplica a nós hoje.

Se por um lado Deus conhece todos os nossos dias, nossas decisões, quedas e recomeços — antes mesmo de existirmos — por outro, Ele nos concede a responsabilidade de decidir. O arrependimento, a fé e a mudança só são possíveis porque há liberdade em nosso caminhar. Se tudo estivesse rigidamente determinado, não haveria espaço para um genuíno “arrependam-se e voltem-se para Deus” (Atos 3:19).

Então, o que muda se Deus já sabe tudo? Muda o seguinte: Ele conhece o final da estrada, mas nos permite percorrê-la com liberdade. Deus vê todo o mapa da minha e da tua vida, mas nos dá o volante, o GPS e a consciência. Ele conhece nossas escolhas antes que as façamos, mas não nos força a nenhuma delas. Ele é soberano, mas não é controlador. Ele é Pai, não manipulador.

Essa verdade, longe de ser um peso, é um consolo. Porque se Ele conhece tudo, inclusive nossas fraquezas, e ainda assim nos ama, é sinal de que Sua graça não depende do nosso desempenho. Se Ele viu todos os nossos dias e, mesmo assim, nos chamou para o Seu Reino, é porque Sua misericórdia é maior que nossas falhas. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” 1 João 4:19 (NAA)

E mais: Deus conhece cada desvio do caminho, mas também já preparou cada ponte de retorno. Ele escreve nossa história não para nos prender, mas para nos redimir. Ele sabe onde erramos, mas já preparou onde podemos recomeçar. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8 (NAA)

Sim, Deus escreveu todos os nossos dias. Mas isso não significa que tudo esteja engessado. Significa que Ele está presente em todos eles, que nada escapa de Suas mãos, e que Seus planos são maiores do que conseguimos enxergar. Isso nos encoraja a viver cada dia com fé e responsabilidade.

Portanto, o Salmo 139:16 não nega o livre-arbítrio. Ele afirma que o nosso Deus é soberano e amoroso, capaz de guiar nossa história sem apagar nossas escolhas. Ele nos convida a participar da caminhada, mesmo sabendo de antemão tudo o que faremos. E, mesmo assim, nos acolhe, nos restaura e nos conduz com graça.

Que isso traga alívio à nossa alma. Não estamos presos a um destino cego, nem precisamos temer o amanhã. Caminhamos com um Deus que sabe de tudo, mas que caminha comigo e com você, passo a passo, decisão após decisão, escrevendo uma história de redenção e propósito.

O Deus que escreveu todos os nossos dias não nos aprisiona ao passado, mas nos convida a viver o presente com fé e liberdade, certos de que Seus propósitos nunca falham, mesmo quando nossas escolhas os atravessam.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

16/jul/25

 

ANTES DO SOL, A LUZ

“Então disse Deus: Haja luz! E houve luz.” Gênesis 1:3 (NAA)

Neste último domingo, conversando com um irmão e amigo, falávamos sobre uma pergunta que muitos leitores da Bíblia costumam fazer: como pode haver “tarde e manhã” no primeiro dia da criação, se o Sol e a Lua — que regulam os dias e as noites — só foram criados no quarto dia? Essa dúvida é compreensível, mas a resposta está no próprio modo como Gênesis foi escrito: não como um livro de ciência, mas como uma revelação de Deus para mostrar quem Ele é e como Ele age.

O livro de Gênesis apresenta a criação como um ato ordenado e intencional de Deus. A frase “houve tarde e manhã, o primeiro dia” se repete em todos os dias da criação, como uma espécie de marca de encerramento. Ela mostra que Deus criou tudo com ordem e propósito. Isso não quer dizer, necessariamente, que foram dias como os que conhecemos hoje, com 24 horas baseadas no movimento do Sol, mas sim que Deus organizou a criação em etapas bem definidas.

