ALEGRIA E
TRISTEZA: QUANDO A GLÓRIA SE VAI
“A glória deste novo templo será maior do que a do
antigo”, diz o Senhor dos Exércitos. “E neste lugar estabelecerei a paz”,
declara o Senhor dos Exércitos. (Ageu 2:9 – NVI)
A Bíblia é repleta de contrastes que revelam o coração
humano e a fidelidade imutável de Deus. Um dos mais marcantes está entre dois
eventos separados por quase quatro séculos, mas profundamente conectados: a
dedicação do templo por Salomão, em 2 Crônicas 7, e a destruição desse mesmo
templo sob o reinado de Zedequias, em 2 Reis 25.
A narrativa de 2 Crônicas 7:1-3 nos conduz a um momento de
glória e profunda emoção. Ao final da construção do templo, Salomão ora, e o
Senhor responde de forma extraordinária: o fogo desce do céu e consome o
holocausto, e a glória de Deus enche o templo. A presença divina era tão
intensa que os sacerdotes não conseguiram entrar. O povo inteiro, prostrado com
o rosto em terra, adorava e dizia: “Louvem o Senhor, porque ele é bom; o
seu amor dura para sempre.” Era um culto marcado por reverência,
gratidão e exaltação.
A celebração não foi breve: durou sete dias, seguida por
mais sete dias da Festa das Cabanas. Gente de todos os cantos de Israel havia
se reunido em Jerusalém. Os levitas tocavam trombetas, os sacerdotes serviam, o
povo adorava. Tudo estava em ordem, tudo em harmonia. No fim, cada um voltou
para sua casa com alegria no coração, porque o Senhor havia feito grandes
coisas por seu povo. “Sirvam ao Senhor com temor; exultem com tremor.”
(Salmos 2:11 – NVI)
Contudo, cerca de 380 anos depois, a mesma cidade vive um
cenário oposto. Em 2 Reis 25, Jerusalém está sitiada, seus muros derrubados, o
templo incendiado. O povo é levado cativo, o rei Zedequias é humilhado, seus
filhos são mortos diante de seus olhos, e ele próprio teve seus olhos furados
e, ao final, é levado acorrentado para a Babilônia. Aquele que governava a
cidade santa termina seus dias como prisioneiro de uma nação pagã. “Se
vocês me abandonarem e adorarem outros deuses [...] eu arrancarei Israel da
minha terra e rejeitarei este templo que consagrei ao meu nome.” (2
Crônicas 7:19-20 – NVI)
A pergunta inevitável é: como um povo que viu tamanha
glória pôde cair tão profundamente na ruína?
A resposta está na desobediência progressiva e no
afastamento da Palavra de Deus. Ao longo dos séculos, Israel oscilou entre
períodos de fidelidade e longos ciclos de idolatria, injustiça, corrupção e
negligência espiritual. O templo construído com tanta dedicação acabou se
tornando símbolo de religiosidade vazia, pois o povo se iludia com a presença
do edifício, mas não vivia em aliança com o Deus que ali habitava. “Obedeçam-me,
e eu serei o seu Deus e vocês serão o meu povo. Andem em todo o caminho que eu
ordeno a vocês, para que tudo lhes vá bem.” (Jeremias 7:23 – NVI)
No caso de Zedequias, o último rei de Judá, as Escrituras
são claras: ele não ouviu a voz de Deus. Apesar das advertências firmes do
profeta Jeremias, que o exortava a submeter-se ao juízo de Deus por meio da
Babilônia, Zedequias escolheu a resistência política em vez da submissão
espiritual. Foi fraco diante dos líderes, vacilante diante da Palavra e
insensível ao mover do Espírito. “Zedequias [...] não se humilhou diante
do profeta Jeremias, porta-voz do Senhor.” (2 Crônicas 36:12 – NVI)
O contraste entre o tempo de Salomão e o tempo de Zedequias
é, na verdade, um reflexo do coração humano. Deus permanece o mesmo: santo, bom
e fiel. Mas os homens, quando se afastam da obediência, colhem os frutos da sua
rebelião.
Esse alerta ecoa com força em nossos dias. Não basta termos
templos bonitos, cultos animados e festas religiosas. A glória de Deus não
habita em estruturas, mas em corações obedientes e quebrantados. Assim como o
templo foi um dia cheio de luz e depois entregue às chamas, nossas igrejas,
famílias e nações também podem experimentar a perda da presença divina quando a
obediência é substituída pela indiferença.
Por isso, cabe a nós refletir com seriedade: estamos
cultivando uma adoração viva ou apenas mantendo formas? Estamos ouvindo os
Jeremias que Deus tem levantado ou fechando os ouvidos porque suas palavras não
são populares? Estamos mais preocupados com a aparência de piedade do que com a
realidade da santidade? “Eles se aproximam de mim com a boca e me honram
com os lábios, mas o coração está longe de mim.” (Isaías 29:13 – NVI)
Para que a glória de Deus não se afaste de nosso meio,
precisamos: Ouvir e obedecer à Palavra com temor; valorizar a presença de Deus
acima de métodos ou tradições; promover arrependimento genuíno e contínuo e
manter viva a chama da adoração verdadeira, que brota do coração. “Se o
meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar, buscar a minha face e
se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e
curarei a sua terra.” (2 Crônicas 7:14 – NVI)
A história de Salomão e Zedequias nos mostra que a alegria
da presença de Deus pode ser substituída pela tristeza da sua ausência. Mas
também nos ensina que a escolha está diante de nós. Que não sejamos como
Zedequias, que endureceu o coração, mas como Salomão e o povo naquele dia
glorioso: sensíveis, reverentes e profundamente conscientes de que Deus é bom,
e o seu amor dura para sempre.
Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça
e paz.
Pr. Décio Fonseca
01/ter/abr/25