No idioma hebraico, a frase usada é vayehi-erev vayehi-vôqer, traduzida como “e foi tarde, e foi manhã”. Essa expressão marca o fim de cada etapa da criação. É uma forma de mostrar que cada fase foi concluída com perfeição e que Deus estabeleceu limites claros, mesmo antes dos mecanismos naturais serem formados. Deus criou o tempo antes de criar os instrumentos que marcam o tempo.

A própria luz já existia antes do Sol. O texto é claro: no primeiro dia, Deus disse: “Haja luz — e houve luz.” Isso mostra que a fonte da primeira luz não era o Sol, mas o próprio Deus. Era uma luz real, criada por Ele, que marcou a separação entre o dia e a noite – entre escuridão e claridade – mesmo antes dos astros existirem. Isso nos ensina que Deus é a fonte de tudo — inclusive da luz.

Mais tarde, no quarto dia, Deus cria os luminários — o Sol, a Lua e as estrelas — não como fontes absolutas de luz, mas como instrumentos para governar os dias e as noites, para marcar tempos, estações e anos. Eles passam a cumprir um papel funcional, mas jamais substituem a soberania de Deus como Criador.

Essa verdade também ecoa nas Escrituras do Novo Testamento. Em Apocalipse 22:5, somos informados de que, na cidade celestial, não haverá mais necessidade de Sol ou Lua, “porque o Senhor Deus os iluminará.” Isso mostra que a presença de Deus é, desde sempre, a verdadeira luz. E essa luz não é apenas física. Ela é espiritual, eterna, perfeita.

O Evangelho de João confirma essa revelação: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus... Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens.” (João 1:1–4). João apresenta Jesus como o Logos, o Verbo eterno, e também como a Luz verdadeira. Essa Luz existia antes de qualquer astro e veio ao mundo para iluminar todo ser humano.

Na tradição hebraica, o dia começa ao pôr do sol, o que explica a expressão “tarde e manhã”. Isso mostra que a Bíblia fala com a linguagem da experiência humana, conectando a criação com a forma como o povo hebreu vivia e entendia o tempo. Deus se revela na história, com clareza e propósito, usando uma linguagem compreensível ao coração humano.

Dizer que houve “tarde e manhã” no primeiro dia, mesmo antes do Sol, não é um erro. É uma maneira bela e profunda de afirmar que Deus está acima da criação. Ele não depende dos meios naturais para agir. Ele cria a ordem a partir do caos. Ele ilumina antes de criar o Sol. Ele determina os ciclos antes de estabelecer os relógios.

Portanto, o tempo não começou com o Sol — começou com a Palavra. Antes de qualquer estrela brilhar no céu, a luz de Deus já iluminava tudo. Porque o que dá sentido ao tempo, à existência e à vida, não é o movimento dos astros, mas a presença do Criador. É Ele quem dá forma ao que é informe, luz ao que é escuro, direção ao que está perdido.

Nossa fé não depende de explicações humanas para crer na Palavra. Ela crê porque Deus falou, e isso basta. O relato da criação não é apenas um início, é um convite à confiança. Se no começo Deus disse “Haja luz” e houve luz, então podemos confiar que, mesmo quando tudo parecer escuro, a Sua Palavra ainda tem poder de iluminar.

Antes que o Sol existisse, a luz já brilhava — porque o tempo nasceu da voz de Deus, e não dos ponteiros do mundo. Onde a Palavra se manifesta, a escuridão cede, o caos se organiza e a vida começa.

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

15/jul/25

 

A LINGUAGEM DO CÉU

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor; estes três. Porém o maior destes é o amor.” 1 Coríntios 13:13 (NAA)

Sabemos que Cristo é o centro de todas as coisas: do universo, da igreja, das Escrituras e do nosso coração. Para revelar a profundidade desse mistério e expressar de forma palpável a essência de Seu caráter, Deus escolheu uma palavrinha bem pequena: amor.

O amor é o fundamento de tudo, porque Deus não apenas ama — Ele é amor. Cada ação do Pai, cada plano traçado, cada promessa feita e até cada correção recebida tem como origem essa fonte eterna. Não há nada que Deus faça fora da motivação do amor. Mesmo quando não entendemos Seus caminhos, podemos ter certeza de que eles estão revestidos desse amor que tudo sabe, tudo vê e tudo deseja restaurar.

A Bíblia inteira carrega o perfume do amor de Deus. Ele está presente não apenas nos textos mais conhecidos, mas em cada detalhe da revelação divina. O amor pulsa nas entrelinhas da Lei, ecoa nas advertências dos profetas, resplandece nos evangelhos e se prolonga até as últimas páginas do Apocalipse. Toda a Escritura é, na verdade, uma longa carta de amor — escrita por um Pai que nunca desistiu dos filhos.

Dias atrás, li um texto que chamava 1 Coríntios 13 de o “hino do amor cristão”. E é exatamente isso. Um cântico que exalta o amor que nasce em Deus Pai e se encarna perfeitamente em Jesus, seu Filho. Nesse capítulo, Paulo não coloca o amor ao lado dos dons espirituais. Ele deixa claro que os dons são diversos e dados conforme a vontade soberana de Deus. Cada dom tem seu tempo, seu propósito, sua medida. Nem todos terão os mesmos dons — mas todos são chamados ao amor.

O amor, ao contrário dos dons, não é uma concessão divina ocasional — é uma exigência constante. Ele não está reservado a alguns, nem limitado a determinadas funções. O amor é o caminho mais excelente. Ele não é mais um dom, mas a base que sustenta todos os outros. Porque sem amor, todos os dons se tornam vazios. Falar bonito não adianta. O conhecimento se torna soberbo. A fé se torna fria. A generosidade se transforma em vanglória. Tudo perde o sentido quando o amor não está presente.

Esse amor não é apenas uma virtude bonita. Ele é uma prática diária, uma escolha constante, uma forma de viver que espelha o caráter de Cristo. O amor é paciente, é bondoso. Não inveja, não se orgulha, não maltrata. Não busca os próprios interesses, não se irrita com facilidade, não guarda rancor. Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Esse amor não é humano — é divino. E por isso mesmo, não se explica, vive-se.

Não pretendo, aqui, tentar definir o amor, pois ele é maior do que qualquer explicação. O amor verdadeiro é inexplicável porque ele se revela na cruz, não no dicionário. Ele não cabe em teorias ou discursos. Ele se mostra no silêncio, na entrega, na compaixão, no perdão. E quem experimenta o amor de Deus não se preocupa em explicá-lo — apenas em reparti-lo.

O amor é como um espelho da presença de Deus em nós. Ele se manifesta em um abraço de mãe, no cuidado silencioso de um filho, na comunhão da igreja, no perdão oferecido a quem nos fere. Amor que acolhe, que espera, que insiste. Amor, amor, amor... em tantas formas, vozes e rostos. Mas em sua origem, há sempre uma só fonte: Deus. Porque “todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 João 4:7).

A fé nos faz olhar para o alto. A esperança nos faz olhar para frente. Mas o amor nos ensina a olhar para o lado — para o próximo. A fé nos liga a Deus, a esperança nos sustenta, mas o amor nos torna semelhantes a Cristo. E é por isso que ele é o maior. Porque um dia, quando estivermos diante de Deus, não precisaremos mais de fé — pois O veremos face a face. Não precisaremos mais de esperança — pois tudo estará plenamente cumprido. Mas o amor continuará. Porque o amor é eterno. Ele é a linguagem do céu.

E, diante de tantos idiomas que se falam na terra, eu me pergunto: qual será a língua que falaremos no céu? Eu respondo: a linguagem do amor.

 “O amor não é apenas o maior dos dons — é a única linguagem que continuará sendo falada quando a fé for vista e a esperança for cumprida.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

14/jul/25

 

UNIDADE: UM CHAMADO À PAZ

“Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.”
Efésios 4:3 (NAA)

Não sei ao certo quantas denominações cristãs existem hoje no Brasil. Mas sei que é um número expressivo. Em muitos bairros, encontramos diversas igrejas espalhadas por ruas inteiras — algumas em casas, outras em pequenas garagens adaptadas — onde, em sua maioria, há pessoas sinceras que proclamam o nome de Jesus como Salvador.

No entanto, o que preocupa não é o número de igrejas, mas a rivalidade que, por vezes, surge entre elas. Cada uma defende sua doutrina como sendo a mais fiel às Escrituras. E embora muitas dessas interpretações tenham fundamento bíblico, a maneira como são tratadas pode gerar disputas, e não unidade.

No tempo dos apóstolos, a preocupação de Paulo não era com o número de congregações, mas com a concordância no falar e a ausência de divisões entre os irmãos. Ele exorta os cristãos de Corinto a buscarem unidade de pensamento e parecer, como vemos em 1 Coríntios 1:10. Essa preocupação continua profundamente atual. O Espírito Santo ainda nos chama à unidade — não à uniformidade forçada, mas à comunhão verdadeira, baseada no amor e na maturidade espiritual.

A igreja de Corinto é um retrato claro dos riscos da desunião. Ali, grupos se formavam em torno de líderes humanos: uns diziam ser de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro, e outros ainda de Cristo — como se Cristo estivesse dividido. Paulo reage com firmeza. A fé não está apoiada em homens, mas no Cristo crucificado. E quando perdemos isso de vista, abrimos espaço para orgulho, competição e disputas que enfraquecem o corpo – que é a igreja.

Esse chamado à pureza no falar e à verdade que edifica é urgente. Precisamos abandonar discursos marcados pela vaidade, pela defesa cega de posições e pela falta de sensibilidade espiritual. As palavras revelam o coração, e o coração da igreja precisa estar em sintonia com o coração do Pai.

Hoje, mais do que nunca, é necessário vigilância no que dizemos — seja nas redes sociais, nas conversas nos corredores da igreja ou nos encontros informais. Que nossas palavras sirvam para reconciliar, edificar e promover a paz, e não para levantar muros entre irmãos que servem ao mesmo Senhor.

A divisão entre o povo de Deus se tornou algo visível demais. Paulo não ignorava esse risco. Ao usar a palavra grega schismata (divisões), ele falava de fraturas, rupturas dentro da igreja. Ele enxergava, já nos primeiros tempos da igreja, o perigo de preferências humanas se sobreporem à centralidade de Cristo. E isso enfraquece o testemunho da igreja no mundo.

Para Paulo, a unidade da igreja é mais do que uma ideia bonita: é uma expressão do próprio evangelho. Cristo não morreu para que formássemos grupos rivais, mas para fazer de nós um só corpo. Mesmo com diferentes dons, formas de adoração e estilos de culto, somos todos parte de um mesmo corpo — o corpo de Cristo.

Divisões internas prejudicam a comunhão, entristecem o Senhor e afastam aqueles que estão buscando a fé. Paulo não nega a diversidade — ela é natural e até saudável —, mas nos convida a preservar a unidade no essencial, a cultivar o respeito nas diferenças e a manter o amor acima de tudo.

O que está faltando entre nós, povo de Deus?

Talvez o primeiro passo seja cuidar do modo como falamos. Que nossas palavras sejam temperadas com graça e verdade, refletindo o caráter de Cristo e não as paixões humanas. E como consequência, devemos buscar com sinceridade a unidade, reconhecendo que pequenas diferenças não podem se transformar em grandes muralhas entre irmãos que caminham rumo ao mesmo céu.

Afinal, quantas placas denominacionais haverá no céu? Você já parou para pensar nisso? O céu não será dividido por nomes de igrejas, doutrinas secundárias ou preferências litúrgicas. Lá, só haverá um povo: o povo remido pelo sangue do Cordeiro. E se vamos viver juntos por toda a eternidade, por que não começamos a viver em unidade desde já?

“A verdadeira unidade não se constrói com igualdade absoluta, mas com corações rendidos ao mesmo Senhor, que escolhem amar acima de qualquer diferença.”

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

13/jul/25

 

UM CORAÇÃO FIEL A DEUS

“Mas é judeu quem o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no Espírito, e não segundo a letra; e o louvor que recebe não vem dos homens, mas de Deus.” Romanos 2:29 (NAA)

Nem todo aquele que frequenta uma igreja, conhece a Bíblia ou participa dos cultos diários está, de fato, salvo. Essa é uma verdade que precisamos encarar com seriedade. A fé cristã não é apenas um conjunto de práticas externas, mas uma transformação profunda no interior do ser humano. Foi exatamente isso que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos de Roma, alertando sobre o perigo da falsa religião — aquela que impressiona por fora, mas está vazia por dentro.

Jesus, durante seu ministério, confrontou religiosos que viviam de aparências. Chamou-os de "sepulcros caiados": belos por fora, mas por dentro cheios de impureza e hipocrisia. Não é difícil encontrar, ainda hoje, pessoas que confundem religiosidade com conversão.

Conhecer versículos, ter um cargo na igreja ou ter passado pelas águas do batismo não são, por si só, sinais de um coração transformado. Como Jesus disse em Mateus 7:21: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” Entre falar e fazer a vontade de Deus há uma grande distância que só pode ser vencida por uma fé viva e verdadeira.

Jesus também contou a parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:9-14) para denunciar a atitude de quem se julga espiritualmente superior aos outros. O fariseu era fiel aos costumes, jejuava, ofertava, mas seu coração estava cheio de orgulho. Já o publicano, quebrantado e consciente de sua condição, foi quem saiu justificado diante de Deus. A verdadeira espiritualidade não se mede por aparência, mas pela humildade e sinceridade do coração.

Desde os tempos antigos, Deus já deixava claro que não se impressiona com o que os olhos humanos veem. Quando Samuel foi ungir um novo rei para Israel, ele se surpreendeu com a aparência dos filhos de Jessé. Mas o Senhor o corrigiu: “O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração” (1 Samuel 16:7).

O profeta Ezequiel também falou de um coração novo: “Dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo” (Ezequiel 36:26). Isso aponta para a verdadeira conversão, aquela que não apenas modifica comportamentos, mas transforma o ser por dentro.

Mesmo homens de Deus como Davi pecaram. O Salmo 51 é um clamor sincero de arrependimento após ele cometer um erro grave. A Bíblia não esconde seus tropeços, justamente para nos ensinar que o mais importante não é uma vida sem falhas, mas um coração que se quebranta e se volta para Deus. Quando o coração está errado, tudo mais está comprometido — ainda que as obras pareçam corretas.

Em Isaías 1:13, Deus repreende o povo por manter os rituais e festas enquanto o coração permanecia distante. Ele rejeita toda religiosidade vazia. O mesmo aconteceu em 2 Crônicas 30, quando o povo celebrou a Páscoa sem a purificação devida. Fizeram algo aparentemente bom, mas fora do padrão de sinceridade exigido por Deus.

Há caminhos que aos olhos humanos parecem certos, mas o seu fim é de morte (Provérbios 14:12). Por isso, devemos nos lembrar de que a fé verdadeira não busca o aplauso dos homens, mas o louvor de Deus. A fé genuína que Deus aprova começa no íntimo — onde só Ele vê.

A Bíblia nos convida a examinar o nosso próprio coração. O apóstolo Paulo escreveu: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” (1 Coríntios 11:28). Um dia, todos prestaremos contas diante do Senhor. Que até lá, possamos cuidar do nosso coração, tratando dele com arrependimento, fé e sujeição. Porque é ali, no coração, que a obediência sincera nasce e agrada ao Senhor.

"A verdadeira fé não se mostra nas mãos que levantamos, mas no coração que se rende. Deus vê o que os olhos não enxergam — e é ali, no secreto, que Ele encontra os Seus."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

12/jul/25

 

365 PASSOS COM DEUS

“Enoque andou com Deus; e já não era, porque Deus o tomou para si.” Gênesis 5:24 (NAA)

Quando lemos a genealogia em Gênesis 5, encontramos uma lista de nomes, idades e mortes. É como uma sequência previsível da vida: nasceu, gerou filhos e morreu. Mas, no meio dessa rotina de finitude, surge um nome que quebra esse padrão: Enoque.

A Bíblia diz que Enoque “andou com Deus”. E depois disso, não se fala em sua morte, mas sim que “Deus o tomou para si”. O autor de Hebreus explica melhor: “Pela fé, Enoque foi levado, de modo que não experimentou a morte; e não foi achado, porque Deus o havia levado.” (Hebreus 11:5). Mas o que significa “andar com Deus”?

Andar com Deus é viver em comunhão constante com Ele, como quem caminha lado a lado com um amigo. É querer agradá-Lo em tudo, depender d’Ele no dia a dia, valorizar Sua presença e obedecer à Sua vontade com amor. Mais do que seguir uma religião, é ter um relacionamento real com o Senhor, alinhando nossos passos aos d’Ele. Em outras palavras, é conhecer o plano que Deus tem para sua vida — e caminhar dentro desse plano com fé e confiança.

E esse andar diário fica ainda mais simbólico quando observamos a idade de Enoque: ele viveu 365 anos. É como se cada ano representasse um dia — 365 passos ao lado de Deus. Um ano para cada dia. Um passo de fé a cada manhã. Um caminho diário de comunhão.

Não sabemos quantas revelações Enoque recebeu, nem muitos detalhes sobre sua rotina familiar. Mas sabemos o mais importante: ele andou com Deus. E isso fez toda a diferença. Enquanto tantos nomes daquela genealogia terminaram com a mesma frase — “e morreu” — o nome de Enoque ficou marcado por uma vida que agradou ao Senhor.

Essa é uma lição simples e poderosa: Deus não está procurando pessoas extraordinárias, mas pessoas fiéis que andem com Ele todos os dias. A fé de Enoque era prática, próxima, vivida no cotidiano. Não era algo de aparência, mas de comunhão verdadeira.

Além disso, a Bíblia revela em Judas 1:14-15 que Enoque também foi um profeta. Ele anunciou a vinda do Senhor com milhares de seus santos para julgar os ímpios. Isso mostra que, mesmo em uma época tão antiga, Enoque tinha consciência da justiça de Deus e do juízo que viria. Ele era espiritual e não se calava diante do mal.

Viver como Enoque é um convite à fidelidade constante. Muitas vezes, buscamos experiências fortes, momentos marcantes ou grandes realizações. Mas Enoque nos ensina que o mais importante é andar com Deus hoje. Um passo de cada vez. Uma conversa sincera. Um coração sensível à voz do Espírito. Uma vida que agrada a Deus, mesmo que ninguém veja.

Talvez você nunca seja lembrado por grandes feitos ou aplaudido por multidões. Mas, se andar com Deus, isso será o bastante. Porque, no fim, o que define a nossa eternidade não é o quanto fomos vistos, mas com quem caminhamos. Há uma frase dos irmãos morávios que expressa bem essa verdade: “Podemos não saber para onde vamos, mas sabemos quem está nos guiando.” E isso é tudo o que precisamos.

Hoje, Deus te dá mais um dia. Um “ano” simbólico, como os de Enoque. Um novo passo no caminho com o Senhor. Não desperdice essa oportunidade. Que sua vida seja, como a dele, uma caminhada constante com o Deus que recompensa os que O buscam (Hebreus 11:6).

"Mais importante do que fazer grandes coisas para Deus é andar com Ele todos os dias — porque quem anda com Deus, um dia será levado por Ele."

Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz.

Pr. Décio Fonseca

11/jul/25

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